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COMENTÁRIO
Chávez cerca oposição e investe contra Poderes
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
Por mais que o presidente Hugo Chávez tente dizer o contrário ao mundo, está cada vez mais
evidente que sua intenção é efetivamente fechar o atual Congresso, no qual o seu governo
tem apenas um terço dos votos.
O cerco se dá em três frentes:
um decreto que impediu as sessões e limitou as sessões legislativas, um movimento pela renúncia coletiva de deputados e senadores e a ampliação do decreto
para pura e simplesmente fechar
o Congresso.
A investida contra o Congresso não é isolada. A Corte Suprema de Justiça já foi atingida, mas
aceitou a intervenção da ANC
(Assembléia Nacional Constituinte), dominada por Chávez.
A reação ficou praticamente restrita à renúncia de sua presidente, Cecilia Sosa.
Essa investida contra as instituições é resultado da avaliação
do grupo chavista de que o Congresso tradicional e a Justiça estão irremediavelmente comprometidos e corroídos e têm de recomeçar do zero.
A expectativa é que a próxima
etapa dessa "limpeza" seja contra os governadores de Estados,
eleitos ano passado junto com os
deputados e os senadores.
No decreto que limitou os poderes do Congresso, chamado
de "Regulação das Funções do
Poder Legislativo", a ANC avocou a si o direito de destituição
de governadores. Foi o primeiro
passo nessa direção.
No dia seguinte, quinta-feira,
já havia uma pequena manifestação à porta do Congresso pela
destituição do governador do
Estado de Tamacuro, Emery
Mata, acusado de corrupção.
Se a reação na Corte ficou restrita a Cecilia Sosa, que vinha
tentando desde 1996 uma reformulação no Judiciário, a reação
no Congresso parte principalmente da Copei e da Ação Democrática.
Esses dois partidos se alternaram durante 40 anos no poder e
são os alvos preferidos de Chávez e de seu grupo, quando se referem aos "políticos corruptos".
Por mais que Chávez tente se
descolar da ANC, não há um só
ser pensante na Venezuela que
acredite nisso. É evidente que a
constituinte é apenas o instrumento legal para sua "revolução
pacífica", ou para "a ressurreição da Venezuela".
Do presidente da ANC, Luis
Miquelena: "Qualquer medida
que qualquer organismo tome
para modificar decisões da ANC
é inadmissível e inútil do ponto
de vista da doutrina da constituinte". Ou seja: quem manda é
a ANC. E a ANC é Chávez.
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