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Europeus terão de colaborar, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O alto comparecimento às urnas no Iraque foi uma vitória para
o presidente George W. Bush e
deverá fazer que líderes europeus
que foram contrários à Guerra do
Iraque tenham menos dificuldade
em colaborar com o futuro governo do país, pois atenuará a pressão popular européia contra isso.
A análise é de Charles Kupchan,
diretor de estudos europeus do
Council on Foreign Relations, que
foi membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA durante
o governo do democrata Bill Clinton (1993-2001) e é autor de, entre
outros, "The End of the American
Era: U.S. Foreign Policy and the
Geopolitics of the Twenty-First
Century" (o fim da era americana:
a política externa dos EUA e a
geopolítica do século 21).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - O alto comparecimento às
urnas foi uma vitória para Bush?
Charles Kupchan - Indubitavelmente. Deve-se, todavia, ressaltar
que ele não resolve os graves problemas do Iraque, que será necessário inserir os árabes sunitas no
processo político iraquiano e que
a violência persistirá, podendo até
intensificar-se a curto prazo.
Por outro lado, é claro que se
trata de um triunfo para o governo americano. Este, desde o início
de 2003, afirma que os iraquianos
desejam a consolidação da democracia no país. Se os xiitas perceberem que, para evitar a guerra civil, será preciso admitir a participação da comunidade sunita na
redação da Constituição e no futuro governo, o caminho para
uma melhora significativa da situação estará aberto.
Folha - Os países europeus que se
opuseram à guerra e à ocupação
serão obrigados a levar em consideração o sucesso da votação?
Kupchan - Trata-se de uma situação delicada para alguns países, como a França, a Alemanha, e
a Rússia. Vladimir Putin [presidente russo] chegou até a manifestar sua preocupação com a lisura do pleito iraquiano.
Porém agora é impossível não
levar em conta que cerca de 60%
dos eleitores inscritos no Iraque
compareceram às urnas. Esse é
um percentual significativo para
qualquer país que deseja tornar-se democrático.
Assim, os europeus deverão reconhecer que as eleições constituíram um passo positivo para a
estabilização e terão de colaborar.
À medida que as novas autoridades iraquianas ganharem mais
poder e os EUA perderem influência, os Estados europeus
passarão a aproximar-se desses líderes, e as relações entre o Iraque
e a Europa melhorarão.
Folha - Isso servirá para atenuar a
tensão entre os países europeus
que se opuseram à guerra, como a
França e a Alemanha, e os EUA?
Kupchan - É provável que isso
ocorra. Ambas as partes já se
mostraram dispostas a abrandar
as tensões transatlânticas. Os
franceses já fizeram alguns gestos
nessa direção, como a recepção
dada ao presidente do Iraque
[Ghazi al Yawer] por Jacques Chirac [presidente francês]. E Bush
visitará a Otan [aliança militar
ocidental] e a União Européia em
fevereiro, em Bruxelas.
O desfecho das eleições iraquianas tira certa pressão das costas
dos líderes europeus, pois eles poderão dizer à sua população que
uma maior colaboração com o
Iraque é necessária para que os
políticos eleitos pelo povo possam
controlar a situação. Além disso, a
disseminação do terror iraquiano
pelo Oriente Médio e até pela Europa não interessa a ninguém.
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