São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Reeleição de presidente do Quênia acirra violência

Uma hora depois da divulgação do resultado, Kibaki tomou posse; na cidade de Kisii, número de mortos em protestos chega a 28

DA REDAÇÃO

Um dia depois de a oposição se proclamar vitoriosa na eleição presidencial do Quênia, as autoridades eleitorais divulgaram ontem o resultado oposto.
Segundo a Comissão Eleitoral do país, Mwai Kibaki, do Partido da Unidade Nacional, obteve a maioria dos votos e foi eleito para um segundo mandato de cinco anos.
Os números apresentados mostram que o presidente venceu com 4.584.721 votos. O rival, Raila Odinga, do Movimento Democrático Laranja (ODM, na sigla em inglês), teria obtido 230 mil votos a menos.
Com acusações de fraude e manipulação dos resultados com adição de votos irregulares, minutos depois do anúncio começaram protestos por parte dos seguidores de Odinga.
Nas ruas de Nairóbi, principalmente na região de Kibera, houve atos de violência. Segundo informações da Reuters, chegou a dez o número de mortos na cidade de Kisii. Até a noite de ontem não havia estatística oficial, mas foram registradas no mínimo outras cinco mortes por disparos da polícia nas cidades de Kakamega e Migori. Outras 13 já haviam sido contabilizadas até sábado, em manifestações por causa do atraso do resultado da eleição.
Alexander Graf Lambsdorff, observador da União Européia, disse à Reuters que ainda havia dúvidas quanto à exatidão da contagem dos votos. "Acreditamos que, no momento, a comissão, apesar do empenho de seu presidente, não conseguiu estabelecer a credibilidade do processo eleitoral", afirmou.
Apenas uma hora depois da divulgação do resultado, e enquanto cresciam os atos contrários, Kibaki tomou posse em frente à Casa do Estado, com a mão sobre a Bíblia.

Sem transmissões
"Sou o vencedor e Kibaki sabe disso", afirmou Odinga na noite de ontem para a imprensa. A declaração não foi televisionada porque às 20h, horário local (17h em Brasília), o Ministro da Informação, Mutahi Kagwe, ordenou que fossem suspensas todas as transmissões de rádio e televisão do país por "medida de segurança".
O presidente Kibaki pertence à tribo kikuyu, a maior do Quênia. A terceira maior é a luo, da qual o opositor, congressista e ex-ministro Odinga faz parte e tem total apoio.

Nem sempre rivais
Mesmo de etnias distintas, os dois candidatos nem sempre foram rivais. Em 2002 eles se uniram para derrotar o partido Kanu (União Nacional do Quênia africano, na sigla em inglês), que detinha o monopólio do poder desde a independência do Reino Unido, em 1963.
Kibaki chegou à Presidência em eleições consideradas livres, mas a união dos candidatos não foi duradoura. Três anos depois, sem que o presidente cumprisse a promessa de criar o cargo de premiê para Odinga, a rivalidade entre eles assumiu dimensões tribais.

O país
Localizado no leste da África, com uma área de 582 mil km2 -equivalente ao estado de Minas Gerais -, o Quênia tem uma população de 32 milhões de habitantes, segundo estimativas oficiais referentes a 2004.
Deles, 40% são protestantes, 30% são católicos, 6%, muçulmanos e o restante pertence a outras religiões. Colonizado pelos ingleses, o país assistiu a diversas tentativas de emancipação desde o fim do século 19 até os anos 1950, se tornando independente em 1963.
Nos 44 anos de autonomia política, o Quênia foi governado por apenas três presidentes: Mzee Jomo Kenyatta, que ficou no governo até morrer, em 1978; seu sucessor foi Daniel Moi, que permaneceu no poder por 24 anos; e Mwai Kibaki, eleito em 2002.
A economia queniana é baseada na agricultura, especialmente nas exportações de chá e café, e no turismo.


Com agências internacionais


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