São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escolas públicas investem em educação patriótica

Partido Comunista emprega representantes para cooptar os melhores alunos

"Aula de patriotismo é bem relaxada: contanto que amemos o sistema, está tudo bem", narra estudante sobre ensinamento chinês

DE PEQUIM

As escolas públicas chinesas estão organizando até outubro, aniversário de 60 anos da Revolução Comunista, a campanha "Eu amo a minha Pátria".
Os alunos têm aulas sobre patriotismo e o Partido Comunista. Fazem redações sobre o Hino chinês e a "Internacional Socialista" e participam de concursos de poemas e canções sobre heróis nacionais.
Na Escola Pública Número 54, de Pequim, os melhores alunos participam da organização de parte dos eventos. O melhor de cada classe no Ensino Médio recebe um broche da Liga da Juventude Comunista da China, de uso obrigatório. No ensino básico, a distinção é um lenço vermelho no pescoço.
Outro privilégio é hastear a bandeira nacional na cerimônia que acontece toda segunda de manhã, às vezes presenciada por soldados da Praça Celestial.
"Uma vez por ano, levamos os melhores alunos para ver o hasteamento na praça da Paz Celestial", diz o secretário da Juventude Comunista na escola, Gao Jia, 28. Cada escola tem um secretário da Juventude Comunista, que ajuda a selecionar os melhores alunos e a recrutá-los para o partido.
A Folha conversou com os quatro melhores alunos da escola. Zhu Yuchen, Han Xingchen, Xu Yang e Liu Wenjing. Todos de 17 anos, querem ingressar no Partido Comunista.
A seleção não depende só das notas. "Avaliamos desde as habilidades físicas até o comportamento em sala de aula, se o aluno obedece os professores", conta Gao. Os selecionados são convidados para a Liga da Juventude Comunista, antessala da entrada no Partido.

Treinamento militar
Os melhores entre os selecionados podem participar de uma semana de treinamento militar. Aprendem a marchar, fazem escaladas e são surpreendidos com uma corrida noturna, uma evacuação com apitos nos dormitórios. "São provas duras, que exigem disciplina", diz o aluno Han, único escolhido para o treinamento.
Os quatro estudam, em média, 12 horas por dia. Das 7h40 às 17h, em sala de aula, com uma hora para o almoço. Mais quatro horas de lição de casa, inclusive aos sábados.
Só Han já teve namorada. Os outros três juram que não sofrem pressão contrária. "Só os professores mais velhos dizem que só devemos namorar após concluir os estudos", diz Zhu.
O que acham da aula de patriotismo? "É bem relaxada. Não precisamos estudar ou decorar fórmulas complicadas. É só ficar recitando slogans em voz alta, "Nós amamos a Pátria, nós amamos o socialismo'", conta Xu. "Contanto que amemos o sistema, está tudo bem." (RAUL JUSTE LORES)



Texto Anterior: "Na história chinesa, moderados sempre perdem"
Próximo Texto: Irã: Suspeitos de atentado são enforcados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.