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ENTREVISTA
Nos EUA, lobby judeu perde apoio entre mais jovens
JOÃO FELLET
DE SÃO PAULO
Às vésperas da retomada
das conversas de paz entre
israelenses e palestinos, os
judeus americanos estão rachados quanto à forma de
lidar com o Estado judaico.
De um lado, uma crescente e poderosa população
ortodoxa mantém o apoio
incondicional às atitudes
do país. De outro, há cada
vez mais jovens judeus dispostos a criticar as atitudes
do governo.
A análise é do historiador
americano judeu Peter Beinart, 39.
Mestre em relações internacionais por Oxford, Beinart gerou polêmica com artigo na "The New York Review of Books" intitulado
"O fracasso do establishment judeu americano".
Nele, argumenta que, por
frequentemente serem filhos de casais mistos e não
terem vivenciado conflitos
que ameaçaram a existência de Israel, jovens judeus
não ortodoxos se sentem
menos ligados ao país.
Leia, abaixo, trechos da
entrevista à Folha.
Folha - Há um racha crescente na sociedade americana a
respeito de Israel?
Peter Beinart - Sim. No
meio do século 20, apoiar
Israel era considerado uma
causa de esquerda, uma
questão democrática. O
Partido Republicano era
considerado anti-Israel.
Isso mudará gradualmente. A divisão bipartidária que tanto afeta a política
americana será sentida em
Israel. Liberais democratas
gradualmente se tornarão
mais encorajados a criticar
as políticas de Israel.
Quem são os principais
apoiadores de Israel nos
EUA hoje?
Se falamos de apoio acrítico a qualquer ação de Israel, os três bastiões mais
fortes são os cristãos evangélicos, alguns elementos
dos católicos conservadores e os judeus ortodoxos
-grupos essencialmente
republicanos.
Os eleitores do Partido
Democrata, que são afro-americanos, latinos, brancos seculares, não são hostis a Israel, mas são mais
propensos a criticar algumas políticas do país.
A ligação de judeus não ortodoxos com Israel aumenta
conforme eles envelhecem?
Se fosse verdade que há
um efeito de ciclo de vida,
as estatísticas mostrariam
um aumento da ligação na
meia-idade e uma queda.
Mas o que se vê é que
quem tem 60 anos é mais ligado do que quem tem 40,
que é mais ligado do que
quem tem 20...
A assimilação tem um papel. Há um estudo recente
focado em jovens judeus
americanos não ortodoxos
que não estão se assimilando. E mesmo entre essas
pessoas encontram-se níveis menores de quem diz
sentir orgulho de Israel.
Judeus ortodoxos têm ganhado influência tanto em
Israel quanto nos EUA. Esse
processo é reversível?
Hoje parece inevitável: o
judaísmo ortodoxo crescerá
mais e mais em poder. Mas
devemos ser modestos em
nossos esforços para prever
o futuro.
O sr. crê que a crescente influência de judeus ortodoxos em Israel é um obstáculo à paz?
Sim. Há essencialmente
duas comunidades ortodoxas distintas em Israel. Há
os religiosos nacionalistas,
sionistas, e os ultraortodoxos, ou haradim. Os radicais são os primeiros. Eles
criaram a ideologia religiosa segundo a qual agregar
terras ao estado judeu é parte do processo de preparação para receber o messias.
Os ultraortodoxos historicamente têm se preocupado menos com isso, eles são
mais distantes e desconfiados do Estado de Israel, já
que não é baseado na lei judaica. Mas essa comunidade também tem tendências
antidemocráticas fortes.
Leia a íntegra da
entrevista com Peter
Beinart
folha.com.br/mu791332
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