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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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Analistas apontam erros do secretário

Alguns especialistas -mesmo os que afirmam admirar Rumsfeld-dizem que ele assumiu um papel grande demais na articulação da política externa dos EUA

WILL DUNHAM
DA REUTERS, EM WASHINGTON

A influência do secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, no traçado do plano da guerra no Iraque começa a ser questionada, agora que se torna claro que a campanha não será tão rápida ou fácil quanto previam alguns líderes americanos.
Alguns oficiais de alto nível na reserva começam a expressar em público uma opinião que já é compartilhada, reservadamente, por vários militares de alta patente: que a visão que Rumsfeld tem de uma força armada sofisticada, que utiliza alta tecnologia, o levou a tomar riscos desnecessários com as dimensões e a natureza da força enviada para derrubar o ditador iraquiano Saddam Hussein.
Além disso, alguns especialistas -mesmo os que afirmam admirar Rumsfeld- dizem que ele assumiu um papel grande demais na articulação da política externa americana.
""Em última análise, a pergunta que se coloca é: por que você iniciaria esta operação com poderio insuficiente?", disse à Reuters o general da reserva Barry McCaffrey, que comandou uma divisão de infantaria na Guerra do Golfo e, mais tarde, chefiou todas as forças militares dos EUA na América Latina. ""Porque não teve tempo de levar os homens para lá? Mas você teve. Por que não possui as forças necessárias? Mas nós as tínhamos. Porque queria economizar dinheiro com uma operação militar que vai acabar custando pelo menos US$ 200 bilhões? Ou será que é porque você tem uma visão ideológica tão forte e tem tanta confiança em sua visão que passa por cima dos conselhos militares inequívocos que ouve, especialmente da parte de generais do Exército que você não acha que sejam muito inteligentes?"
Donald Rumsfeld já entrou em choque com alguns oficiais de alto nível, especialmente do Exército, desde que se tornou secretário da Defesa, período no qual vem tentando impor uma liderança civil rígida sobre o setor militar que, para alguns conservadores, era dominante no Pentágono durante o governo de Clinton.
O ponto mais polêmico vem sendo sua tentativa de promover uma ""transformação" nas forças armadas.
Ele tem uma visão de forças armadas libertas de seu passado na Guerra Fria e formadas por forças menores e mais ágeis, dotadas de armas de alta tecnologia, poderio aéreo e operações especiais.
Ao desenvolver o plano de guerra a ser usado no Iraque, Rumsfeld rejeitou com firmeza os conselhos de muitos altos oficiais para os quais ele deveria colocar em campo uma força mais semelhante ao contingente de meio milhão de homens usado na Guerra do Golfo de 1991. Rumsfeld era a favor de uma força bem menor. Analistas dizem que Rumsfeld e o comandante da guerra, general Tommy Franks, chegaram a um acordo de meio-termo, decidindo empregar uma força com metade do tamanho da usada em 1991.
""Basicamente Rumsfeld reduziu pela metade o que o Exército tinha dito que precisaria para a guerra. Resumindo, ele acha que o Exército é grande e pesado demais -um trambolho", disse o analista Lawrence Korb, do Council on Foreign Relations, que atuou como secretário assistente de Defesa durante a administração Reagan.
O analista militar Jack Spencer, da Fundação Heritage, disse que Rumsfeld enfrenta a tarefa imensa de promover transformações numa instituição -as forças armadas- que opõe grande resistência a qualquer mudança.
""Em termos de como Rumsfeld influi sobre tudo, é verdade que ele exigiu que os planejadores da guerra pensassem um pouco fora de seus moldes habituais e dessem novas idéias sobre como conduzir esta missão", disse Spencer. ""Ele tem uma personalidade poderosa. As personalidades poderosas a gente ou ama ou odeia."
O analista militar Daniel Goure, do Instituto Lexington, disse que é preciso analisar o desenvolvimento do plano de guerra no contexto da busca de Rumsfeld pela transformação. ""O que temos agora", disse ele, ""é uma divisão entre os militares que querem dizer que uma vez tomada a decisão de partir para a guerra, tudo deve ser entregue nas mãos deles: o cronograma, os números, tudo. A realidade é que não é assim que as coisas funcionam. Nunca foi."

"É um bom plano"
Durante um briefing no Pentágono, Rumsfeld foi indagado se sua visão de um setor militar ""transformado" o levara a autorizar uma força com tropas e veículos blindados insuficientes.
""Para começar, não sei como alguém de fora do governo pode pensar que sabe qual é minha visão", respondeu Rumsfeld. Ele disse que o plano de guerra foi aprovado por Tommy Franks, pelo chefe do Estado-maior Conjunto, general Richard Myers, e por Bush. ""E é um bom plano", disse o secretário de Defesa.
""Não posso administrar o que as pessoas querem dizer, sejam elas civis ou militares na reserva. E, se elas continuarem dizendo-o por tempo suficiente, as pessoas vão começar a acreditar. E pode não ser verdade. Pode ser que reflita mais uma compreensão equivocada da situação do que uma análise ou avaliação dela."


Tradução de Clara Allain

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