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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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SOB FOGO CERRADO

Secretário da Defesa dos EUA nega que tenha proibido o envio de reforços ao Golfo

Rumsfeld rebate crítica a estratégia

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Autoridades militares norte-americanas partiram ontem para o contra-ataque para defender o plano de guerra contra o Iraque, fortemente criticado por generais reformados, estrategistas e por parte da mídia dos EUA.
Ao mesmo tempo, o presidente George W. Bush ordenou um avanço sobre Bagdá, a despeito da resistência iraquiana no sul do país e das falhas na linha de suprimento às tropas que já estão a pouco mais de 70 km da capital.
As críticas ao plano militar americano fixam-se em não ter levado em conta ações de guerrilha, ataques suicidas e, principalmente, por ter empregado uma tropa reduzida para uma operação que visa derrotar o inimigo, estabilizar o país e constituir um novo governo no Iraque.
Os americanos lutam hoje com um terço da força empregada na Guerra do Golfo, em 1991.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, é considerado o principal responsável por essa determinação, que levou em conta, principalmente, o avanço tecnológico das armas empregadas agora e o enfraquecimento do Exército iraquiano nos últimos 12 anos.
Em uma rodada de entrevistas na TV ontem, Rumsfeld criticou o que chamou de ""hiperventilação" de críticas e desmentiu rumores de que teria negado ao Comando Central militar o envio urgente de mais tropas à região. ""Isso é ficção pura", afirmou.
Demonstrando a mesma irritação dos últimos dias, Rumsfeld disse que a guerra ""não tem prazo" para terminar. ""Pode durar dias, semanas ou meses. Suspeito que os dias mais difíceis e perigosos ainda estão por vir."
O general Tommy Franks, responsável pelas operações no Iraque, defendeu a sua estratégia militar e disse que tem tropas ""suficientes" para a guerra.
Franks negou que os soldados fariam ""pausa operacional" antes de investir contra Bagdá. Segundo fontes da Casa Branca, em teleconferência com seu gabinete de guerra no sábado, Bush ordenou o avanço imediato à capital para manter "o foco da guerra", destinada a depor Saddam Hussein.
A avaliação é a de que quanto mais Saddam resistir, maior será a oposição no resto do Iraque -de milícias e forças regulares- e o sentimento de revolta contra os EUA no mundo árabe.
Boa parte das críticas contra a estratégia militar, que teria deixado desguarnecidas tropas já fundo dentro do Iraque, concentra-se no fato de a guerra ter começado sem o deslocamento de unidades-chaves estacionadas na Alemanha e na indecisão sobre a utilização da força destinada inicialmente a invadir o país a partir do norte, pela Turquia.
Uma divisão inteira das forças americanas, a 4ª Infantaria, ficou estacionada durante três semanas na costa turca depois que o Parlamento do país rejeitou uma primeira tentativa dos EUA de usar a Turquia como base.
Os 35 navios que carregam os equipamentos e tropas só zarparam em direção ao Kuait, via canal de Suez, depois de iniciada a guerra. Ainda não chegaram, e serão necessárias mais duas semanas para o desembarque.
Somados aos outros soldados despachados da Alemanha, o Comando Central militar deverá contar com até 120 mil novos homens no Iraque, que vão se integrar à força de 295 mil já atuando na região. O Pentágono reafirmou ontem que esse reforço já fazia parte do plano original.
Rumsfeld sofre críticas por ter limitado o número de tropas em relação a 1991 por uma questão de custos. A administração Bush vinha se negando a discutir quanto a guerra custaria até a semana passada, quando foi praticamente forçada pelo Congresso a fixar um valor -que ficou em US$ 74,7 bilhões por seis meses.

Pequena dimensão
Segundo fontes do Pentágono, quando Rumsfeld convidou oficialmente Tommy Franks para comandar a operação, durante jantar em um restaurante japonês em Washington, o general teria ficado surpreso tanto com o sushi que comia pela primeira vez quanto com a dimensão reduzida que o chefe queria dar para a guerra. Aceitou mesmo assim.
Ontem, Franks foi questionado e negou qualquer pressão de Rumsfeld. ""Ficaria lisonjeado em assumir a responsabilidade pela estratégia militar. É um bom plano, criativo e inovador. Vai funcionar", disse Franks.
Seu colega Richard Myers, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, também defendeu o plano ontem em Washington. Questionado sobre as surpresas no caminho, disse: ""Vamos superá-las. A guerra tem muito mais de arte do que de ciência".

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