São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Ventos regionais, domésticos e globais ajudam no diálogo

MONICA HIRST
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já é práxis que a primeira visita presidencial do Brasil seja à Argentina e vice-versa.
Nem por isso este costume significa que já foi esgotada a identificação de novas sintonias e interesses comuns.
Nos primeiros anos da década passada, o vínculo bilateral esteve fortalecido pelas semelhantes visões críticas, compartilhadas por Lula e Néstor Kirchner [ex-presidente morto em outubro], quanto ao impacto econômico e social causado pela onda neoliberal dos anos 90. Qual será a ênfase buscada por Dilma e Cristina? Ambas enfrentam o desafio de encontrar seu espaço e capacidade de liderança que as diferenciem e valorizem vis-à-vis o legado de seus exitosos antecessores.
O primeiro passo nesta direção, do lado da brasileira, foi usar o diálogo interdemocrático com a Argentina para reforçar suas próprias políticas internas.
A intenção de lidar com o tema da memória e da condenação da violação de direitos humanos abre um horizonte de troca bilateral com interessantes possibilidades de projeção regional e global.
Os ventos regionais, internacionais e domésticos são favoráveis ao bom entendimento. Para as políticas externas argentina e brasileira, o laço bilateral passou a merecer status de política de Estado e não de governo.
Gradualmente, vai-se superando a lógica de soma zero que perseguiu a percepção das elites argentinas erradamente convencidas de que o sucesso brasileiro deveria ser compreendido como razão do seu fracasso.
Ganha espaço a ideia de que se deve buscar melhor proveito do status de sócio privilegiado de um parceiro que expõe um processo exitoso de desenvolvimento sustentável, estabilidade democrática, protagonismo regional e projeção global. A confirmação de que este lugar esteja assegurado para a Argentina constitui um ponto fundamental para a política externa de Cristina.

IDEOLOGIA
Não tem sido fácil para o país romper a blindagem ideológica erguida pelos centro de poder financeiro em reação ao default resultante da crise de dez anos atrás.
Soma-se o fato de que este é o pais que mais caro paga na América Latina por suas sintonias políticas e articulações de interesses com o governo Chávez.
A decisão de Obama de excluir a Argentina do tour na região, além de desnecessariamente mesquinha, sublinha o peso desta percepção.
Neste quadro, o laço com o Brasil cresce todo dia em importância. Exemplo foi a gestão feita no FMI para suavizar a reprovação à política de controle de preço argentina.
Na defesa, sublinha-se a decisão do governo brasileiro de proibir a utilização de portos do país por navios de guerra de origem britânico.
Amizade em política internacional é troca de interesses. A recuperação da economia argentina é excelente notícia para empresas brasileiras que investem e comercializam com o vizinho.


MONICA HIRST é professora de politica internacional da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires


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