São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Brasil será sócio nº 1 de Cuba, diz Amorim

Venezuela é hoje o principal parceiro cubano; seminário leva à ilha empresários brasileiros interessados em investir

Acordo prevê cultivo de soja em projeto agrícola; setor, prioritário para a nova liderança cubana, começa a se abrir a estrangeiros


Efe
Amorim assina acordos em Havana com o chanceler cubano; ele saudou a "nova fase" da ilha

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O Brasil quer ser o "sócio número um" na "nova fase" da vida de Cuba. A mensagem foi trazida pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, que viajou a Havana com uma comissão de empresários. Ele assinou ontem um acordo para avançar a cooperação técnica para o plantio de soja na ilha, uma das raras experiências de parceria com estrangeiros em agricultura, alçada ao patamar de área estratégica pelo novo líder cubano, Raúl Castro.
"Este é um momento novo, renovado de Cuba. O Brasil não quer ser o sócio número dois, quer ser o sócio número um no progresso da ilha", disse o chanceler, ao lado do colega cubano, Felipe Pérez Roque.
O principal parceiro e aliado de Cuba é há alguns anos a Venezuela de Hugo Chávez, o que reveste o recado brasileiro também de sentido político (embora Amorim tenha dito que a liderança brasileira se dará "sem excluir" outros países). O Brasil é o número dois no ranking de intercâmbio comercial de Cuba com a América Latina (US$ 412 milhões em 2007), mas só o oitavo no mundo.
A missão brasileira chegou a Cuba anteontem para aprofundar os acordos fechados na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ilha -definida por Amorim como "de trabalho e de afeto". Segundo o ministro, Lula acompanha "pessoalmente" a parceria bilateral.
Se não tem os mais de US$ 2 bilhões anuais do comércio Venezuela-Cuba, que se traduz na troca de muito petróleo barato por serviços médicos cubanos e lastro ideológico, a proposta do Brasil é oferecer cooperação técnica, ajudar na "segurança alimentar" da ilha e negociar investimentos em infra-estrutura. Como os combustíveis, os últimos dois também são gargalos da economia cubana.
O único acordo assinado foi um instrumento jurídico para aprofundar a parceria técnica, por meio da Embrapa, para semear até 40 mil hectares de soja em Cuba. A parceria não envolve aquisição de terras.
Para conhecedores da ilha, a posse de terras por estrangeiros é veto consagrado pelo regime castrista, mas o investimento estrangeiro já acontece em vários setores desde os anos 90.
"As pessoas têm uma visão errada da economia de Cuba. O investimento estrangeiro está nas mais importantes áreas da economia. No turismo, na geração de energia, na exploração de petróleo", disse o ministro de Comércio Exterior cubano, Raúl de La Nuez.

Na mão de militares
O projeto da soja foi entregue às mãos da alta cúpula militar e é também acompanhado "pessoalmente" por Raúl Castro, como frisou o chanceler Pérez Roque em conversa com Amorim, diante dos jornalistas.
Da cerimônia de assinatura, participaram os dois responsáveis pela iniciativa, o general-de-divisão, Ruben Martínez Puente, diretor da União Agropecuária, espécie de braço militar para projetos agropecuários, e o coronel Abel Izquierdo, chefe da Direção Econômica das Forças Armadas.
Desde 2006, Raúl Castro anunciou ênfase na produção agropecuária, com uma série de medidas para ampliar a produtividade. E não parece um acaso que o projeto com o Brasil fique sob comando dos militares.
Raúl foi chefe das Forças Armadas desde 1959 e, na profunda crise dos anos 90, foram os militares que assumiram, e comandam até hoje, setores estratégicos da ilha como o turismo, a principal fonte de divisas.
Da missão brasileira, participaram representantes de cerca de 40 empresas, entre elas a construtora Camargo Correa e a Volvo -capital brasileiro já está na ilha em uma parceria para a produção de tabaco e na importação de máquinas agrícolas, principalmente. Também vieram representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo Amorim, o Brasil já tem acordo para crédito de US$ 150 milhões para a importação de alimentos. A Apex, agência brasileira de apoio à exportação, vai abrir escritório em Havana.


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