São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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Bolívia enfrenta greves nos setores de gás e transportes

Bloqueio de estrada em Camiri levou a confronto com Exército que deixou 22 feridos

Funcionários do gás pedem postos de trabalho, e setor de transporte reivindica que veto a exportação de óleo seja suspenso por 60 dias

DA REDAÇÃO

A tumultuada situação interna na Bolívia, onde governadores da oposição se negam a aceitar a reforma constitucional de Evo Morales e pregam a autonomia de seus Departamentos, ganhou novos contornos conflituosos nos últimos dias, com protestos e greves de trabalhadores dos setores de gás e petróleo e de transportes.
O diálogo entre o governo Morales e os comitês cívicos (entidades empresariais) da região gasífera de Camiri (leste) foi interrompido ontem, depois que o ministro dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, disse considerar "completamente inviável" atender o pedido dos petroleiros de criar mil novos postos de trabalho na região.
"Em toda a Bolívia, há 1.200 trabalhadores na YPFB [estatal de gás e petróleo]", disse Villegas. Além dos postos de trabalho, os líderes de Camiri exigem a nacionalização de um campo controlado pela empresa hispânico-argentina Repsol-YPF, entre outras demandas.
Com a interrupção do diálogo, os funcionários da indústria de gás de Camiri anunciaram que manterão o bloqueio de uma estrada que liga o Departamento de Santa Cruz à Argentina e que tomarão o campo da Repsol-YPF. Na sexta, houve confronto entre o Exército boliviano e os manifestantes, deixando 22 feridos -cenário que pode se repetir, já que tropas seguem mobilizadas na região.

Outros bloqueios
O bloqueio de estradas deve se espalhar para outras regiões, por motivos diversos. A Câmara Boliviana de Transporte (CBT), que reúne 560 empresas do setor do país, anunciou que iniciará hoje uma semana de greve, que incluirá bloqueios a rodovias que ligam o país a Peru, Chile e Argentina.
A medida é uma retaliação à decisão tomada na semana passada pelo governo Morales de proibir, por tempo indeterminado, a exportação de óleo comestível a países andinos, Holanda e Japão -mercados que respondem por ingressos anuais de US$ 200 milhões. O objetivo da medida é controlar a subida dos preços no mercado interno boliviano.
"Demandamos uma trégua de 60 dias no veto às exportações, para que o governo possa conversar com os produtores agropecuários e chegar a alguma conclusão", afirmou ontem o presidente da CBT, Enrique Martínez.
Paralelamente, o sindicato de motoristas convocou para amanhã e depois uma paralisação de 48 horas no transporte urbano. A medida incluirá o bloqueio de ruas e avenidas.
O motivo de mais esse protesto é o não-atendimento pelo governo de uma pauta de reivindicação dos motoristas, que demandam a revisão no regime impositivo que incide sobre eles e cobram subsídios.
A Bolívia vive uma profunda crise interna há meses, motivada pela Assembléia Constituinte convocada pelo presidente Evo Morales, que tem sua validade questionada pela oposição. O rico Departamento de Santa Cruz, governado por um oposicionista, convocou para o dia 4 de maio um referendo sobre sua autonomia, cuja validade é refutada por La Paz.


Com agências internacionais


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