São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Republicanos dizem que conciliação com Obama se aproxima

Líder no Senado diz que não haverá calote, mas democratas não confirmam; EUA têm de elevar o teto de endividamento

Especialista afirma que o impasse afeta a reputação e faz a América parecer 'gigante digno de pena'

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após dias de impasse entre o presidente Barack Obama e republicanos por conta da elevação do limite do endividamento americano, líderes de oposição anunciaram no fim da tarde de ontem que acordo "está próximo" e prometeram que não haverá calote. Não deram detalhes, no entanto.
"Estou confiante e otimista [...] que haverá um acordo num futuro próximo. Um calote nacional não acontecerá", disse o líder republicano no Senado, Mitch McConnell.
Ele afirmou que a mudança no cenário se deveu a novas conversas com o próprio Obama ontem ao longo do dia. A seu lado, estava o presidente da Câmara, o também republicano John Boehner.
Obama não havia comentado as declarações até o fechamento desta edição. O presidente chamou a liderança de seu partido para uma conversa ontem à noite.
O líder democrata no Senado, Harry Reid, disse, por outro lado, que não houve grande progresso nas conversas e que achava difícil um acordo ser fechado no fim de semana.
Antes, a Câmara, controlada pela oposição, havia votado contra um plano de corte de gastos do Senado, controlado pelos governistas.
Depois de amanhã, vence o prazo para um acordo que eleve o limite de endividamento dos EUA, atualmente em US$ 14,3 trilhões.
Sem isso, o país não pode mais tomar dinheiro emprestado para honrar os compromissos. Assim, terá de optar entre medidas como calote em seus credores externos e suspensão dos pagamentos de pensionistas e servidores.

FALTA DE EDUCAÇÃO
Segundo analistas, desacostumados à posição de assombração das finanças globais, os americanos acordaram tarde para o problema de sua dívida e agora temem que as consequências do impasse avariem ainda mais sua imagem no mundo e seu depenado caixa doméstico.
Levantamento do centro de pesquisa Pew que contrapõe respostas de junho a respostas do fim de semana passado (antes do ápice de tensão) mostra um salto de nove pontos, para 38%, dos que dizem seguir o debate "muito de perto".
Em outra sondagem do mesmo instituto, 68% defenderam um acordo entre governo e oposição. Há apenas três semanas, pesquisa do Gallup indicava que só 22% queriam a elevação do teto da dívida dos EUA.
"Esse problema se tornou tão urgente que acabou capturando muita atenção", disse à Folha Jerome Powell, pesquisador no Centro de Políticas Bipartidárias.
Especialistas veem nesse despertar atrasado um sintoma de desinformação.
"Os americanos não são informados o suficiente sobre outros países", diz Isabel Sawhill, especialista em Orçamento e política fiscal na Brookings Institution, para quem a população está em negação por querer uma solução indolor.
"Eles não viam paralelo nenhum [com essas crises], pois acham que os EUA são dotados de uma capacidade única de resolver problemas."
Para Linda Bilmes, que passou por vários governos e hoje leciona finanças públicas em Harvard, a raiz da questão são os impostos e a ignorância sobre eles.
"A maior razão para a dívida estar tão alta é que George W. Bush cortou impostos duas vezes no exato momento em que fomos a duas guerras", diz. "Nas demais guerras que os EUA travaram, os impostos subiram para ajudar a cobrir os custos."
Para Frank Newport, do Gallup, as expectativas dos americanos em relação à economia só pioram, em muito devido ao debate.
"As pessoas ouvem sobre os efeitos horríveis de não subir o teto da dívida sobre sua vida diária. E pensam 'devemos estar em péssima forma para que isso faça tão mal'. Claramente, o debate teve seu peso na psique americana", diz Newport.
Mas é Sawhill quem resume o medo maior no incosciente americano -não tão distante, aliás, daquele muito ouvido na Europa ao se descobrir devedora em 2009.
"As consequências sobre a reputação dos EUA serão bem adversas, pois esse impasse faz parecer que nós não conseguimos governar o país", afirma. "E que somos um gigante digno de pena."

Colaborou Luciana Coelho, de Washington


Próximo Texto: Nunca foi tão difícil conseguir um emprego
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.