São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Sob o som de "Johnny B. Goode", McCain inicia busca pelos ultraconservadores

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

O International Ballroom do Hotel Hilton do Aeroporto de Miami só é usado em ocasiões importantes e raras, por ser muito grande. Sendo assim, seus carpetes alaranjados com motivos florais escondem pulgas que atacaram ao menos um dos que esperavam o resultado das eleições primárias republicanas, na noite de terça.
Este saiu às 21h15 (0h15 de Brasília), para a alegria metade ensaiada, metade espontânea de voluntários e claque que tomavam o palco.
Minutos depois, aos gritos de "Mac is back" (Mac voltou) e ao som do tema de "Rocky, Um Lutador", ele chega. John McCain, 71, está acompanhado da mulher, a ex-rainha de rodeio Cindy, supostos 54 anos, metida num tailleur verde, e da filha, Meghan, 24, com quilos sobrando num conjunto preto.
O começo de sua fala o espera no teleprompter no fundo da sala há 15 minutos: "Obrigado, obrigado, Flórida, por trazer de volta este ex-morador". Aplausos.
Nessa noite e nesta corrida para suceder Bush, o senador do Arizona e ex-veterano de guerra tem a trajetória oposta à de Rudolph Giuliani, que até dezembro liderava a corrida e acabou em terceiro na Flórida. Há um mês, a candidatura de McCain havia sido declarada morta por falta de dinheiro e voto. Hoje, ele é líder nacional.
Sua ascensão a partir de New Hampshire, no dia 8, é atribuída ao apelo que tem com os republicanos de centro. "McCain está conquistando os independentes, assim como Barack Obama", diz Morris Fiorina, professor de política da Universidade Stanford, na Califórnia.
Para o veterano de guerra Francisco Penela, o motivo é outro. "Não o escolhi só por ser um ex-combatente como eu", disse à Folha o cubano-americano de 63 anos. "É a integridade, o valor humano." E acrescenta: "Votaria em qualquer republicano que possa bater "la" Hillary".
A impressão de Penela é amparada por números. Segundo pesquisa da semana passada do "Wall Street Journal" e da rede NBC, ele é o único republicano que chega perto de bater tanto Hillary quanto Obama, com respectivamente 46% a 44% no primeiro cenário e empate de 42% no segundo. Essa pode ter sido a razão que o levou a conquistar parte do eleitorado ultraconservador.
Não atrapalhou também o apoio recém-declarado do governador da Flórida, Charlie Crist, popularidade acima de 70%. Rumores dão conta de que o republicano pleiteie a posição de vice na chapa de McCain. À Folha, ele nega. "Não penso nisso agora", disse, ao deixar o palco. "O importante é conquistar as indicações."
Nos últimos dias, McCain se atracou verbalmente com seu atual principal concorrente, Mitt Romney. Com a repercussão negativa, o político recuou -mas mostrou até onde pode ir. O destempero quase lhe custou um apoio importante. Ao indicar que poderia apoiar o ex-rival, no discurso em que admitiu a derrota, Giuliani passou um sabão público sem citar nomes ao mencionar a temperatura dos ataques entre os dois.
Termina a comemoração, John McCain beija a mulher e a filha e deixa o palco ao som de "Johnny B. Goode", o rock de 1958 de Chuck Berry que faz um trocadilho com o nome do personagem e um apelo para que Joãozinho seja bom agora. É o que espera Romney e o que exigirá Giuliani.


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