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LONGE DE CASA
Curdo vota por Estado independente; já xiita defende regime teocrático
Nos EUA, eleitores mostram divisões
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
Os iraquianos que compareceram para votar no centro eleitoral instalado no subúrbio da
capital americana formaram
uma pequena amostra da forte
divisão étnico-religiosa no país.
A Folha acompanhou ontem
o último dos três dias em que as
urnas estiveram abertas para os
cerca de 20 mil iraquianos da região nordeste dos EUA, dos
quais apenas 2.000 se registraram para votar. No segundo dia,
o comparecimento dos eleitores
aptos a votar estava em 74,4%.
O centro eleitoral foi montado
no depósito de um hotel em
New Carrollton (Maryland). A
polícia afunilou a avenida diante do hotel e revistava eleitores e
jornalistas com detectores de
metal.
Na entrada do prédio, cinco
manifestantes de Washington
tentavam convencer eleitores
iraquianos a assinar um manifesto exigindo eleições na capital americana, que não tem representantes no Congresso.
Segurando um cartaz: "Estou
com inveja", um manifestante
tentava explicar a um eleitor
curdo que, ao contrário dele,
não podia votar para eleger um
congressista.
"Você não sabe do que está falando", respondeu sem chegar a
parar o corretor de imóveis Farhad Mekael, 30. "Vivo aqui há
sete anos e nunca vi um país tão
democrático." Ele diz "apoiar
100%" a criação de um país independente. "É por isso que estou aqui."
Dentro do prédio, metade dos
cerca de 30 eleitores eram curdos, identificáveis, em alguns
casos, pelas roupas -a calça
curda é quase idêntica a uma
bombacha gaúcha. Os quatro
curdos entrevistados defenderam a independência.
Em outro local, xiitas conversavam animadamente, alguns
enrolados na bandeira iraquiana. Não havia sunitas no local,
embora a organização ter dito
que "alguns apareceram".
Vestido em trajes religiosos, o
clérigo Ahmad Alhaeri, 45, defendeu um regime teocrático
moderado "inspirado nos profetas e respeitando o direito das
mulheres e das outras religiões".
Como os outros dois xiitas ouvidos, disse que votou na Lista
169, apoiada por Ali al Sistani, o
principal líder xiita iraquiano.
Havia de comum entre xiitas e
curdos o ódio a Saddam Hussein e o dedo azul comprovando
o voto depositado. Já as expectativas apontam rumos diferentes
e, aparentemente, incompatíveis.
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