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Com economia estagnada, Japão sofre com sem-teto
Parque em Tóquio vira acampamento de camponeses e de desempregados
Japoneses sem emprego recorrem até a cibercafés como opção para dormir;
na campanha, PDJ prometeu
criar fundo para os sem-teto
Raul Juste Lores/Folha Imagem
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Tokumalu Nuliasu, que vive há 6 meses em parque de Tóquio
DO ENVIADO A TÓQUIO
Dezenas de barracas de plástico azul, espalhadas ao longo
do parque Ueno, um dos maiores de Tóquio, são um dos reflexos da estagnação econômica
que atinge o Japão há quase
duas décadas.
Nelas, moram desde camponeses que tentaram a vida na
capital até aqueles que deixaram suas famílias por não suportar o desemprego.
Os sem-teto viraram tema da
campanha eleitoral. O Partido
Democrata do Japão, grande
vencedor do pleito de ontem,
prometeu criar um fundo para
quem não tem moradia.
Nos últimos anos, esse grupo
cresceu. Além do parque, a reportagem também viu barracas
azuis ao longo do rio Sumida.
Na estação de trens e metrô de
Shinjuku, a maior de Tóquio,
50 pessoas dormiam na noite
de ontem em caixas de papelão
transformadas em cama. A cena se repete nas estações de
Ikebukuro e Shibuya.
O aluguel de um apartamento de 30 m2 em Tóquio custa
pelo menos 75 mil ienes (R$
1.532).
Jovens desempregados, que
não conseguem mais pagar aluguel, improvisam moradia até
em cabines de cibercafés. Eles
chegam às 18h e pagam mil ienes (R$ 21) para passar a noite
no cubículo. Tiram os sapatos e
dormem sentados, nem sequer
fingindo que estão navegando
na rede.
Alguns tomam banho no
próprio estabelecimento. O governo de Tóquio estima que há
5.000 moradores temporários
de cibercafés desde o final de
2008.
Os números dos sem-teto
são irrisórios se comparados ao
Brasil, mas são um contraste
para uma das cidades mais
opulentas do mundo.
Tóquio é o maior mercado de
marcas de luxo do planeta. As
ruas comerciais de Nova York e
Londres parecem modestas
comparadas às de Ginza e
Omotesando, com lojas desenhadas por arquitetos de fama
internacional.
Vergonha
A sociedade igualitária surgida no Japão do pós-guerra, com
uma sólida classe média, também está em crise.
"Faço bicos como mecânico,
conserto televisores e posso ganhar 5.000 ienes (R$ 102) em
um dia", disse à Folha o desempregado Tokumalu Nuliasu, 52.
Ele mora há seis meses em uma
barraquinha de plástico em
Ueno.
Até os 38 anos, Tokumalu
trabalhava em uma fábrica de
eletrônicos, que produzia fliperamas. De lá para cá,teve empregos de contrato temporário
em linhas de montagem de televisores e eletrodomésticos.
Desde o ano passado, não
volta ao sul do Japão, onde mora a sua família, "por vergonha". A prefeitura já tentou remover a sua barraca, mas "eles
sabem como está a situação,
então preferem olhar para o
outro lado".
Vizinhos de Tokumalu, que
se negaram a revelar a identidade, contam que catam latas
usadas pela cidade e vendem a
75 ienes o quilo (R$ 1,50).
Tokumalu não votou ontem,
mas tem esperanças. "Acho
que o país pode mudar, porque
os democratas são mais humanos, gostam dos mais pobres,
mas vai levar tempo", diz.
"O Japão está endividado, e
temos cada vez mais velhos. Eu
não tenho aposentadoria,
quem vai pagar por ela?", pergunta.
(RJL)
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