São Paulo, terça-feira, 31 de julho de 2007

Próximo Texto | Índice

Fome atinge 28% das crianças do Iraque

Relatório da entidade humanitária Oxfam diz ainda que invasão e conflitos colocaram 43% abaixo da linha de pobreza

Crise humanitária se traduz por 70% sem água potável e por 2 milhões obrigados a abandonar seus domicílios, perdendo o direito à comda

Alaa Marjani/Associated Press
Crianças em um campo para deslocados internos perto de Najaf


DA REDAÇÃO

Em razão dos desdobramentos da invasão americana e da violência interna, o Iraque está atravessando uma crise humanitária com o perfil de qualquer país miserável da África subsaariana. Cerca de 43% da população está abaixo do nível de pobreza, 15% dos iraquianos não têm regularmente o que comer, 70% não dispõem de água potável e 28% das crianças estão subnutridas -contra 19%, antes do início da guerra.
Esses dados estão em relatório divulgado ontem pela Oxfam, uma organização humanitária sediada em Londres. Ela o elaborou em conjunto com a Comissão de Coordenação das ONGs (entidades não-governamentais) no Iraque, que por sua vez reúne duas centenas de organizações envolvidas em tarefas beneficentes.
Mesmo sem serem inéditos, esses números fornecem pela primeira vez um retrato de conjunto da crise enfrentada por um país em que a violência endêmica substituiu o regime deposto do ditador Saddam Hussein, durante o qual a população viveu mais de uma década de embargo, que afetou a produção e a distribuição de gêneros essenciais.
Segundo a Oxfam, cerca de 8 milhões de iraquianos -o país tem 27,5 milhões de habitantes- precisam de alguma ajuda de emergência. Entre eles estão os 2 milhões que foram obrigados a deixar seus domicílios para escapar à violência e os 2 milhões que deixaram o país para se refugiar em países vizinhos, o que criou uma crise demográfica na Síria e na Jordânia.
O primeiro grupo, o dos "exilados internos", perde o direito a receber os benefícios do programa governamental que distribui alimentos. Assim, entre os 4 milhões de iraquianos mais pobres, esse auxílio beneficiava há três anos 96% dos cadastrados. Hoje só beneficia 60%. Eles são parte dos 4 milhões que conseguem fazer uma refeição apenas com certa irregularidade.
Os dados da subnutrição infantil são alarmantes -quase um terço não tem o que comer. Nas escolas públicas, 92% das crianças têm problemas sérios de aprendizado.
"Os serviços básicos, arruinados pela guerra e pelas sanções econômicas, não podem satisfazer a demanda", diz Jeremy Hobbs, diretor da Oxfam Internacional. Ele faz um apelo para que entidades e instituições oficiais estrangeiras reforcem suas doações.
A própria ajuda humanitária americana, diz a BBC, corresponde hoje a um décimo daquilo que representava em 2004.

Corrupção endêmica
Um alto funcionário americano, indicado pelo Congresso para acompanhar os gastos de bilhões de dólares destinados pelos Estados Unidos à reconstrução do Iraque, disse à BBC que a corrupção é aparentemente generalizada e que uma parcela substancial do dinheiro vem sendo desviado ou sendo objeto de desperdício.
Segundo Stuart Bowen, foram até agora feitas 95 auditorias que demonstraram alguma irregularidade. Entre elas, 57 caminham para processos criminais. Ele não é específico quanto à acusação, mas pressupõe a ocorrência de desvio de verbas e superfaturamento.
Bowen disse ainda que no ano passado o governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki gastou apenas 22% do orçamento destinado à reconstrução do país, o que é irrisório se comparado aos 99% que foram gastos para o pagamento de salários de servidores públicos.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Casa Branca confirma pacote de US$ 63 bi em armas para aliados árabes e Israel
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.