São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2010

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ENTREVISTA

Nos EUA, lobby judeu perde apoio entre mais jovens

JOÃO FELLET
DE SÃO PAULO

Às vésperas da retomada das conversas de paz entre israelenses e palestinos, os judeus americanos estão rachados quanto à forma de lidar com o Estado judaico.
De um lado, uma crescente e poderosa população ortodoxa mantém o apoio incondicional às atitudes do país. De outro, há cada vez mais jovens judeus dispostos a criticar as atitudes do governo.
A análise é do historiador americano judeu Peter Beinart, 39. Mestre em relações internacionais por Oxford, Beinart gerou polêmica com artigo na "The New York Review of Books" intitulado "O fracasso do establishment judeu americano".
Nele, argumenta que, por frequentemente serem filhos de casais mistos e não terem vivenciado conflitos que ameaçaram a existência de Israel, jovens judeus não ortodoxos se sentem menos ligados ao país.
Leia, abaixo, trechos da entrevista à Folha.

Folha - Há um racha crescente na sociedade americana a respeito de Israel?
Peter Beinart
- Sim. No meio do século 20, apoiar Israel era considerado uma causa de esquerda, uma questão democrática. O Partido Republicano era considerado anti-Israel. Isso mudará gradualmente. A divisão bipartidária que tanto afeta a política americana será sentida em Israel. Liberais democratas gradualmente se tornarão mais encorajados a criticar as políticas de Israel.

Quem são os principais apoiadores de Israel nos EUA hoje?
Se falamos de apoio acrítico a qualquer ação de Israel, os três bastiões mais fortes são os cristãos evangélicos, alguns elementos dos católicos conservadores e os judeus ortodoxos -grupos essencialmente republicanos. Os eleitores do Partido Democrata, que são afro-americanos, latinos, brancos seculares, não são hostis a Israel, mas são mais propensos a criticar algumas políticas do país.

A ligação de judeus não ortodoxos com Israel aumenta conforme eles envelhecem?
Se fosse verdade que há um efeito de ciclo de vida, as estatísticas mostrariam um aumento da ligação na meia-idade e uma queda. Mas o que se vê é que quem tem 60 anos é mais ligado do que quem tem 40, que é mais ligado do que quem tem 20... A assimilação tem um papel. Há um estudo recente focado em jovens judeus americanos não ortodoxos que não estão se assimilando. E mesmo entre essas pessoas encontram-se níveis menores de quem diz sentir orgulho de Israel.

Judeus ortodoxos têm ganhado influência tanto em Israel quanto nos EUA. Esse processo é reversível?
Hoje parece inevitável: o judaísmo ortodoxo crescerá mais e mais em poder. Mas devemos ser modestos em nossos esforços para prever o futuro.

O sr. crê que a crescente influência de judeus ortodoxos em Israel é um obstáculo à paz?
Sim. Há essencialmente duas comunidades ortodoxas distintas em Israel. Há os religiosos nacionalistas, sionistas, e os ultraortodoxos, ou haradim. Os radicais são os primeiros. Eles criaram a ideologia religiosa segundo a qual agregar terras ao estado judeu é parte do processo de preparação para receber o messias. Os ultraortodoxos historicamente têm se preocupado menos com isso, eles são mais distantes e desconfiados do Estado de Israel, já que não é baseado na lei judaica. Mas essa comunidade também tem tendências antidemocráticas fortes.

Leia a íntegra da entrevista com Peter Beinart

folha.com.br/mu791332


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