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NOTÍCIAS DO FRONT
Casa Branca decide permitir que repórteres testemunhem a possível ofensiva contra o Iraque
Pentágono treina jornalistas para guerra
ROSA TOWNSEND
DO "EL PAÍS", EM MIAMI
Pela primeira vez desde a
Guerra do Vietnã a imprensa terá assentos de primeira fila em
um conflito armado iniciado pelos Estados Unidos.
O Pentágono decidiu que, para
melhorar sua imagem diante da
opinião pública internacional, é
mais interessante oferecer acesso aos meios de comunicação
-depois de treiná-los previamente- do que informar sobre
o conflito em entrevistas, como
aconteceu na Guerra do Golfo,
em 1991.
Naquele conflito, o general
Norman Schwarzkopf manipulou o fluxo de informações de
acordo com suas conveniências,
na opinião do veterano repórter
da cadeia de televisão CBS, Morley Safer. A situação chegou a
um ponto em que Schwarzkopf
estava usando os jornalistas para
se dirigir diretamente ao público
americano. Sabia que ninguém
seria capaz de contradizer sua
versão.
A idéia de relaxar as regras depende de uma mudança na política de sigilo que reina na Casa
Branca. A alteração veio do presidente Bush, talvez prevenido
pelo sabor desagradável deixado
por seu pai nas redações dos
EUA durante a Guerra do Golfo.
"O objetivo é confrontar a propaganda antiamericana em todo
o mundo", sublinha Bryan
Whitman, porta-voz do Pentágono. "E que melhor maneira de
combater a desinformação do
que apresentar reportagens objetivas sobre a situação real?"
Os militares aprenderam essa
última lição no Afeganistão. A
experiência lá, diz Whitman, pesou bastante na decisão. Cedo
ou tarde, de uma maneira ou de
outra, a imprensa sempre acabava se inteirando dos fatos. Os repórteres não tiveram permissão
do Pentágono para ir às áreas de
combate até quase o final do
conflito, e o resultado foi desastroso, admite o Pentágono.
Os militares lamentam especialmente uma operação, em julho, na qual um avião AC-130
atacou uma aldeia afegã no sul
do país, causando a morte de dezenas de civis, mulheres e crianças. Os EUA acusaram o Taleban
de dispor essas pessoas como escudos humanos em torno de objetivos militares, mas, quando os
jornalistas entrevistaram moradores locais, posteriormente, estes contaram que uma festa de
casamento estava sendo realizada, e foi essa a versão que o mundo acabou recebendo.
A hipótese atual do Pentágono
é que, se os repórteres tivessem
participado da missão, pelo menos poderiam ter divulgado
uma versão alternativa. "As primeiras imagens são cruciais porque marcam a pauta da guerra",
disse James Wilkinson, porta-voz do Comando Central das
Forças Armadas, ao "New York
Times".
Jornalista "soldado"
A nova doutrina de informação requer primeiro a preparação dos jornalistas em campos
de treinamento militar dos EUA.
O curso, com duração de uma
semana, inclui primeiros socorros em combate, uso de mapas,
orientação no campo de batalha,
camuflagem e defesa contra ataques químicos e bacteriológicos.
Os jornalistas também aprenderão como manobrar sob fogo direto e indireto e como detectar
campos minados.
O Pentágono fez o anúncio
mas não detalhou os procedimentos de seleção ou logística
quando os jornalistas chegarem
à frente de batalha. O processo
estará aberto a todos os meios de
comunicação nacionais e internacionais? Em que lugares? Qual
é o prazo de inscrição? Os jornalistas que se apresentarem à zona de operações por conta própria, sem passar pelo treinamento, terão negado seu acesso?
A mídia americana acolheu favoravelmente a mudança de política, mas não sem uma dose
saudável de ceticismo, especialmente depois da informação, semanas atrás, de que a CIA queria
recrutar jornalistas para aumentar seu quadro de espiões. O
Pentágono assegura que isso
não tem nada a ver com os planos da CIA, e que o objetivo é somente facilitar o trabalho dos
jornalistas.
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