São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009

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Teerã vive dia de violência em protestos por mortos

Polícia reprime atos da oposição em homenagem a 40 dias da morte de estudante

Reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que seus críticos veem como fraudulenta, continua a alimentar manifestações

Associated Press
Reformista Mehdi Karroubi(ao centro) vai a ato em Teerã

DA REDAÇÃO

Confrontos entre opositores e autoridades voltaram a convulsionar Teerã ontem, quando milhares de pessoas tentaram organizar atos em homenagem aos mortos nos protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad no pleito de 12 de junho passado.
Os atos marcariam o luto islâmico dos 40 dias da morte da estudante Neda Agha-Soltan, 26, que levou um tiro no peito em protesto em 20 de junho. Sua morte foi flagrada pela câmera de um celular e ela se tornou símbolo da oposição -o governo nega envolvimento no crime. Pelo menos 20 pessoas morreram, e dezenas foram presas em meio à violenta repressão dos atos pela anulação do pleito, visto por críticos como fraudulento.
Um dos focos de violência foi uma cerimônia convocada pelo líder oposicionista Mir Hossein Mousavi, que oficialmente perdeu a eleição para Ahmadinejad, no cemitério Behesht-e Zahra, onde fica o túmulo de Neda. A polícia o impediu de participar do ato.
Ainda assim, milhares de pessoas compareceram, gritando slogans como "Neda está viva, Ahmadinejad está morto". O reformista Mehdi Karroubi tentou discursar e foi interrompido por forças de segurança, que dispersaram a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e bastões. Várias pessoas foram detidas, inclusive o proeminente cineasta iraniano Jafar Panahi.
Ao longo do dia, os manifestantes voltaram a se aglomerar e enfrentaram a polícia nas ruas de Teerã. Muitos usavam camisetas ou fitas verdes, a cor da campanha de Mousavi.
Em Grand Mosala, local de oração, policiais impediram protestos e homenagens aos mortos. Na rua Vali Asr, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo contra dezenas de manifestantes, que queimaram pneus em resposta. A realização das manifestações havia sido proibida pelas autoridades.
"Há milhares de pessoas gritando slogans em defesa de Mousavi. Mas centenas de policiais da tropa de choque se reuniram ao redor de Grand Mosala e em ruas próximas para dispersá-las", disse uma testemunha à agência Reuters.

Rixa política
O dia de ontem foi marcado também por falas de políticos de oposição a Ahmadinejad. O ex-presidente Mohammad Khatami, aliado de Mousavi, afirmou em um encontro de membros reformistas do Parlamento que "crimes aconteceram" depois da eleição.
"Nosso povo -jovens, mulheres, homens- teve um tratamento que, se praticado em prisões estrangeiras, provocaria protestos. Esse comportamento é prejudicial para a revolução e para a sociedade."
Acredita-se que centenas de participantes dos protestos das últimas semanas continuam em centros de detenção no Irã, apesar de o governo ter fechado uma prisão e libertado mais de cem pessoas nesta semana. Julgamentos contra alguns dos detidos, acusados de porte de armas e explosivos, deverão começar amanhã.
As mortes de vários jovens manifestantes -alguns dos quais foram torturados em prisões, segundo a oposição- alimentaram a revolta popular contra a repressão. A agitação social que envolve o país é a maior desde a Revolução Islâmica, em 1979.


Com agências internacionais


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