São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2011

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Enterro de militante morta na ditadura vira ato pró-Cristina

Cerimônia ocorre quase 35 anos após assassinato de advogada

LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A MORENO (PROVÍNCIA DE BUENOS AIRES)

Era quase meio-dia do último sábado quando a jornalista Marta Dillon, 45, estacionou seu carro na praça central de Moreno, cidade da província de Buenos Aires.
No porta-malas, ela trazia num pequeno caixão decorado à mão os restos mortais da mãe, Marta Taboada, uma das cerca de 440 vítimas identificadas entre os estimados 30 mil desaparecidos na ditadura da Argentina.
Entre bandeiras e militantes de diversas organizações, começava o enterro de Taboada, quase 35 anos depois.
Ela foi sequestrada em outubro de 1976 e fuzilada em fevereiro de 1977. O corpo da advogada e integrante da esquerda peronista foi encontrado numa vala comum em 1984. A Justiça só a identificou no ano passado e autorizou neste mês o enterro.
A cerimônia se transformou num ato político, que recebeu o apoio logístico da Secretaria de Direitos Humanos do governo argentino. O secretário de direitos humanos da Presidência argentina, Eduardo Luis Duhalde, discursou durante o enterro e falou sobre sua amizade com Taboada.
"Isso não é funeral, é a celebração da vida e o começo de uma nova história", declarou o padre. "É um capítulo que se encerra", afirmou Santiago Dillon, 42, um dos quatro filhos da advogada.

KIRCHNER
Enquanto os familiares foram discretos nas homenagens, os militantes aproveitaram para enaltecer o governo de Cristina Kircher. O filho de um desaparecido político comentou a coincidência de o enterro ocorrer num dia 27 -mesma data que, em outubro do ano passado, morreu o ex-presidente Néstor Kirchner, recordado naquela tarde como o homem responsável por "refundar" a Argentina e reativar os julgamentos dos militares envolvidos em violações de direitos humanos no país.
Após o pequeno caixão ser acomodado no mausoléu da família, os militantes continuaram no cemitério, com faixas e violão. Também foi feita uma passeata pelas ruas da cidade, com a inauguração de uma placa homenageando Taboada no exato local onde ela foi morta. "Era uma forma de sair do limbo onde ficamos por muito tempo e se fazer visível", disse Marta Dillon, a filha. "Acho que ela iria gostar."


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