São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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China executa britânico e repele críticas internacionais

Londres e familiares de condenado por tráfico alegam que ele tinha problemas mentais

"Estou particularmente preocupado que nenhuma avaliação de saúde mental foi tomada", disse o premiê britânico, Gordon Brown

RAUL JUSTE LORES
EM TAIPÉ

A China executou ontem um cidadão britânico condenado à pena de morte por tráfico de drogas. A família e o governo britânico alegavam que ele tinha problemas mentais, mas a Justiça chinesa impediu a realização de um exame psicológico.
Akmal Shaikh, 53, foi preso em 2007 portando uma mala com quatro quilos de heroína em Urumqi, extremo oeste da China, vindo do Tadjiquistão. Em seu primeiro julgamento, que durou meia hora, em 2008, Shaikh disse que foi para a China gravar uma música para promover a paz mundial que o transformaria em astro pop.
Ele era morador de rua na Polônia quando recebeu de dois traficantes tadjiques a oferta de ir à China. Na segunda vez que foi ouvido pela Justiça chinesa, os juízes riram durante sua declaração de 50 minutos, segundo advogados nomeados pelo consulado britânico. Uma apelação foi rejeitada pela Suprema Corte chinesa, que referendou a execução no dia 24 de dezembro.
O premiê britânico, Gordon Brown, condenou a execução. "Estou particularmente preocupado que nenhuma avaliação de saúde mental foi tomada", declarou. "Também estou chocado e decepcionado que nossos pedidos por clemência não tenham sido atendidos."
Nascido no Paquistão, Shaikh emigrou aos 11 anos ao Reino Unido com a família e foi taxista em Londres. Ele não tinha antecedentes criminais.
Dois primos de Shaikh o visitaram um dia antes da execução e contaram para ele que seria executado. "Ficamos atônitos ao saber que a Justiça chinesa esperava que ele mesmo fornecesse provas de seu estado mental. Ele era bipolar, tinha visão distorcida da realidade, incluída sua condição", disse o primo Soohail Shaikh.
Jiang Yu, porta-voz da Chancelaria chinesa, disse que "ninguém tem o direito de falar mal da soberania jurídica da China". "Expressamos nossa insatisfação e oposição às acusações sem fundamento do Reino Unido. Esperamos que os britânicos corrijam seus erros e evitem prejudicar as relações bilaterais", disse Jiang.
O governo chinês não deu detalhes sobre a execução, mas acredita-se que foi com injeção letal. Até 1997, era comum que o condenado morresse com um tiro na cabeça e que sua família pagasse o projétil. As execuções aconteciam muitas vezes ao ar livre, diante de multidões. Tais práticas já estão em desuso.
A mídia estatal chinesa acusou a "imprensa ocidental" de politizar a aplicação da pena capital e noticiou que não havia evidências de que o condenado sofria de distúrbios mentais.
O jornal "Diário do Povo", do Partido Comunista, disse que os "ocidentais querem ser tratados de forma diferente na China". Outro diário estatal, "Global Times", evocou as Guerras do Ópio (a primeira entre 1839 e 1842, e a segunda de 1856 a 1860): "o caso traz de volta a memória negra da Guerra do Ópio iniciada pelos britânicos e que mergulhou a China em um período de pesadelo".
A Anistia Internacional registrou 1.718 execuções em 2008 (três vezes mais que todo o resto do mundo junto), mas outras organizações calculam que o número deve superar os 5.000. O governo não revela a estatística oficial sob alegação de "segredo de Estado".
De acordo com a ONG Reprieve, que faz campanha internacional em prol de prisioneiros condenados à morte ao redor do mundo, a execução de Shaikh foi a primeira de um cidadão europeu realizada na China em 50 anos.


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