São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009

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Cuba amplia reforma do setor agrícola

Raúl Castro transfere poder na empresa de distribuição de alimentos e dobra número de mercados com preços livres

Objetivo é tentar dar mais eficiência à produção, já que o país importa 60% dos alimentos; críticos veem entraves para as mudanças

Claudia Daut - 29.mar.09/Reuters
ARTE E TRIBUNA
Dançarinos participam de performance na Bienal de Arte de Havana; a artista Tania Bruguera ofereceu ontem ao público, entre eles críticos do governo, um minuto de tribuna livre no país

DA REUTERS

Em mais um passo para tentar injetar eficiência em sua combalida economia, o governo de Cuba realizará reformas no complexo estatal responsável pela compra e distribuição de 90% da produção agrícola do país e ampliará o espaço da economia de mercado no setor.
O dirigente Raúl Castro deve praticamente dobrar -de 156 para 300- o número de mercados livres em que agricultores podem comercializar a parcela de sua produção que exceda a cota que devem vender, a preços regulados, ao Estado.
O governo cubano, no entanto, ainda não anunciou oficialmente a mudança.
Tais agromercados são dos poucos locais na ilha onde funciona, em linhas gerais, um princípio de oferta e procura no estabelecimento de preços, o que permite ganhos maiores aos agricultores, incentivando a produção.
Ao mesmo tempo, Raúl Castro deve transferir o controle da compra e distribuição estatal de produtos do Ministério da Agricultura para o Ministério de Comércio Interior, mudança apoiada por fazendeiros locais. A ideia é tentar dar mais eficiência ao sistema, bastante criticado dentro de Cuba.
Uma maior produção de alimentos tem sido uma das metas prioritárias de Raúl Castro desde que ele assumiu o poder na ilha, no início do ano passado, já que Cuba hoje importa cerca de 60% do total de alimentos que consome.
Outras medidas já haviam sido adotadas: o governo aumentou o preço tabelado pago pelos produtos agrícolas -alguns triplicaram. Também terras públicas ociosas têm sido distribuídas a agricultores privados.
A reforma na agricultura, no entanto, enfrenta problemas. Na semana passada, o diário oficial "Juventude Rebelde" disse que ela "anda lentamente". Desde meados de 2008, meio milhão de hectares foram entregues a 56 mil pessoas, mas a maioria precisa de "alfabetização agrícola" e faltam até mesmo sementes e fios de arame para cercas, diz o jornal.
A produção agrícola também foi prejudicada pelos três furacões que atingiram a ilha no ano passado.

Menos burocracia
Problemas de ineficiência não são exclusivos da agricultura, e uma das interpretações para a reforma de gabinete promovida por Raúl Castro há um mês é a de que ele teria nomeado auxiliares próximos -muitos deles militares- para tentar impor reformas tecnocráticas em vários setores da vida econômica cubana.
Na semana passada, o governo deu um desses passos, ao pôr fim à exigência de que gastos de empresas estatais superiores a US$ 10 mil tivessem que ser previamente autorizados pelo Banco Central do país.
As regras anteriores tornavam ainda mais difíceis e morosas decisões de investimento numa economia bastante centralizada. O objetivo da nova medida é dar maior liberdade às empresas.


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