São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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ANÁLISE

Democrata tenta mostrar "força"

TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES", EM BOSTON

John Kerry e seus partidários vêm dizendo aos eleitores, há meses, que o senador é forte o suficiente para manter o país em segurança e se preocupa o suficiente com as pessoas para que elas se sintam à vontade com ele na Presidência. Anteontem, seu objetivo foi mostrar ao maior público de sua vida que ambas as afirmações são verdadeiras.
Num discurso no qual empregou alguma variante da palavra "força" 17 vezes, Kerry quis mostrar que tem plenas condições de tornar-se comandante-em-chefe e que seria imensamente preferível a George W. Bush -alguém cuja experiência própria em combate lhe deu uma compreensão especial das tradições americanas de força e de contenção.
Ante pesquisas que mostram um Bush vulnerável, mas ainda visto como mais forte em relação ao terror e menos inclinado à ambigüidade, Kerry ecoou as palavras de outro ianque reticente -o primeiro presidente Bush, que, na convenção republicana de 1988, disse que "tudo se resume ao homem que está diante da escrivaninha". Kerry disse: "No fim das contas, não são só políticas e programas que importam. O presidente sentado diante da escrivaninha deve se guiar por princípios".
A farpa na frase era clara: esse homem é ele, não o segundo Bush. E Kerry a afiou ainda mais com sua versão própria da promessa feita pelo presidente atual, quatro anos atrás, de "defender a honra e a dignidade" da Presidência, jurando "devolver confiança e credibilidade à Casa Branca".
Mas Kerry tinha outra tarefa a cumprir, necessária para impedir que seu espetáculo saísse de cartaz em Boston: assegurar aos eleitores que se importa com eles e com suas preocupações. "Valorizamos uma América em que a classe média não é arrochada, mas melhora de condição".
É bem possível que Kerry tenha conseguido começar a inspirar seu partido e a convencer os eleitores indecisos a conduzi-lo à Casa Branca. Ele suou perceptivelmente no salão lotado, mas seu discurso foi fluente e tranqüilo e manifestou autoconfiança.
Em diversos momentos, falou aos milhões de telespectadores e eleitores ainda indecisos. Uma pesquisa recente mostra que, até agora, quase a metade dos eleitores indecisos ainda não tem opinião formada sobre Kerry.
"A população americana quer saber se ele possui uma visão para o país, se ele está pronto para liderar o país, se está preparado", disse o deputado Martin Meehan.
A resposta de Kerry foi que ele será um pouco como os melhores presidentes passados. Ele repetiu frases ou conquistas de democratas como Franklin Roosevelt, John Kennedy e Bill Clinton. Ele ecoou Roosevelt e recebeu aplausos: "O futuro não pertence ao medo, pertence à liberdade".
Mas Kerry, cuja longa carreira no Senado se caracterizou por um rastro de votos às vezes contraditórios, é mais vulnerável a acusações de inconsistência. Por esse motivo ele se esforçou para se mostrar um cético resoluto, alguém que "vai formular perguntas difíceis e exigir evidências incontestáveis" e que vai garantir que "a política nacional seja guiada pelos fatos e que os fatos nunca sejam distorcidos pela política".
Kerry concluiu com mais uma farpa. "Agora é nossa vez de indagar: E se?". Ele se perguntou se médicos poderão encontrar cura para doenças e se o país poderá encontrar "um presidente que acredita na ciência" e "uma liderança tão boa quanto o sonho americano". Kerry saberá a resposta em 2 de novembro.


Tradução de Clara Allain


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