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SUCESSÃO NOS EUA / ESTRATÉGIA DE GUERRA
Republicanos apostam em militarismo
Convenção vai explorar fantasma do 11 de Setembro e vender McCain como solução
Intenção é reforçar imagem de senador como líder das Forças Armadas; analistas vêem risco em insistência em tema lateral na disputa
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
Um certo cheiro de pólvora já
se espalha pelos EUA a partir
de Saint Paul (Minnesota), onde o Partido Republicano promove entre amanhã e quinta-feira sua convenção nacional,
que oficializará a candidatura
do senador do Arizona John
McCain à Casa Branca.
A temática militar, de forma
direta ou diluída, permeará a
programação, desenhada não
apenas para enfatizar que
McCain será o "melhor comandante-em-chefe" -mas para
dizer que, sete anos depois dos
quase 3.000 mortos nos atentados do 11 de Setembro, o país
ainda tem o que temer.
Ex-oficial da Marinha, como
o pai e o avô, prisioneiro no
combate do Vietnã por quase
seis anos, McCain é tido nos
EUA como "herói de guerra".
Tornou-se famoso após uma
entrevista que deu na prisão,
em cenas históricas de sofrimento que pavimentaram seu
caminho ao Senado, onde está
há quase três décadas.
A convenção celebrará essa
biografia. Com o tema-chave
"O país primeiro", será dividida
entre os tópicos "serviço" (em
benefício da pátria), "reforma",
"prosperidade" e "paz". Sobre
os discursos de abertura na segunda-feira, a programação oficial diz que "iluminarão o histórico de sacrifício de John
McCain e refletirão seu comprometimento em servir uma
causa maior que seus próprios
interesses".
Tal "sacrifício" tem sido evocado por McCain nas oportunidades mais diversas. Criticado
por dizer que não sabia quantas
casas tem (são sete), listou na
TV suas agruras na prisão. "Eu
não tinha uma casa. Eu não tinha uma mesa de cozinha. Eu
não tinha uma cadeira."
Nas pesquisas de intenção de
voto, McCain é tido como mais
preparado para ser comandante-em-chefe do que Barack
Obama, em percentuais que
são quase o dobro dos obtidos
pelo democrata. Por outro lado,
a segurança nacional é apontada como preocupação secundária do eleitorado, mais interessado hoje em questões como
recessão e o preço da gasolina.
"McCain enfatiza o assunto
que é seu trunfo entre os eleitores, mas corre o risco de exagerar. Ele pode repetir o erro do
[ex-pré-candidato republicano
Rudolph] Giuliani, que falava
tanto de sua atuação memorável no 11 de Setembro [quando
era prefeito de Nova York] que
deixou a percepção de que estava usando friamente a dor como jogo político", disse à Folha
o analista político Michael
McDonald, do instituto Brookings, de Washington.
A convenção republicana terá discursos de Giuliani, do
presidente George W. Bush e
da candidata a vice Sarah Palin
(governadora do Alasca), entre
outros nomes.
Sem dificuldade
Para David King, da Universidade Harvard, McCain tem
em seu favor pouco questionamento sobre suas posições.
"Ele condenou duramente a
Rússia por invadir a Geórgia, e
nem eleitores nem a mídia fizeram o paralelo óbvio da invasão
do Iraque pelos EUA, que ele
defende. Assim não fica difícil
reviver o medo da Guerra Fria."
Ao contrário de Obama, que
continua contrário à Guerra no
Iraque e propõe um cronograma para retirada das tropas do
país, o republicano afirma que é
possível sair de lá com "vitória".
Nos próximos dias, os militares americanos transferem a
Província de Anbar para os iraquianos, deixando mensagem
de "missão cumprida". "Agendar essa retirada para a semana
do discurso de McCain é tanta
coincidência quanto Obama
discursar nos 45 anos do discurso "Eu Tenho Um Sonho",
de Martin Luther King. Ou seja,
não é coincidência nenhuma",
diz David King.
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