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Bové fala com Arafat e afirma que
palestino "prefere morrer a negociar"
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder camponês francês José
Bové conseguiu se encontrar ontem com o líder palestino Iasser
Arafat. Depois, em entrevista à
Folha, ele afirmou que o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina) está "determinado" a morrer pelo que acredita.
Segundo ele, Arafat afirmou que,
diante do "terrorismo de Estado",
nunca negociará com Israel.
Bové fez parte do primeiro grupo de estrangeiros a visitar Arafat
depois que o quartel-general da
ANP foi sido invadido por soldados israelenses. O grupo, parte de
um movimento que se intitula
"Missão para a Proteção do Povo
Palestino", foi integrado por Bové, um deputado italiano, uma
francesa e uma americana de origem palestina.
Eles conseguiram entrar após
uma passeata por Ramallah e
uma tensa negociação com o
Exército israelense. Levaram médicos e remédios para socorrer os
18 soldados palestinos feridos
dentro do quartel.
A missão, ao todo, tem cerca de
300 integrantes, dos quais cerca
de 50 foram a Ramallah na quinta-feira, entre eles um brasileiro,
representando o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Bové deu à
Folha, por telefone.
Folha - O sr. pode descrever sua
conversa com Arafat e qual é o ambiente dentro do quartel-general?
José Bové - Ficamos com o sr.
Arafat por meia hora e o que vimos é que ele está muito determinado em sua luta. Ele disse: "Nós
nunca vamos sair daqui. Nós
nunca vamos negociar com o governo israelense. Isso é terrorismo
de Estado, então não vamos tomar parte nisso. Eles têm de sair".
Arafat disse que prefere morrer
a negociar com esse governo. Nós
vimos que as pessoas estão determinadas em sua luta. Acho que ficaram muito contentes em ver representantes internacionais.
Folha - Como seu grupo se sentiu?
Foi difícil entrar?
Bové - Todos estávamos determinados a entrar. Quando conversamos com os médicos do
hospital pela manhã, antes de
doarmos sangue -porque eles
estão sem sangue-, disseram
que a situação estava difícil dentro
do quartel-general.
Então dissemos que, se quisessem vir conosco, poderíamos tentar entrar. Cruzamos a cidade e
negociamos a entrada com o
Exército israelense. Afirmamos
que, se não nos deixassem entrar,
estariam violando os tratados internacionais sobre prisioneiros e
de guerra.
Folha - Como está a situação em
Ramallah?
Bové - Muita destruição, tanques por toda parte. As pessoas
estão com muito medo porque os
soldados estão em todos os lugares. Para as crianças, é impossível
sair.
Muitos carros estão destruídos
nas ruas. Os tanques estão atropelando os carros e, às vezes, abrem
as portas das casas a tiros de canhão dos tanques.
Folha - Há resistência de palestinos nas ruas?
Bové - Nesta tarde houve um
protesto de centenas de mulheres.
Folha - Como estão sendo tratados os estrangeiros?
Bové - Até o momento, não tivemos verdadeiros problemas com
o Exército em Ramallah. O único
confronto foi nesta manhã. Em
Jerusalém, os estrangeiros estão
tendo muitos problemas com o
Exército e a polícia nos protestos.
Alguns deles foram feridos.
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