São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2010

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Campanha palestina pressiona Israel

Às vésperas de negociações diretas, lideranças palestinas miram público israelense com anúncios milionários

Divergências políticas e ceticismo embaçam perspectiva de encontro amanhã nos EUA, após 2 anos de paralisação


Ariel Schalit/Associated Press
O israelense Binyamin Netanyahu, em reunião de seu partido, ontem, emTel Aviv

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Num esforço inédito para superar a desconfiança dos israelenses, políticos palestinos decidiram aderir a uma campanha milionária na mídia, em que se dirigem a eles de forma direta com a pergunta: "Nós somos parceiros. E vocês?".
A poucos dias da abertura de mais uma rodada de negociações do processo de paz que se arrasta há duas décadas, a pergunta toca num dos elementos cruciais para que ele seja bem sucedido: o apoio da opinião pública, principalmente a israelense.
Financiada pelo governo americano e orquestrada pela Iniciativa de Genebra, grupo formado por israelenses e palestinos que defendem um acordo de paz, a campanha ocupa outdoors e veículos de imprensa em Israel.
Alguns dos dirigentes palestinos falam em hebraico, como Jibril Rajoub, que aprendeu o idioma nos 17 anos em que passou em prisões israelenses por participação na luta armada.
"Temos uma oportunidade histórica de chegar a um acordo de paz", diz Rajoub, que já foi chefe da segurança palestina e hoje preside o comitê olímpico e a federação de futebol palestinos.
"A liderança palestina está comprometida com a solução de dois Estados, e há consenso no mundo árabe em reconhecer Israel com o fim da ocupação".
O ceticismo entre os analistas cerca a nova etapa do processo de paz, que terá início amanhã com um jantar na Casa Branca em que o presidente Barack Obama receberá o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Será o retorno das negociações diretas após quase dois anos de paralisação.
As pesquisas de opinião mostram que o pessimismo não se limita aos especialistas. Segundo o mais recente "índice da paz", sondagem periódica realizada pela Universidade Tel Aviv, embora 71,5% dos israelenses sejam a favor de negociações com os palestinos, apenas 32,3% acreditam no seu sucesso.
Para o cientista político Avraham Diskin, da Universidade de Jerusalém, o apelo dos dirigentes palestinos não será suficiente para quebrar a desconfiança israelense.
"Primeiro, existe um cansaço histórico, após tantas negociações fracassadas. Além disso, os dirigentes palestinos não convencem de que há do outro lado um parceiro disposto a reconhecer Israel como o Estado judeu." O principal motivo do ceticismo é a distância entre as partes, sobretudo em relação às colônias judaicas nos territórios palestinos.
Enquanto Israel indica que continuará as construções após o fim da moratória de dez meses, em 26 de setembro, os palestinos advertem que isso os levará a abandonar as negociações.
Segundo pesquisa com 3.000 palestinos, 65% apoiam as negociações, mas sob a condição de que as construções continuem congeladas e que haja garantias para um Estado palestino.


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