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Vítima pretendia passar 5 anos nos EUA
Juliard Aires, 19, é um dos brasileiros mortos em chacina que deixou 72 vítimas no México na semana passada
Jovem, que gostava de tocar violão e escrever músicas e poemas, queria juntar dinheiro e depois voltar ao Brasil
RODRIGO VIZEU
ENVIADO ESPECIAL A SARDOÁ E SANTA
EFIGÊNIA DE MINAS
Juliard Aires Fernandes,
19, poderia estar vivo e junto
de sua família no Brasil, caso
o país oferecesse oportunidade a todos. "Mas cadê condição?", questiona sua tia Maria da Glória.
Morto na chacina de Tamaulipas, no México, Fernandes tentou entrar ilegalmente nos EUA com o amigo
Hermínio Cardoso dos Santos, 24, cujos documentos foram achados junto aos corpos das vítimas.
"Ninguém sai da própria
pátria sem ser por necessidade. Aquilo que o nosso país
não dá, vamos buscar lá fora.
É ilegal? É, mas qual é a alternativa? Entra e sai presidente
e não se faz nada", diz a tia,
que já viveu seis anos nos
EUA e tem uma filha no país.
Fernandes e Santos eram
amigos de infância nas zonas
rurais de Sardoá e Santa Efigênia de Minas, cidades próximas a Governador Valadares (MG), região célebre pela
exportação de mão de obra
brasileira para o exterior.
Chorando, o pai de Fernandes, Alírio Aires Fernandes, 66, só consegue dizer
uma frase: "Ele era o meu coração". O garoto, que tocava
violão e escrevia músicas e
poemas, estava animado.
Queria ficar cinco anos, juntar dinheiro e voltar.
A família dele diz ter parentesco com Jean Charles de
Menezes, brasileiro morto
pela polícia em 2005 após ser
confundido com um terrorista em Londres.
Filhos caçulas, Fernandes
e Santos sempre sonharam
em sair do país. Os subempregos americanos pagariam
muito mais que os R$ 20 diários que ganhavam trabalhando em obras e na roça.
"Ele queria ganhar um dinheirinho para fazer uma casa e, se sobrasse, comprar
um carro velho para descansar as pernas", diz a mãe de
Santos, Maria Cardoso, 58,
que, apesar de ainda não terem encontrado o corpo, está
pessimista.
O filho já tinha trabalhado
na Itália, de onde foi deportado, e tentou ir para Portugal,
mas foi barrado.
Para a viagem aos EUA, os
pais pegaram emprestado R$
24 mil para pagar atravessadores. As famílias dizem não
saber quem os levou.
O périplo do sonho americano incluiu viagens de ônibus para Governador Valadares e São Paulo. Depois,
um voo para a Guatemala, de
onde partiram por terra até o
México. Nos EUA, iriam para
Illinois ou Connecticut.
ESPERANÇA
Amigo da família, Bonifácio Caldeira, 49, consola a
mãe de Santos e diz ser possível que o jovem tenha fugido.
"Ele pode ter corrido entre
os cactos e deixado tudo pra
trás. Eu mesmo já perdi meus
documentos lá", diz Caldeira, que tentou entrar nos
EUA oito vezes -conseguiu
na nona oportunidade.
De olhar perdido, a mãe de
Santos parece cética: "No
meio de tanta gente, demora
a reconhecer corpo mesmo".
As duas famílias fazem um
apelo para que o governo
brasileiro providencie o envio rápido dos corpos.
Primo de Fernandes, Wander, 35, já emigrou com a mulher e deixou dois filhos no
Brasil. Foi sequestrado e torturado por inimigos dos coiotes que o botaram nos EUA.
Valeu a pena? "Você perde
mais do que ganha. Não vale
a pena arriscar a vida", diz.
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