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ANÁLISE
Democrata tenta mostrar "força"
TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES", EM BOSTON
John Kerry e seus partidários
vêm dizendo aos eleitores, há meses, que o senador é forte o suficiente para manter o país em segurança e se preocupa o suficiente
com as pessoas para que elas se
sintam à vontade com ele na Presidência. Anteontem, seu objetivo
foi mostrar ao maior público de
sua vida que ambas as afirmações
são verdadeiras.
Num discurso no qual empregou alguma variante da palavra
"força" 17 vezes, Kerry quis mostrar que tem plenas condições de
tornar-se comandante-em-chefe
e que seria imensamente preferível a George W. Bush -alguém
cuja experiência própria em combate lhe deu uma compreensão
especial das tradições americanas
de força e de contenção.
Ante pesquisas que mostram
um Bush vulnerável, mas ainda
visto como mais forte em relação
ao terror e menos inclinado à ambigüidade, Kerry ecoou as palavras de outro ianque reticente -o
primeiro presidente Bush, que, na
convenção republicana de 1988,
disse que "tudo se resume ao homem que está diante da escrivaninha". Kerry disse: "No fim das
contas, não são só políticas e programas que importam. O presidente sentado diante da escrivaninha deve se guiar por princípios".
A farpa na frase era clara: esse
homem é ele, não o segundo
Bush. E Kerry a afiou ainda mais
com sua versão própria da promessa feita pelo presidente atual,
quatro anos atrás, de "defender a
honra e a dignidade" da Presidência, jurando "devolver confiança e
credibilidade à Casa Branca".
Mas Kerry tinha outra tarefa a
cumprir, necessária para impedir
que seu espetáculo saísse de cartaz em Boston: assegurar aos eleitores que se importa com eles e
com suas preocupações. "Valorizamos uma América em que a
classe média não é arrochada,
mas melhora de condição".
É bem possível que Kerry tenha
conseguido começar a inspirar
seu partido e a convencer os eleitores indecisos a conduzi-lo à Casa Branca. Ele suou perceptivelmente no salão lotado, mas seu
discurso foi fluente e tranqüilo e
manifestou autoconfiança.
Em diversos momentos, falou
aos milhões de telespectadores e
eleitores ainda indecisos. Uma
pesquisa recente mostra que, até
agora, quase a metade dos eleitores indecisos ainda não tem opinião formada sobre Kerry.
"A população americana quer
saber se ele possui uma visão para
o país, se ele está pronto para liderar o país, se está preparado", disse o deputado Martin Meehan.
A resposta de Kerry foi que ele
será um pouco como os melhores
presidentes passados. Ele repetiu
frases ou conquistas de democratas como Franklin Roosevelt,
John Kennedy e Bill Clinton. Ele
ecoou Roosevelt e recebeu aplausos: "O futuro não pertence ao
medo, pertence à liberdade".
Mas Kerry, cuja longa carreira
no Senado se caracterizou por um
rastro de votos às vezes contraditórios, é mais vulnerável a acusações de inconsistência. Por esse
motivo ele se esforçou para se
mostrar um cético resoluto, alguém que "vai formular perguntas difíceis e exigir evidências incontestáveis" e que vai garantir
que "a política nacional seja guiada pelos fatos e que os fatos nunca
sejam distorcidos pela política".
Kerry concluiu com mais uma
farpa. "Agora é nossa vez de indagar: E se?". Ele se perguntou se
médicos poderão encontrar cura
para doenças e se o país poderá
encontrar "um presidente que
acredita na ciência" e "uma liderança tão boa quanto o sonho
americano". Kerry saberá a resposta em 2 de novembro.
Tradução de Clara Allain
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