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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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ATAQUE DO IMPÉRIO

AMEAÇA

Governo diz que ataques suicidas, como o que matou 4 americanos, serão "política militar rotineira"

Irque anuncia que tem 4.000 mártires

Odd Andersen/France Presse
Britânicos inspecionam iraquianos que deixam Basra (sul do Iraque) para impedir a fuga de militares disfarçados de civis


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O porta-voz do Exército iraquiano disse ontem em Bagdá que mais de 4.000 árabes haviam chegado ao país e estavam prontos a se "martirizar" para impedir o avanço da coalizão anglo-americana em direção à capital.
"Os mujahedin (guerreiros) chegam de todos os países árabes, sem exceção", afirmou Hazi al Rawi, segundo o qual os soldados suicidas estariam dispostos a morrer e faziam questão de ser enterrados no próprio Iraque.
"Usaremos todas as armas à nossa disposição para atingir o inimigo e machucá-lo", disse o vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan, em encontro de uma hora com a imprensa em Bagdá no sábado à noite.
Indagado sobre se o suicida que matou quatro soldados norte-americanos no sul do país horas antes agia sob ordens diretas do governo, o terceiro homem na hierarquia respondeu: "Faz diferença? Você acha que uma pessoa tira a própria vida sob ordens?".
Para o vice-presidente, o ataque suicida será uma "política militar rotineira" da guerra não só no Iraque como em outros países, principalmente os Estados Unidos. "Isso é apenas o começo", ameaçou. "Você vai continuar a ouvir notícias gratificantes como esta daqui para a frente."
No mesmo dia, o grupo radical palestino Jihad Islâmico disse em Teerã ter enviado uma primeira leva de homens-bomba a Bagdá para ajudar na luta contra a coalizão anglo-americana. "As Brigadas Al Quds trazem ao nosso povo as boas novas da chegada de seus primeiros mártires ao coração de Bagdá", afirmou um comunicado do braço armado da organização transmitido por fax.
O grupo assumiu a responsabilidade pelo atentado suicida de ontem num calçadão na cidade israelense de Netanya, que deixou pelo menos 30 feridos e afirmou que tinha sido um "presente" ao povo iraquiano. "É para cumprir o dever sagrado de defender as terras árabes e muçulmanas", afirmava o comunicado.
Ontem ainda, em Udairi (Kuait), um caminhão foi jogado contra um grupo de soldados norte-americanos que estavam enfileirados do lado de fora de uma barraca militar, segundo o Exército dos Estados Unidos, ferindo entre 10 e 15 pessoas.
No sábado, a TV estatal iraquiana havia afirmado que o presidente Saddam Hussein homenageara com duas medalhas póstumas o suicida que matou quatro soldados norte-americanos com um carro-bomba no sul do Iraque pouco antes naquele dia.
Ele foi identificado como Ali Hammadi al Namani, oficial do Exército iraquiano e pai de cinco filhos. ""É um começo abençoado", dizia a declaração, sobre o primeiro ataque suicida da guerra. "Ele quis ensinar ao inimigo a mesma lição dada por nossos irmãos palestinos."

Mais ataques
A noite de sábado e o dia inteiro de ontem foram pródigos em ataques da coalizão anglo-americana a Bagdá. As forças invasoras intensificaram o uso das bombas "treme-terra", de duas toneladas, que destroem bunkers e colocam abaixo instalações estratégicas.
Os alvos da madrugada foram duas centrais telefônicas e mais uma vez o Ministério da Informação, seguindo a estratégia de minar a comunicação entre os membros do governo Saddam Hussein e entre estes e seu Exército. O resultado é que quase toda Bagdá amanheceu com os telefones mudos.
Com os ataques reapareceu outra sombra do conflito atual: os alvos civis atacados por engano. Próximo de uma das centrais telefônicas um míssil atingiu um conjunto de seis casas populares e duas lojas, destruindo todas. Ninguém ficou ferido, pois todos se encontravam num abrigo próximo no momento. Já à tarde o bairro residencial de Al Rihmania também foi alvo, em ataque que matou três pessoas e feriu 19, segundo o governo iraquiano.
Até a conclusão desta edição, os bombardeios continuavam, tendo como alvo aparentemente posições da Guarda Republicana, a tropa de elite, na fronteira de Bagdá. Pela manhã, o palácio de Qusay Hussein, o filho mais novo de Saddam Hussein, teria sido atingido, informação não confirmada pelo governo iraquiano.
Em encontro com a imprensa, o ministro da Informação, Mohammed Said al Sahaf, havia dito que as Forças Armadas iraquianas derrubaram dois helicópteros Apache nas regiões central e sul do país e matado seus pilotos. Segundo ele, os tripulantes foram enterrados no Iraque de acordo com as tradições americanas e que outros inimigos mortos serão enterrados da mesma maneira.
Também ontem o Ministério da Informação afirmou que os sete jornalistas italianos dados como desaparecidos no sul do Iraque estão bem e se encontram Hotel Palestine, em Bagdá, onde se hospedam os 150 jornalistas ocidentais que cobrem a guerra, informação confirmada pela Folha.
O grupo havia sido interceptado por milicianos do Partido Baath, governista, enquanto perguntavam aos policiais o caminho para a cidade de Basra.

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