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Analistas apontam erros do secretário
Alguns especialistas -mesmo os que afirmam admirar Rumsfeld-dizem que ele assumiu um papel grande demais na articulação da política externa dos EUA
WILL DUNHAM
DA REUTERS, EM WASHINGTON
A influência do secretário norte-americano da Defesa, Donald
Rumsfeld, no traçado do plano da
guerra no Iraque começa a ser
questionada, agora que se torna
claro que a campanha não será
tão rápida ou fácil quanto previam alguns líderes americanos.
Alguns oficiais de alto nível na
reserva começam a expressar em
público uma opinião que já é
compartilhada, reservadamente,
por vários militares de alta patente: que a visão que Rumsfeld tem
de uma força armada sofisticada,
que utiliza alta tecnologia, o levou
a tomar riscos desnecessários
com as dimensões e a natureza da
força enviada para derrubar o ditador iraquiano Saddam Hussein.
Além disso, alguns especialistas
-mesmo os que afirmam admirar Rumsfeld- dizem que ele assumiu um papel grande demais
na articulação da política externa
americana.
""Em última análise, a pergunta
que se coloca é: por que você iniciaria esta operação com poderio
insuficiente?", disse à Reuters o
general da reserva Barry McCaffrey, que comandou uma divisão
de infantaria na Guerra do Golfo
e, mais tarde, chefiou todas as forças militares dos EUA na América
Latina. ""Porque não teve tempo
de levar os homens para lá? Mas
você teve. Por que não possui as
forças necessárias? Mas nós as tínhamos. Porque queria economizar dinheiro com uma operação
militar que vai acabar custando
pelo menos US$ 200 bilhões? Ou
será que é porque você tem uma
visão ideológica tão forte e tem
tanta confiança em sua visão que
passa por cima dos conselhos militares inequívocos que ouve, especialmente da parte de generais
do Exército que você não acha
que sejam muito inteligentes?"
Donald Rumsfeld já entrou em
choque com alguns oficiais de alto
nível, especialmente do Exército,
desde que se tornou secretário da
Defesa, período
no qual vem tentando impor uma
liderança civil rígida sobre o setor
militar que, para
alguns conservadores, era dominante no Pentágono durante o governo de Clinton.
O ponto mais
polêmico vem
sendo sua tentativa de promover
uma ""transformação" nas forças armadas.
Ele tem uma visão de forças armadas libertas de
seu passado na Guerra Fria e formadas por forças menores e mais
ágeis, dotadas de armas de alta
tecnologia, poderio aéreo e operações especiais.
Ao desenvolver o plano de guerra a ser usado no Iraque, Rumsfeld rejeitou com firmeza os conselhos de muitos altos oficiais para os quais ele deveria colocar em
campo uma força mais semelhante ao contingente de meio milhão
de homens usado na Guerra do
Golfo de 1991. Rumsfeld era a favor de uma força bem menor.
Analistas dizem que Rumsfeld e o
comandante da guerra, general
Tommy Franks, chegaram a um
acordo de meio-termo, decidindo
empregar uma força com metade
do tamanho da usada em 1991.
""Basicamente Rumsfeld reduziu pela metade o que o Exército
tinha dito que
precisaria para a
guerra. Resumindo, ele acha que o
Exército é grande
e pesado demais
-um trambolho", disse o analista Lawrence
Korb, do Council
on Foreign Relations, que atuou
como secretário
assistente de Defesa durante a administração Reagan.
O analista militar Jack Spencer,
da Fundação Heritage, disse que
Rumsfeld enfrenta a tarefa imensa
de promover transformações numa instituição -as forças armadas- que opõe grande resistência a qualquer mudança.
""Em termos de como Rumsfeld
influi sobre tudo, é verdade que
ele exigiu que os planejadores da
guerra pensassem um pouco fora
de seus moldes habituais e dessem novas idéias sobre como conduzir esta missão", disse Spencer.
""Ele tem uma personalidade poderosa. As personalidades poderosas a gente ou ama ou odeia."
O analista militar Daniel Goure,
do Instituto Lexington, disse que
é preciso analisar o desenvolvimento do plano de guerra no contexto da busca de Rumsfeld pela
transformação. ""O que temos
agora", disse ele, ""é uma divisão
entre os militares que querem dizer que uma vez tomada a decisão
de partir para a guerra, tudo deve
ser entregue nas mãos deles: o
cronograma, os números, tudo. A
realidade é que não é assim que as
coisas funcionam. Nunca foi."
"É um bom plano"
Durante um briefing no Pentágono, Rumsfeld foi indagado se
sua visão de um setor militar
""transformado" o levara a autorizar uma força com tropas e veículos blindados insuficientes.
""Para começar, não sei como alguém de fora do governo pode
pensar que sabe qual é minha visão", respondeu Rumsfeld. Ele
disse que o plano de guerra foi
aprovado por Tommy Franks, pelo chefe do Estado-maior Conjunto, general Richard Myers, e por
Bush. ""E é um bom plano", disse
o secretário de Defesa.
""Não posso administrar o que
as pessoas querem dizer, sejam
elas civis ou militares na reserva.
E, se elas continuarem dizendo-o
por tempo suficiente, as pessoas
vão começar a acreditar. E pode
não ser verdade. Pode ser que reflita mais uma compreensão equivocada da situação do que uma
análise ou avaliação dela."
Tradução de Clara Allain
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