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Ameaça de mais sanções econômicas americanas desata o nó
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Para convencer Roberto Micheletti a aceitar o acordo celebrado ontem em Honduras, os
enviados americanos ameaçaram não reconhecer as eleições
de novembro, o que isolaria
ainda mais o regime golpista da
comunidade internacional, e
ampliar as sanções econômicas
já em vigor. A combinação encontrou ressonância num país
cuja economia tem 7 de cada 10
dólares vindos dos EUA.
O time obamista, liderado
pelo secretário-assistente para
o hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, e o número 1 da
Casa Branca para a região, Dan
Restrepo, corria contra um relógio imposto pelo próprio governo americano. Na avaliação
de Washington, a eleição presidencial é a única solução para o
impasse, e o reconhecimento
dela pela comunidade internacional estaria comprometido
caso um acordo não estivesse
de pé um mês antes do pleito.
Essa data venceu anteontem.
E foi com ela em vista que os diplomatas apertaram o cerco
aos golpistas. Tudo foi feito em
tom educado e conciliador, mas
efetivo. Essa ofensiva começou
na noite de sexta passada,
quando a secretária de Estado,
Hillary Clinton, falou ao telefone com os dois líderes. A conversa com Zelaya foi qualificada por diplomatas americanos
como produtiva; a com Micheletti, de ríspida.
A partir de então, Hillary
passou a articular com a Casa
Branca, até então ausente do
dia a dia das negociações, o envio de um time de alto nível, encabeçado por Shannon, da
Chancelaria, e Restrepo, do
Conselho de Segurança Nacional. Os dois tinham carta branca para lidar com ambas as partes. O desafio era tirar do caminho o único obstáculo ao acordo: a volta de Zelaya ao poder.
Micheletti não a aceitava tal
como rezava o Acordo de San
José, e Zelaya e boa parte dos
países da região não aceitavam
trato que não contemplasse o
assunto. A solução encontrada
foi passar a bola da decisão para
o Congresso hondurenho, sobre o qual ambos os líderes sustentam ter influência. Respondendo ontem a uma pergunta
da Folha em teleconferência,
Thomas Shannon confirmou a
importância adquirida pelo Legislativo local na negociação.
As perguntas foram: E se o
Congresso decidir que Zelaya
não volta ao poder, ele aceitará
a decisão? Ele disse isso a
Shannon e Restrepo? "Ambos
os lados passaram a decisão ao
Congresso na questão da restituição", respondeu Shannon.
"Ambos indicaram que vão
aceitá-la, e eu acreditei neles. O
presidente Zelaya crê ter forte
influência sobre o Congresso e
é por isso que concordou com
isso, e o sr. Micheletti crê que
também tem. Então, é uma
questão política que vai ser resolvida politicamente."
De resto, o clima na delegação americana era de entusiasmo, e o acordo de ontem foi
considerado pela diplomacia
obamista como a primeira vitória do presidente democrata
numa região, a América Latina,
que anda carente de ações concretas vindas da nova equipe da
Casa Branca. Já na madrugada
de ontem, em declaração a partir de Islamabad, onde se encontrava, Hillary Clinton chamou o acordo de "histórico",
termo que seria repetido por
Shannon e Restrepo.
"Não me lembro de outro
país na América Latina que,
tendo passado por uma ruptura em sua ordem democrática e
constitucional, tenha superado
a crise por meio da negociação
e do diálogo", disse ela. "É um
grande passo adiante para o
sistema interamericano e seu
compromisso com a democracia, conforme incorporado na
Carta Democrática Interamericana", concluiu, referindo-se
aos princípios da OEA.
Em Washington, de John
Kerry ao escritório de lobistas
contratados pela associação comercial que apoiava o golpe, todos elogiaram o desfecho. O senador democrata aproveitou
para pedir que os republicanos
levantem o bloqueio aos nomes
de Shannon, indicado por Obama para ser embaixador no
Brasil, e Arturo Valenzuela, para substituí-lo no atual cargo.
"Com a crise resolvida, espero
uma confirmação rápida" dos
nomes, disse o senador.
Até a conclusão desta edição,
o republicano Jim DeMint, autor do bloqueio, não se manifestara. Indagado pela Folha se
já preparava as malas para mudar para o Brasil, Shannon riu:
"Farei minhas malas após o Senado confirmar meu nome".
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