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Europa barra ilegais e busca imigrante qualificado
DA REDAÇÃO
Como na maior parte do planeta, os atentados terroristas de 11
de setembro tiveram apenas um
efeito indireto no tratamento reservado a imigrantes -legais ou
clandestinos- e a refugiados na
Europa. O principal motivo da recente controvérsia sobre o tema é
o afluxo de refugiados, sobretudo
curdos e europeus orientais.
"Em toda a Europa ocidental, a
questão da imigração e a dos refugiados já vinham sendo tratadas
há algum tempo devido à chegada
de um grande número de imigrantes ilegais ao continente. Os
atentados terroristas serviram para acelerar o processo e as discussões. Foram, portanto, uma espécie de revelador", explicou à Folha Jacques Barou, especialista em
imigração do Instituto de Estudos
Políticos de Grenoble, na França.
Uma tendência é bastante clara
na Europa: a entrada de estrangeiros só não é um processo altamente complexo para trabalhadores bem qualificados, cujas aptidões profissionais podem atender às necessidades locais.
"Boa parte dos países europeus
vive um período de prosperidade
e de crescimento da atividade
econômica. Assim, há setores da
economia que carecem de mão-de-obra especializada. Consequentemente, há, de modo mais
ou menos discreto, uma retomada da imigração econômica. Na
França, por exemplo, há diretivas
do governo que buscam facilitar a
entrada de trabalhadores qualificados no país", apontou Barou.
O caso alemão é ilustrativo dessa nova tendência. Em 22 de março, apesar da oposição dos partidos de centro-direita (que têm
forte apelo populista), o Bundesrat -Câmara Alta do Parlamento- aprovou uma histórica reforma das leis de imigração, objetivando abrir o país para a entrada
de trabalhadores de alto nível.
O ministro do Interior, Otto
Schily (centro-esquerda), chegou
a dizer aos parlamentares que a
Alemanha precisava da reforma
para ter condições de competir
com outros países, como os EUA,
no que se refere a atrair mão-de-obra qualificada.
O Reino Unido é outro caso revelador, mas suas leis de imigração deverão ser alteradas em breve. "Por enquanto, o Reino Unido
tem leis de imigração bastante liberais. Há uma forte imigração
seletiva -de pessoas provenientes de países da Comunidade Britânica ou de empreendedores que
querem abrir negócios em seu
território, além dos trabalhadores
qualificados", afirmou Barou.
Talvez por ser o maior aliado
dos EUA no combate ao terrorismo, o Reino Unido pretende mudar de atitude em breve. "Há, contudo, leis bem restritivas sendo
preparadas. Elas tentarão incentivar os imigrantes a buscar uma
maior integração, a falar inglês e a
aceitar os valores da sociedade
britânica", declarou o acadêmico.
A questão do asilo político também está sendo revista no Reino
Unido.
Itália e Espanha
Ao lado da Grécia, a Itália e a Espanha são as maiores portas de
entrada de imigrantes ilegais na
Europa. "Os clandestinos passam
pela ex-Iugoslávia. Há várias organizações mafiosas na Bósnia e
em Kosovo que lucram com o
transporte de imigrantes em direção aos países mais abastados da
Europa", disse Barou.
O governo da Itália (centro-direita), ante a comoção provocada
pela chegada de quase mil refugiados curdos à Sicília, em 18 de
março passado, acelerou o processo de avaliação no Parlamento
de um projeto de lei de imigração,
cujo intuito é dificultar a permanência de estrangeiros clandestinos no país e desestimular a entrada de novos postulantes a asilo
político em seu território.
O projeto foi redigido pelo líder
da xenófoba Liga Norte, o ministro das Reformas Institucionais,
Umberto Bossi, e pelo vice-premiê italiano, Gianfranco Fini, da
pós-fascista Aliança Nacional.
"O projeto é muito repressivo,
mas isso não surpreende, já que
seus autores são xenófobos mais
ou menos declarados. Eles pertencem a uma corrente mais radical da direita que vem ganhando
alento em países europeus, como
a Suíça e a Áustria. Esse grupo é
totalmente hostil à imigração
-legal ou não", explicou Barou.
Na Espanha, uma nova lei de
imigração (pouco menos repressiva que o projeto italiano) entrou
em vigor no início de 2001. "A lei
espanhola também busca restringir a imigração clandestina, todavia é difícil de ser aplicada. Afinal,
há setores da economia espanhola, como a agricultura e a construção civil, que necessitam do trabalho de estrangeiros para funcionar", indicou o analista francês.
A União Européia promete acelerar a uniformização das leis de
imigração de seus 15 países-membros, conforme previsto no Tratado de Amsterdã (1997). "Na prática, essa uniformização será difícil,
pois os Estados europeus são diferentes e têm necessidades econômicas distintas", disse Barou.
"Ademais, cada um possui sua
lógica política doméstica. Assim,
a situação dos refugiados tende a
piorar. Os centros de acolhimento
se encontram saturados, e o número de pessoas que pedem asilo
só faz crescer", completou.
(MSM)
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