São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

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Bové fala com Arafat e afirma que palestino "prefere morrer a negociar"

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder camponês francês José Bové conseguiu se encontrar ontem com o líder palestino Iasser Arafat. Depois, em entrevista à Folha, ele afirmou que o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina) está "determinado" a morrer pelo que acredita. Segundo ele, Arafat afirmou que, diante do "terrorismo de Estado", nunca negociará com Israel.
Bové fez parte do primeiro grupo de estrangeiros a visitar Arafat depois que o quartel-general da ANP foi sido invadido por soldados israelenses. O grupo, parte de um movimento que se intitula "Missão para a Proteção do Povo Palestino", foi integrado por Bové, um deputado italiano, uma francesa e uma americana de origem palestina.
Eles conseguiram entrar após uma passeata por Ramallah e uma tensa negociação com o Exército israelense. Levaram médicos e remédios para socorrer os 18 soldados palestinos feridos dentro do quartel.
A missão, ao todo, tem cerca de 300 integrantes, dos quais cerca de 50 foram a Ramallah na quinta-feira, entre eles um brasileiro, representando o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Bové deu à Folha, por telefone.

Folha - O sr. pode descrever sua conversa com Arafat e qual é o ambiente dentro do quartel-general?
José Bové -
Ficamos com o sr. Arafat por meia hora e o que vimos é que ele está muito determinado em sua luta. Ele disse: "Nós nunca vamos sair daqui. Nós nunca vamos negociar com o governo israelense. Isso é terrorismo de Estado, então não vamos tomar parte nisso. Eles têm de sair".
Arafat disse que prefere morrer a negociar com esse governo. Nós vimos que as pessoas estão determinadas em sua luta. Acho que ficaram muito contentes em ver representantes internacionais.

Folha - Como seu grupo se sentiu? Foi difícil entrar?
Bové -
Todos estávamos determinados a entrar. Quando conversamos com os médicos do hospital pela manhã, antes de doarmos sangue -porque eles estão sem sangue-, disseram que a situação estava difícil dentro do quartel-general.
Então dissemos que, se quisessem vir conosco, poderíamos tentar entrar. Cruzamos a cidade e negociamos a entrada com o Exército israelense. Afirmamos que, se não nos deixassem entrar, estariam violando os tratados internacionais sobre prisioneiros e de guerra.

Folha - Como está a situação em Ramallah?
Bové -
Muita destruição, tanques por toda parte. As pessoas estão com muito medo porque os soldados estão em todos os lugares. Para as crianças, é impossível sair.
Muitos carros estão destruídos nas ruas. Os tanques estão atropelando os carros e, às vezes, abrem as portas das casas a tiros de canhão dos tanques.

Folha - Há resistência de palestinos nas ruas?
Bové -
Nesta tarde houve um protesto de centenas de mulheres.

Folha - Como estão sendo tratados os estrangeiros?
Bové -
Até o momento, não tivemos verdadeiros problemas com o Exército em Ramallah. O único confronto foi nesta manhã. Em Jerusalém, os estrangeiros estão tendo muitos problemas com o Exército e a polícia nos protestos. Alguns deles foram feridos.



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