São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Israel "vaza" que o dirigente está nos últimos dias, mas palestinos negam; especialista em leucemia acompanha o líder

Saúde de Arafat é alvo de guerra de versões

Odd Andersen/France Presse
A cadeira de Arafat é deixada vazia em reunião do Comitê Executivo da OLP convocada pelo secretário-geral Mahmoud Abbas (esq.)


JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Israel e os palestinos travaram ontem guerra de informações em torno da saúde de Iasser Arafat. Os serviços de inteligência israelenses deixaram vazar um relatório pelo qual o dirigente palestino, internado desde sexta num hospital militar nas imediações de Paris, está com os dias contados e possivelmente só voltaria à Cisjordânia para morrer.
Mas, ainda ontem, por volta das 14h, dirigente palestino não identificado, citado por agências, disse que as condições de Arafat "são delicadas", mas nada indica -ao contrário do que informam os israelenses- que ele esteja com as horas contadas.
A France 2, canal público de televisão, informou que no Hospital Percy Arafat tem seu caso acompanhado de perto pelo médico Thierry de Revel, hematólogo especializado em leucemia.
O fato é que pouco vazou nas últimas horas, mesmo a natureza dos exames a que Arafat tem sido submetido. A mídia francesa, com previsíveis boas fontes na área médica, não conseguiu ainda perfurar a cortina de silêncio.
O jornal "Le Monde" cita um dos médicos do hospital, para quem só em meados da semana os especialistas terão uma idéia nítida sobre a moléstia que é por aqui genericamente qualificada de "disfunção sangüínea".
Por volta das 15h de ontem, o hospital se comprometeu a divulgar um boletim "nas próximas 48 horas". Foi a primeira vez que a instituição se manifestou sobre seu ilustre paciente.
Os 47 jornalistas que se encontravam no início da tarde de ontem diante de sua principal entrada não tinham meios para verificar rumores, obviamente alarmantes, que a cada duas horas circulavam sobre o paciente.
Percy é um hospital das Forças Armadas, historicamente designadas por jornais como "a grande muda". Pouco ou nada vaza de seus organismos internos.
O hospital, localizado no subúrbio parisiense de Clamart, é um conjunto que ocupa uma área equivalente a dois estádios de futebol, com pavilhões modernos, com não mais que cinco andares, todos pintados de bege.
Diante da principal portaria 17 veículos com antenas transmitem os boletins de equipes de TV de muitos cantos do mundo. É outono por aqui. A temperatura pela manhã está em torno de 10 C. É com esse frio moderado que os jornalistas circulam e eventualmente abordam automóveis que se aproximam do hospital com placa diplomática.
Ontem duas únicas "ocorrências" do gênero valeram a pena. Um pouco antes das 10h chegaram a representante da Autoridade Palestina na França, Leila Shahid, e o representante palestino nas ONU, Nasser al Qudwa.
Shahid, em entrevista coletiva, garantiu que os rumores sobre leucemia são falsos. "Os testes feitos até agora descartam qualquer possibilidade de que [Arafat] tenha leucemia. Repito: está descartada qualquer possibilidade de leucemia", disse Shahid.
"Os últimos testes apontam que o presidente Arafat não sofre de nenhuma doença que ameace a sua vida e há cura para o que ele tem", disse hoje a Reuters Nabil Abu Rdainah, assessor de Arafat.
Arafat não está aparentemente em condições de receber visitas. Não ocorreu nada próximo a uma revoada de embaixadores árabes à sua cabeceira.
O dirigente palestino, acompanhado de sua mulher Souha Arafat, que ocupa um quarto contíguo ao seu, pediu ontem que a filha Zatwa, 9, o visitasse. Ela não vê o pai há três anos, desde o início do cerco israelense ao QG palestino de Ramallah, na Cisjordânia.
O policiamento em torno do hospital em que Arafat está internado prossegue intenso. As portarias secundárias foram fechadas, e cada uma tem em permanência três policiais militares.
Na portaria principal são em torno de 20. Eles ontem passaram a revistar os porta-malas dos automóveis que chegavam com funcionários e visitantes de outros pacientes.
Às 15h30 um grupo de 20 manifestantes pró-palestinos se reuniu diante do hospital e passou a gritar, em francês e em árabe, palavras de ordem - "Somos todos palestinos", "Nós e Arafat, o mesmo combate"- simpáticas ao paciente internado.
Pela manhã correram rumores de que grupos pró-Israel fariam no início da tarde uma manifestação de protesto pela presença de Arafat na França. A informação não havia, até as 16h locais, se traduzido em fatos reais.

Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, desejou uma "pronta recuperação" a Arafat, "líder histórico da causa palestina e incansável artífice dos anseios de autodeterminação de seu povo".
Com agências internacionais

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