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SOB FOGO CERRADO
Secretário da Defesa dos EUA nega que tenha proibido o envio de reforços ao Golfo
Rumsfeld rebate crítica a estratégia
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Autoridades militares norte-americanas partiram ontem para
o contra-ataque para defender o
plano de guerra contra o Iraque,
fortemente criticado por generais
reformados, estrategistas e por
parte da mídia dos EUA.
Ao mesmo tempo, o presidente
George W. Bush ordenou um
avanço sobre Bagdá, a despeito da
resistência iraquiana no sul do
país e das falhas na linha de suprimento às tropas que já estão a
pouco mais de 70 km da capital.
As críticas ao plano militar americano fixam-se em não ter levado
em conta ações de guerrilha, ataques suicidas e, principalmente,
por ter empregado uma tropa reduzida para uma operação que visa derrotar o inimigo, estabilizar o
país e constituir um novo governo
no Iraque.
Os americanos lutam hoje com
um terço da força empregada na
Guerra do Golfo, em 1991.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, é
considerado o principal responsável por essa determinação, que
levou em conta, principalmente, o
avanço tecnológico das armas
empregadas agora e o enfraquecimento do Exército iraquiano nos
últimos 12 anos.
Em uma rodada de entrevistas
na TV ontem, Rumsfeld criticou o
que chamou de ""hiperventilação"
de críticas e desmentiu rumores
de que teria negado ao Comando
Central militar o envio urgente de
mais tropas à região. ""Isso é ficção
pura", afirmou.
Demonstrando a mesma irritação dos últimos dias, Rumsfeld
disse que a guerra ""não tem prazo" para terminar. ""Pode durar
dias, semanas ou meses. Suspeito
que os dias mais difíceis e perigosos ainda estão por vir."
O general Tommy Franks, responsável pelas operações no Iraque, defendeu a sua estratégia militar e disse que tem tropas ""suficientes" para a guerra.
Franks negou que os soldados
fariam ""pausa operacional" antes
de investir contra Bagdá. Segundo
fontes da Casa Branca, em teleconferência com seu gabinete de
guerra no sábado, Bush ordenou
o avanço imediato à capital para
manter "o foco da guerra", destinada a depor Saddam Hussein.
A avaliação é a de que quanto
mais Saddam resistir, maior será a
oposição no resto do Iraque -de
milícias e forças regulares- e o
sentimento de revolta contra os
EUA no mundo árabe.
Boa parte das críticas contra a
estratégia militar, que teria deixado desguarnecidas tropas já fundo dentro do Iraque, concentra-se
no fato de a guerra ter começado
sem o deslocamento de unidades-chaves estacionadas na Alemanha
e na indecisão sobre a utilização
da força destinada inicialmente a
invadir o país a partir do norte,
pela Turquia.
Uma divisão inteira das forças
americanas, a 4ª Infantaria, ficou
estacionada durante três semanas
na costa turca depois que o Parlamento do país rejeitou uma primeira tentativa dos EUA de usar a
Turquia como base.
Os 35 navios que carregam os
equipamentos e tropas só zarparam em direção ao Kuait, via canal de Suez, depois de iniciada a
guerra. Ainda não chegaram, e serão necessárias mais duas semanas para o desembarque.
Somados aos outros soldados
despachados da Alemanha, o Comando Central militar deverá
contar com até 120 mil novos homens no Iraque, que vão se integrar à força de 295 mil já atuando
na região. O Pentágono reafirmou
ontem que esse reforço já fazia
parte do plano original.
Rumsfeld sofre críticas por ter
limitado o número de tropas em
relação a 1991 por uma questão de
custos. A administração Bush vinha se negando a discutir quanto
a guerra custaria até a semana
passada, quando foi praticamente
forçada pelo Congresso a fixar um
valor -que ficou em US$ 74,7 bilhões por seis meses.
Pequena dimensão
Segundo fontes do Pentágono,
quando Rumsfeld convidou oficialmente Tommy Franks para
comandar a operação, durante
jantar em um restaurante japonês
em Washington, o general teria ficado surpreso tanto com o sushi
que comia pela primeira vez
quanto com a dimensão reduzida
que o chefe queria dar para a
guerra. Aceitou mesmo assim.
Ontem, Franks foi questionado
e negou qualquer pressão de
Rumsfeld. ""Ficaria lisonjeado em
assumir a responsabilidade pela
estratégia militar. É um bom plano, criativo e inovador. Vai funcionar", disse Franks.
Seu colega Richard Myers, chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas, também defendeu o plano
ontem em Washington. Questionado sobre as surpresas no caminho, disse: ""Vamos superá-las. A
guerra tem muito mais de arte do
que de ciência".
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