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Fome atinge 28% das crianças do Iraque
Relatório da entidade humanitária Oxfam diz ainda que invasão e conflitos colocaram 43% abaixo da linha de pobreza
Crise humanitária se traduz
por 70% sem água potável e
por 2 milhões obrigados a
abandonar seus domicílios,
perdendo o direito à comda
Alaa Marjani/Associated Press
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Crianças em um campo para deslocados internos perto de Najaf |
DA REDAÇÃO
Em razão dos desdobramentos da invasão americana e da
violência interna, o Iraque está
atravessando uma crise humanitária com o perfil de qualquer
país miserável da África subsaariana. Cerca de 43% da população está abaixo do nível de
pobreza, 15% dos iraquianos
não têm regularmente o que
comer, 70% não dispõem de
água potável e 28% das crianças
estão subnutridas -contra
19%, antes do início da guerra.
Esses dados estão em relatório divulgado ontem pela Oxfam, uma organização humanitária sediada em Londres. Ela o
elaborou em conjunto com a
Comissão de Coordenação das
ONGs (entidades não-governamentais) no Iraque, que por sua
vez reúne duas centenas de organizações envolvidas em tarefas beneficentes.
Mesmo sem serem inéditos,
esses números fornecem pela
primeira vez um retrato de
conjunto da crise enfrentada
por um país em que a violência
endêmica substituiu o regime
deposto do ditador Saddam
Hussein, durante o qual a população viveu mais de uma década de embargo, que afetou a
produção e a distribuição de gêneros essenciais.
Segundo a Oxfam, cerca de 8
milhões de iraquianos -o país
tem 27,5 milhões de habitantes- precisam de alguma ajuda
de emergência. Entre eles estão
os 2 milhões que foram obrigados a deixar seus domicílios para escapar à violência e os 2 milhões que deixaram o país para
se refugiar em países vizinhos,
o que criou uma crise demográfica na Síria e na Jordânia.
O primeiro grupo, o dos "exilados internos", perde o direito
a receber os benefícios do programa governamental que distribui alimentos. Assim, entre
os 4 milhões de iraquianos
mais pobres, esse auxílio beneficiava há três anos 96% dos cadastrados. Hoje só beneficia
60%. Eles são parte dos 4 milhões que conseguem fazer
uma refeição apenas com certa
irregularidade.
Os dados da subnutrição infantil são alarmantes -quase
um terço não tem o que comer.
Nas escolas públicas, 92% das
crianças têm problemas sérios
de aprendizado.
"Os serviços básicos, arruinados pela guerra e pelas sanções econômicas, não podem
satisfazer a demanda", diz Jeremy Hobbs, diretor da Oxfam
Internacional. Ele faz um apelo
para que entidades e instituições oficiais estrangeiras reforcem suas doações.
A própria ajuda humanitária
americana, diz a BBC, corresponde hoje a um décimo daquilo que representava em 2004.
Corrupção endêmica
Um alto funcionário americano, indicado pelo Congresso
para acompanhar os gastos de
bilhões de dólares destinados
pelos Estados Unidos à reconstrução do Iraque, disse à BBC
que a corrupção é aparentemente generalizada e que uma
parcela substancial do dinheiro
vem sendo desviado ou sendo
objeto de desperdício.
Segundo Stuart Bowen, foram até agora feitas 95 auditorias que demonstraram alguma
irregularidade. Entre elas, 57
caminham para processos criminais. Ele não é específico
quanto à acusação, mas pressupõe a ocorrência de desvio de
verbas e superfaturamento.
Bowen disse ainda que no
ano passado o governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki gastou apenas 22% do orçamento destinado à reconstrução do país, o que é irrisório se
comparado aos 99% que foram
gastos para o pagamento de salários de servidores públicos.
Com agências internacionais
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