São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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ELEIÇÕES ARMADAS

Comunidade sabe que não voltará a controlar país e está unida em torno da oposição à ocupação

Sunitas votaram mesmo sem chance de chegar ao poder

DO "INDEPENDENT", EM BAGDÁ

Os eleitores sunitas votaram ontem em maior número do que o esperado. Em Baquba, cidade a nordeste de Bagdá em que são majoritários, multidões a caminho das urnas estavam confiantes o bastante para bater palmas.
Em Mossul, ao norte, autoridades disseram que o comparecimento foi maior do que se esperava. Votou-se bastante em Fallujah, em parte destruída em novembro pelos americanos.
Pesquisa indicou que só 5% dos sunitas pretendiam votar. Seus partidos haviam pedido que as eleições fossem adiadas por três meses para que a violência declinasse, embora para tanto não dessem argumentos convincentes.
Havia o temor de que os sunitas não votassem porque estavam boicotando ou porque estavam com medo. Mas estejam ou não devidamente representados na assembléia, eles poderão barganhar um espaço político.
Os sunitas não são homogêneos. O regime de Saddam Hussein recrutou dirigentes nas regiões sunitas rurais, fora de Bagdá. A monarquia derrubada em 1958 tinha raízes sunitas urbanas.
Se as eleições tivessem sido realizadas há um ano, os insurgentes não seriam tão fortes. Estão agora bem entrincheirados, mais experientes e dificilmente serão neutralizados. Mas é também verdade que não expandiram a insurgência fora das regiões sunitas.
Cerca de 35 grupos sunitas reivindicaram atentados, embora alguns não passem de células esparsas. Sua origem é complicada. Há nacionalistas, membros do regime deposto, sunitas islâmicos e milícias de defesa de cidadezinhas. Algo como 90% dos detidos ou mortos pelos EUA são sunitas.
A eficácia da resistência sunita, logo após a deposição de Saddam, foi o resultado do isolamento dessa comunidade pelos EUA e do êxito dos fundamentalistas islâmicos e de seus homens-bomba. Segundo pesquisa, 53% dos sunitas apóiam a resistência armada.
Mas o terror, sobretudo o praticado por Abu Musab al Zarqawi, assustou os xiitas. Em abril, quando os americanos atacaram pela primeira vez Fallujah, ocorreu uma reação nacionalista em Bagdá. Mas, quando os marines destruíram a cidade em novembro, os xiitas não se solidarizaram.
A fraqueza da resistência islâmica está no fato de ela não ter atraído a simpatia dos nacionalistas como um todo. Declarações sangüinárias de Al Zarqawi tendem a isolá-lo dos demais insurgentes.
A comunidade sunita sabe que não voltará a controlar o país e está apenas unida em torno da oposição à ocupação americana.
(PATRICK COCKBURN)


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