São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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"Resposta inicial" de Teerã rejeita acordo, dizem negociadores

Contraproposta apresentada anteontem contraria ponto central de pacto nuclear avalizado pelos EUA

DA REDAÇÃO

A contraproposta nuclear do Irã apresentada anteontem à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) foi recebida pelo Ocidente como uma rejeição à essência do acordo endossado na semana anterior. Segundo diplomatas ocidentais, isso pode inviabilizar a distensão ensaiada recentemente.
Embora não tenha sido tornada pública, relatos vazados à imprensa dão conta de que a "resposta inicial" apresentada por Teerã condiciona a exportação dos estimados três quartos do urânio de que dispõe para maior enriquecimento no exterior à prévia importação da mesma quantidade do elemento já devidamente processado.
A condição, se confirmada, basicamente neutraliza o principal objetivo de EUA, França e Rússia com a proposta submetida ao Irã: a diminuição do estoque de urânio mantido por Teerã a ponto de impossibilitar a eventual tentativa de produção de uma bomba atômica.
O Ocidente suspeita de que o programa nuclear iraniano vise a bomba. Mas o Irã nega e diz não ferir leis internacionais ao processar urânio -o que pode fazer pelo Tratado de Não Proliferação, do qual faz parte, desde que sob supervisão da AIEA.
Na proposta colocada sobre a mesa pelas potências nucleares no último dia 21, o Irã se comprometeria a enviar 1.200 kg de urânio pouco enriquecido -dos estimados 1.500 kg que possui- à Rússia até 15 de janeiro. O elemento seria depois repassado à França, que o adequaria ao reator do Irã para fins de pesquisa e uso médico.
Pelos cálculos do Ocidente, a estratégia "compraria" cerca de um ano no desenvolvimento do programa nuclear do Irã e daria mais tempo para que um acordo mais amplo fosse alcançado.
Teerã, porém, nega-se a fornecer o seu urânio pouco enriquecido em carregamento único e exige receber antes o elemento processado a um maior grau, segundo versão veiculada.
A agência oficial iraniana Irna disse que a "resposta inicial" do país é só uma "atitude positiva" sinalizando a disposição continuar negociando, e não uma posição final. Segundo o veículo, a troca simultânea do urânio é a "linha vermelha" que o Irã não pretende cruzar.
Para um diplomata europeu, "a questão-chave é que o Irã não aceita fornecer seu urânio pouco enriquecido. E isso não é um detalhe: é simplesmente tudo de que trata o acordo. É basicamente a rejeição [do pacto]".
Segundo o jornal "New York Times", o recuo iraniano já era esperado pelo governo Barack Obama, e o secretário-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, esteve secretamente nos EUA para discutir com o presidente que passos tomar nesse caso.
Obama, diz o "Times", manteve ainda contato com os pares francês, Nicolas Sarkozy, e russo, Dmitri Medvedev, com o mesmo propósito. Oficialmente, a Casa Branca advertiu o Irã de que não o país não terá tempo "ilimitado" para a resposta.
A Chancelaria francesa exortou Teerã a dar "resposta oficial e positiva sem demora". Líderes da União Europeia manifestaram "grande preocupação" com a suposta recusa do Irã em cumprir com suas obrigações.

Com "New York Times" e agências internacionais



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