DA REDAÇÃO

Os curdos, minoria étnica marginalizada nos 34 anos de ditadura de Saddam Hussein, compareceram ontem maciçamente aos locais de votação, com uma motivação mais ampla que a dos demais eleitores iraquianos: querem autonomia política.
Os dois partidos rivais na região, a KUP (União Patriótica do Curdistão) e o KDP (Partido Democrático Curdo), coligaram-se para fazer prevalecer a posição autonomista e procuram eleger 50 deputados na assembléia iraquiana de 275 cadeiras, que indicará um novo governo e redigirá uma nova Constituição.
Hosniya Habbar, 83, é viúva, e seus três filhos moram no exterior. "Vim votar para que as crianças do Curdistão tenham um futuro melhor", disse ela.
Para Kamiran Ahmad, 19, "a democracia é formidável". Disse esperar "que as coisas mudem, e que aqueles que fizeram nossos pais sofrer não voltem mais a governar. Pina Mohamad votou em Irbil. Disse que, ao participar do processo político, ela deseja "um futuro melhor".
Outro eleitor, o policial Fouad Fattah, 29, não sabe ler nem escrever. Votou no número de um dos partidos curdos, "para que possamos governar a nós mesmos".
Outra particularidade curda está nas três eleições em que seus eleitores foram instados a votar. Além da iraquiana, elegeram os integrantes dos conselhos provinciais -Sulaymaniyah, Irbil e Dohuk- e ainda os 111 membros do Parlamento regional.
Os curdos também reivindicam a anexação de Kirkuk, região petrolífera que lhes daria estofo econômico para a criação de um Estado, hipótese à qual se opõe a comunidade árabe local e que também assusta a Turquia, país que tem uma minoria curda.
Jalal Talabani, líder da UPK, votou em seu feudo, em Sulaymaniyah. Massoud Barzani, do KDP, disse após votar que "graças a Deus os curdos e os árabes estão em pé de igualdade e podem votar numa eleição". Disse que "estas eleições serão a base para um Iraque democrático e federado".