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China executa britânico e repele críticas internacionais
Londres e familiares de condenado por tráfico alegam que ele tinha problemas mentais
"Estou particularmente preocupado que nenhuma avaliação de saúde mental foi tomada", disse o premiê britânico, Gordon Brown
RAUL JUSTE LORES
EM TAIPÉ
A China executou ontem um
cidadão britânico condenado à
pena de morte por tráfico de
drogas. A família e o governo
britânico alegavam que ele tinha problemas mentais, mas a
Justiça chinesa impediu a realização de um exame psicológico.
Akmal Shaikh, 53, foi preso
em 2007 portando uma mala
com quatro quilos de heroína
em Urumqi, extremo oeste da
China, vindo do Tadjiquistão.
Em seu primeiro julgamento,
que durou meia hora, em 2008,
Shaikh disse que foi para a China gravar uma música para promover a paz mundial que o
transformaria em astro pop.
Ele era morador de rua na
Polônia quando recebeu de
dois traficantes tadjiques a
oferta de ir à China. Na segunda
vez que foi ouvido pela Justiça
chinesa, os juízes riram durante sua declaração de 50 minutos, segundo advogados nomeados pelo consulado britânico. Uma apelação foi rejeitada
pela Suprema Corte chinesa,
que referendou a execução no
dia 24 de dezembro.
O premiê britânico, Gordon
Brown, condenou a execução.
"Estou particularmente preocupado que nenhuma avaliação
de saúde mental foi tomada",
declarou. "Também estou chocado e decepcionado que nossos pedidos por clemência não
tenham sido atendidos."
Nascido no Paquistão,
Shaikh emigrou aos 11 anos ao
Reino Unido com a família e foi
taxista em Londres. Ele não tinha antecedentes criminais.
Dois primos de Shaikh o visitaram um dia antes da execução e contaram para ele que seria executado. "Ficamos atônitos ao saber que a Justiça chinesa esperava que ele mesmo
fornecesse provas de seu estado mental. Ele era bipolar, tinha visão distorcida da realidade, incluída sua condição", disse o primo Soohail Shaikh.
Jiang Yu, porta-voz da Chancelaria chinesa, disse que "ninguém tem o direito de falar mal
da soberania jurídica da China". "Expressamos nossa insatisfação e oposição às acusações sem fundamento do Reino
Unido. Esperamos que os britânicos corrijam seus erros e evitem prejudicar as relações bilaterais", disse Jiang.
O governo chinês não deu detalhes sobre a execução, mas
acredita-se que foi com injeção
letal. Até 1997, era comum que
o condenado morresse com um
tiro na cabeça e que sua família
pagasse o projétil. As execuções
aconteciam muitas vezes ao ar
livre, diante de multidões. Tais
práticas já estão em desuso.
A mídia estatal chinesa acusou a "imprensa ocidental" de
politizar a aplicação da pena capital e noticiou que não havia
evidências de que o condenado
sofria de distúrbios mentais.
O jornal "Diário do Povo", do
Partido Comunista, disse que
os "ocidentais querem ser tratados de forma diferente na
China". Outro diário estatal,
"Global Times", evocou as
Guerras do Ópio (a primeira
entre 1839 e 1842, e a segunda
de 1856 a 1860): "o caso traz de
volta a memória negra da Guerra do Ópio iniciada pelos britânicos e que mergulhou a China
em um período de pesadelo".
A Anistia Internacional registrou 1.718 execuções em
2008 (três vezes mais que todo
o resto do mundo junto), mas
outras organizações calculam
que o número deve superar os
5.000. O governo não revela a
estatística oficial sob alegação
de "segredo de Estado".
De acordo com a ONG Reprieve, que faz campanha internacional em prol de prisioneiros condenados à morte ao redor do mundo, a execução de Shaikh foi a primeira de um cidadão europeu realizada na
China em 50 anos.
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