São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Para vencer, Obama recria imagem durante campanha

Começar como azarão e assumir-se como favorito fortaleceu candidato, dizem especialistas

Espírito de "reality show" da disputa americana foi bem utilizado por democrata, que mobilizou novas bases e multiplicou arrecadação

Steve Nesius/AP
Barack Obama chega a estádio em Saratosa com seguranças

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Focada em irrigar o entusiasmo das bases, a campanha do candidato democrata Barack Obama à Casa Branca chega à reta final despida do tom modesto que tinha nas primárias, quando ele defendia a imagem de "azarão" mesmo após ultrapassar a rival Hillary Clinton nas apostas de que conquistaria a candidatura pelo partido.
Ao assumir sua campanha rica em fama e dinheiro (e, segundo pesquisas, em preferência popular para o pleito da próxima terça), Obama abre riscos de chamuscar sua imagem ante as "formiguinhas" que o fizeram chegar ali, que poderiam perder entusiasmo ao comprar a imagem de "arrogante" que a oposição tenta lhe imprimir.
"Fico surpresa com o fato de os eleitores de Obama não parecerem ofendidos com todo esse dinheiro, especialmente com o anúncio de TV de meia hora [exibido na quarta-feira em sete emissoras, ao custo de US$ 5 milhões]. Ao contrário, ele continua mostrando uma força que vem de baixo para cima como nenhum outro candidato à Presidência dos EUA. Está mais popular e arrecadando cada vez mais dinheiro", diz Barbara Kellerman, pesquisadora da Universidade Harvard e autora de livros sobre o peso da mobilização popular na construção de candidatos.
Para Michael McDonald, analista político do Instituto Brookings, o candidato fez a curva de imagem no momento certo. "Chega de "eu sou modesto". Para vencer, Obama tem de parecer poderoso, presidenciável, não poderia ser o azarão eternamente", diz.
Desde 2007, o democrata fez história ao passar de senador pouco experiente a candidato viável a partir da mobilização em torno de seu nome na internet. O fenômeno não foi totalmente espontâneo. Obama reinvestiu suas doações na criação de recursos na internet, como flâmulas virtuais e vídeos virais com artistas, que potencializaram seu nome.

Reality show
Para Kellerman, a campanha presidencial americana tem um certo espírito de "reality show" de TV. "Obama continua arrecadando, apesar de todo mundo saber que sua campanha é rica, porque as pessoas querem embarcar nesse vagão rumo à vitória. O povo americano adora vencedores, e Obama não poderia se apresentar de outra forma agora."
Na média das pesquisas, Obama tem vantagem de cerca de seis pontos percentuais. Mas nos EUA, o que vale é o Colégio Eleitoral, no qual a vitória em cada Estado (exceto em Maine e Nebraska) dá direito a um pacote de votos, maior ou menor segundo a população. Nas projeções estaduais, Obama aparece como favorito, mas por margem tênue em Estados-chave.


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