São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2010

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Vaticano quer blindar papa em processos

Segundo a Associated Press, Santa Sé prepara defesa para se desvincular de omissões em caso de abusos

DA ASSOCIATED PRESS

O Vaticano prepara defesa para blindar o papa Bento 16 em processo que corre no Estado americano de Kentucky pela suposta negligência da Santa Sé em casos de pedofilia. A ação, se resultar em condenação, pode abrir precedente a uma série de processos nos EUA contra o Vaticano por relatos de abusos.
No momento em que se acumulam revelações de casos de pedofilia nos EUA e na Europa -e em ao menos dois deles envolvendo o atual papa enquanto ele ainda não tinha assumido o cargo-, a defesa vai buscar desvincular a Santa Sé de acobertamentos, por parte de bispos, dos abusos a partir de três argumentos principais.
Segundo documento obtido pela agência Associated Press, o Vaticano pretende, primeiramente, alegar imunidade do papa por se tratar, além de líder da igreja, de chefe de Estado.
A defesa prevê também dizer que os bispos americanos responsáveis pelo acobertamento dos casos de pedofilia não são empregados do Vaticano e, por fim, que documento da década de 1960 apresentado pela acusação não proíbe bispos de denunciar à polícia os abusos.
Ainda de acordo com a Associated Press, uma prévia da argumentação da defesa foi apresentada no mês passado, e a peça será formalmente registrada nas próximas semanas.
O processo judicial foi aberto em 2004, na corte de Louisville, por três homens que dizem ter sido abusados por padres e acusam o Vaticano de negligência. O advogado da acusação, William McMurry, quer que o caso sirva de parâmetro para todos os demais em curso, dizendo haver milhares de vítimas de abusos semelhantes.
"Esse caso é o único caso já aberto contra o Vaticano que pretende unicamente fazer o Vaticano responder por todos os abusos já cometidos neste país", disse McMurry. "Não há nenhum outro réu. Não há bispos, não há padres", afirmou.
Para a acusação, a responsabilidade do Vaticano pelos casos é configurada pelo fato de os bispos serem, sim, empregados da Santa Sé e de o suposto documento dos anos 60 ordenar que eles não tornassem públicas as acusações de abusos.
O caso, se prosperar, tem o potencial de agravar a crise em que a Igreja Católica se encontra após os relatos de pedofilia que têm vindo à tona desde o ano passado -em países como Alemanha, Irlanda, Holanda, Áustria e Suíça, além dos EUA-, e a revelação na última semana de caso que indica omissão por parte de Bento 16.
No episódio, segundo o jornal "New York Times", o então cardeal Joseph Ratzinger poupou de julgamento em 1996 o padre Lawrence Murphy, acusado de molestar 200 garotos.


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