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Pacto militar favorece EUA, avalia Justiça da Colômbia
Acordo é assinado em Bogotá; governo Uribe promete divulgar teor na semana que vem
Órgão jurídico independente afirma que trato prevê que americanos decidirão ações, e colombianos "cooperarão";
tema preocupa os vizinhos
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governos da Colômbia e
dos EUA assinaram ontem, numa cerimônia simples em Bogotá, acordo que aumenta a
presença militar americana em
território colombiano. O texto
foi considerado "desequilibrado" a favor de Washington e potencialmente violador da soberania colombiana pelo Conselho de Estado, o órgão jurídico
consultivo máximo local.
O trato que permitirá aos
EUA usarem pelo menos sete
bases militares na Colômbia
entra em vigor imediatamente,
uma vez que os dois governos
sustentam que o acordo é uma
mera atualização de acertos anteriores e não necessitava de
aprovação prévia dos respectivos Congressos.
Essa não foi a opinião do
Conselho de Estado da Colômbia, órgão independente de
consulta jurídica do governo
cujas decisões não são vinculantes. Além de recomendar a
submissão do texto ao Congresso, a instância fez duras críticas ao texto assinado, que não
foi divulgado ontem.
De acordo com cópia do parecer disponibilizado pelo jornal colombiano "El Espectador", o conselho sustenta que, à
diferença do que dizem Bogotá
e Washington, o texto do acordo permite que os EUA "determinem as atividades a realizar"
no país, sendo a Colômbia apenas "cooperante".
O texto, que venceu votação
apertada no Conselho de Estado, diz ainda que o acordo não
determina "a forma e o limite"
do uso que os EUA farão das
instalações militares.
Os países vizinhos, Brasil incluído, manifestaram desconfiança em relação tanto à
abrangência das atividades militares americanas na Colômbia como em relação ao controle, em última instância, das futuras operações.
Ontem, durante a cerimônia
de assinatura, o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, e o
embaixador americano na Colômbia, William Brownfield,
voltaram a afirmar que o acordo respeitará as normas internacionais sobre não intervenção e integridade territorial de
terceiros países. Afirmaram
também que as ações terão
aprovação prévia de Bogotá.
Bermúdez prometeu divulgar o texto na semana que vem,
e enviar carta de comunicação a
todos os chanceleres da região.
Já Brownfield disse que o acordo será remetido às comissões
de Relações Exteriores do Congresso americano.
Para o Conselho de Estado, o
texto assinado ontem é muito
frouxo e deixa várias decisões
importantes para acertos posteriores. Menciona tratos de
implementação, mas não cita
quais. O parecer cita um trecho
que prevê que, no futuro, será
estabelecido "um mecanismo
de coordenação" para autorizar
o número e a categoria das pessoas autorizadas a entrar no
Estado colombiano.
O órgão considera, na página
33 do documento, que o procedimento de "redigir em branco
provisões" "tem incidência real
na soberania da nação".
O analista de segurança colombiano Alfredo Rangel, próximo do governo Álvaro Uribe,
defende o acordo como necessário e conveniente para a Colômbia. Diz que não haverá soldados armados nem equipamentos de guerra. A ênfase será
inteligência e monitoramento.
Mas Adam Isacsom, analista
de América Latina do progressista Center for International
Policy, de Washington, criticou
o acordo pela falta de transparência e por solapar a capacidade dos EUA de cobrar da Colômbia compromissos com parâmetros de respeiito aos direitos humanos.
"Obama falou de nova parceria, de ouvir o que líderes da região tem a dizer e agora, sem
consultar ninguém, está aumentando rapidamente a presença militar na América do
Sul. Isso solapa a confiança da
região em relação ao que ele se
propôs a fazer", disse Isacsom.
Chávez e Lula
Ontem, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou
que o acordo entre Colômbia e
EUA tem de ser denunciado pelo Brasil e pela América do Sul
porque se "trata claramente de
parte da estratégia de expansão
militar dos EUA".
Ao lado do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que visitou
a Venezuela ontem, Chávez
afirmou que a "máquina de
guerra" dos EUA está sendo
instalada em sua fronteira.
Colaborou SIMONE IGLESIAS, enviada especial
a El Tigre (Venezuela)
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