|
Próximo Texto | Índice
Oposição reivindica vitória no Zimbábue
Demora na divulgação de resultados oficiais da eleição presidencial aumenta tensão no país e alimenta medo de fraude
Monitores africanos dizem que votação foi legítima; citando ONGs, diplomata afirma que MDC derrotou Mugabe no primeiro turno
Tsvangirayi Mukwazhi/Associated Press
|
|
Zimbabuanos em Harare festejam vitória da oposição antes de saírem resultados; governo alerta que reivindicar Presidência sem ter números é golpe de Estado
FÁBIO ZANINI
EM HARARE
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A HARARE
Sem resultados oficiais divulgados e nenhuma pesquisa independente, a oposição zimbabuana clamou vitória ontem na
eleição presidencial mais disputada dos 28 anos de independência da nação do sul da África
e indicou que irá para as ruas
caso isso não seja confirmado, o
que aumentou consideravelmente a tensão no país.
Pela manhã, com base na
apuração própria de um terço
das urnas, o MDC (Movimento
para Mudança Democrática)
alegava que seu candidato presidencial, o ex-líder sindical
Morgan Tsvangirai, tinha 67%
dos votos. "Até agora, a não ser
que ocorra um milagre, vencemos essa eleição. A tendência é
irreversível", disse Tendai Biti,
secretário-geral do partido.
O governo reagiu. "Isso
[anunciar resultados não-oficiais] é golpe de Estado, e nós
sabemos como lidar com isso",
disse George Charamba, porta-voz do governo chefiado desde
1980 pelo ditador Robert Mugabe, 84, novamente candidato
a um mandato de cinco anos. A
comissão eleitoral repreendeu
o MDC por reivindicar a Presidência sem números oficiais.
As ruas de Harare permaneciam calmas ontem, quase desertas. Mas a falta de qualquer
tipo de resultado, ainda que
preliminar, um dia após o fechamento das urnas, provocou
críticas de observadores e medo de fraudes.
A Rede Zimbabuana de
Apoio às Eleições (Zesn), grupo
civil que fiscaliza o processo,
soltou comunicado criticando a
demora. "Pedimos à comissão
eleitoral que tabule os resultados o mais rápido possível. O
anúncio de forma transparente
ajudaria a reduzir tensões."
Já a missão de observadores
da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral,
que reúne 13 países, considerou
a votação "pacífica e uma expressão fiel da vontade do povo
do Zimbábue", apesar de ter
enxergado "incidentes" como
cobertura enviesada da imprensa oficial e falta de informação dos eleitores. Numa
confusa entrevista coletiva, o
chefe da missão, o angolano José Marcos Barrica, teve de explicar como poderia reconhecer a lisura do processo antes
da divulgação de qualquer resultado. "Resultados não são
problema nosso", explicou.
Especulações
Apenas às 23h50, a comissão
eleitoral informou que começaria a divulgar resultados no
início desta manhã (madrugada de hoje no Brasil).
Isso tornou fértil o terreno
para especulações. Um embaixador europeu que pediu para
não ser identificado distribuía
ontem à tarde a jornalistas supostos resultados extra-oficiais
da apuração, baseados na contagem feita por ONGs. Tsvangirai teria ganho no primeiro turno com 55% dos votos, contra
36% de Mugabe e 9% do independente Simba Makoni. Não
houve confirmação oficial.
Caso haja segundo turno, ele
ocorrerá em três semanas.
No quartel-general de
Tsvangirai, um prédio deteriorado de seis andares no centro
da capital, que ontem não tinha
energia elétrica nem elevadores, o dia foi de muitas reuniões
e nervosismo. "Estamos esperando o governo vir para cima
de nós a qualquer momento",
disse Sandra (não deu o sobrenome), do setor de informações
da campanha. "Não acredito
que aceitem nossa vitória."
O temor de que uma onda de
violência similar à que ocorreu
no Quênia no início do ano se
repita é palpável em Harare, cidade que é reduto da oposição.
Os comandantes das Forças
Armadas já avisaram que não
pretendem reconhecer um governo que não seja de Mugabe.
Algumas escolas têm recomendado aos pais deixar seus filhos
em casa nos próximos dias.
ANDREA MURTA viajou a convite das ONGs Conectas Direitos Humanos e Open Society
Próximo Texto: Entrevista: Para embaixador do Brasil, votação foi "exemplar" Índice
|