São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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LONGE DE CASA

Curdo vota por Estado independente; já xiita defende regime teocrático

Nos EUA, eleitores mostram divisões

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

Os iraquianos que compareceram para votar no centro eleitoral instalado no subúrbio da capital americana formaram uma pequena amostra da forte divisão étnico-religiosa no país.
A Folha acompanhou ontem o último dos três dias em que as urnas estiveram abertas para os cerca de 20 mil iraquianos da região nordeste dos EUA, dos quais apenas 2.000 se registraram para votar. No segundo dia, o comparecimento dos eleitores aptos a votar estava em 74,4%.
O centro eleitoral foi montado no depósito de um hotel em New Carrollton (Maryland). A polícia afunilou a avenida diante do hotel e revistava eleitores e jornalistas com detectores de metal.
Na entrada do prédio, cinco manifestantes de Washington tentavam convencer eleitores iraquianos a assinar um manifesto exigindo eleições na capital americana, que não tem representantes no Congresso.
Segurando um cartaz: "Estou com inveja", um manifestante tentava explicar a um eleitor curdo que, ao contrário dele, não podia votar para eleger um congressista.
"Você não sabe do que está falando", respondeu sem chegar a parar o corretor de imóveis Farhad Mekael, 30. "Vivo aqui há sete anos e nunca vi um país tão democrático." Ele diz "apoiar 100%" a criação de um país independente. "É por isso que estou aqui."
Dentro do prédio, metade dos cerca de 30 eleitores eram curdos, identificáveis, em alguns casos, pelas roupas -a calça curda é quase idêntica a uma bombacha gaúcha. Os quatro curdos entrevistados defenderam a independência.
Em outro local, xiitas conversavam animadamente, alguns enrolados na bandeira iraquiana. Não havia sunitas no local, embora a organização ter dito que "alguns apareceram".
Vestido em trajes religiosos, o clérigo Ahmad Alhaeri, 45, defendeu um regime teocrático moderado "inspirado nos profetas e respeitando o direito das mulheres e das outras religiões". Como os outros dois xiitas ouvidos, disse que votou na Lista 169, apoiada por Ali al Sistani, o principal líder xiita iraquiano.
Havia de comum entre xiitas e curdos o ódio a Saddam Hussein e o dedo azul comprovando o voto depositado. Já as expectativas apontam rumos diferentes e, aparentemente, incompatíveis.


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