São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ESTRATÉGIA DE GUERRA

Republicanos apostam em militarismo

Convenção vai explorar fantasma do 11 de Setembro e vender McCain como solução

Intenção é reforçar imagem de senador como líder das Forças Armadas; analistas vêem risco em insistência em tema lateral na disputa


DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A DENVER

Um certo cheiro de pólvora já se espalha pelos EUA a partir de Saint Paul (Minnesota), onde o Partido Republicano promove entre amanhã e quinta-feira sua convenção nacional, que oficializará a candidatura do senador do Arizona John McCain à Casa Branca.
A temática militar, de forma direta ou diluída, permeará a programação, desenhada não apenas para enfatizar que McCain será o "melhor comandante-em-chefe" -mas para dizer que, sete anos depois dos quase 3.000 mortos nos atentados do 11 de Setembro, o país ainda tem o que temer.
Ex-oficial da Marinha, como o pai e o avô, prisioneiro no combate do Vietnã por quase seis anos, McCain é tido nos EUA como "herói de guerra". Tornou-se famoso após uma entrevista que deu na prisão, em cenas históricas de sofrimento que pavimentaram seu caminho ao Senado, onde está há quase três décadas.
A convenção celebrará essa biografia. Com o tema-chave "O país primeiro", será dividida entre os tópicos "serviço" (em benefício da pátria), "reforma", "prosperidade" e "paz". Sobre os discursos de abertura na segunda-feira, a programação oficial diz que "iluminarão o histórico de sacrifício de John McCain e refletirão seu comprometimento em servir uma causa maior que seus próprios interesses".
Tal "sacrifício" tem sido evocado por McCain nas oportunidades mais diversas. Criticado por dizer que não sabia quantas casas tem (são sete), listou na TV suas agruras na prisão. "Eu não tinha uma casa. Eu não tinha uma mesa de cozinha. Eu não tinha uma cadeira."
Nas pesquisas de intenção de voto, McCain é tido como mais preparado para ser comandante-em-chefe do que Barack Obama, em percentuais que são quase o dobro dos obtidos pelo democrata. Por outro lado, a segurança nacional é apontada como preocupação secundária do eleitorado, mais interessado hoje em questões como recessão e o preço da gasolina.
"McCain enfatiza o assunto que é seu trunfo entre os eleitores, mas corre o risco de exagerar. Ele pode repetir o erro do [ex-pré-candidato republicano Rudolph] Giuliani, que falava tanto de sua atuação memorável no 11 de Setembro [quando era prefeito de Nova York] que deixou a percepção de que estava usando friamente a dor como jogo político", disse à Folha o analista político Michael McDonald, do instituto Brookings, de Washington.
A convenção republicana terá discursos de Giuliani, do presidente George W. Bush e da candidata a vice Sarah Palin (governadora do Alasca), entre outros nomes.

Sem dificuldade
Para David King, da Universidade Harvard, McCain tem em seu favor pouco questionamento sobre suas posições. "Ele condenou duramente a Rússia por invadir a Geórgia, e nem eleitores nem a mídia fizeram o paralelo óbvio da invasão do Iraque pelos EUA, que ele defende. Assim não fica difícil reviver o medo da Guerra Fria."
Ao contrário de Obama, que continua contrário à Guerra no Iraque e propõe um cronograma para retirada das tropas do país, o republicano afirma que é possível sair de lá com "vitória".
Nos próximos dias, os militares americanos transferem a Província de Anbar para os iraquianos, deixando mensagem de "missão cumprida". "Agendar essa retirada para a semana do discurso de McCain é tanta coincidência quanto Obama discursar nos 45 anos do discurso "Eu Tenho Um Sonho", de Martin Luther King. Ou seja, não é coincidência nenhuma", diz David King.


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