São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Viúvo e filho sucedem Benazir no partido

Grupo da ex-premiê morta em atentado defende que eleição parlamentar não seja adiada; Sharif recua e participará da votação

PPP de Benazir quer votação no dia 8 para capitalizar a comoção por atentado, mas partido de Musharraf quer adiamento de quatro meses

Zahid Hussein/Reuters
Zardari (esq.) e o filho Bilawal anunciam nova liderança do PPP; "democracia é a grande vingança", disse o filho, citando a mãe


DA REDAÇÃO

Para não alijar a dinastia Bhutto da vida política paquistanesa, o Partido do Povo Paquistanês indicou ontem o viúvo e o filho mais velho de Benazir Bhutto, assassinada quinta-feira, para dividir a presidência da sigla. O PPP também insistiu para que as eleições legislativas ocorram no próximo dia 8, conforme planejado.
O outro líder da oposição à ditadura do general Pervez Musharraf, Nawaz Sharif, recuou do plano de boicotar as eleições e disse que seu partido, a Liga Muçulmana do Paquistão-N (a letra designa a facção que ele, Nawaz, chefia) disputará o controle do Parlamento.
Sharif era primeiro-ministro em 1999, quando foi deposto por golpe militar de Musharraf.
A comissão eleitoral paquistanesa reúne-se hoje para decidir se mantém o calendário eleitoral. Tariq Azim, porta-voz da Liga Muçulmana do Paquistão-Q, facção do ditador, disse esperar que as eleições sejam adiadas por quatro meses.
A pressa em ir às urnas do PPP e do partido de Sharif tem uma razão política precisa. Eles procuram tirar proveito do forte clima contra a ditadura, desencadeado pelo atentado que matou a ex-primeiro-ministra. Pelo mesmo motivo Musharraf defende o adiamento, para que a já comoção reduzida favoreça seus partidários.
A grande informação de ontem, no entanto, foi a sucessão do PPP em favor do clã da família Bhutto, decidida pela direção partidária. O partido foi criado em 1967 por Zulfiqar Ali Bhutto, pai de Benazir, premiê deposto e enforcado em 1979.
Bilawal Zardari, 19, primogênito da ex-premiê assassinada, voltará nos próximos dias ao Reino Unido, onde está matriculado na Universidade de Oxford. Enquanto isso, o partido será dirigido pelo outro co-presidente, seu pai, o controvertido Asif Ali Zardari, que ontem anunciou que Bilawal abria mão do sobrenome paterno para se chamar Bhutto, como a mãe e o avô.

Oito anos de prisão
Zardari cumpriu pena de oito anos de prisão por corrupção. A BBC lembra que seu apelido ainda hoje é "Senhor Dez Por Cento", menção às comissões que teria cobrado como marido de Benazir, por duas vezes chefe do governo, e como ministro do Meio Ambiente.
O viuvo de Benazir sempre se declarou inocente, acusando Nawaz Sharif -circunstancialmente hoje um aliado- de ter forjado as acusações de que ele exigiu comissões para a compra de aviões militares.
Caso o PPP faça a maioria, Zardari disse que o posto de premiê caberia a Makhdum Amin Fahim, um dos líderes tradicionais do partido.
Bilawal, em entrevista após ser indicado para suas novas funções, disse que "a luta do PPP pela democracia continuará com vigor renovado". Afirmou que, para sua mãe, "a democracia é a grande vingança" contra os detentores do poder.
Um dos senadores do partido, Safdar Abbasi, exortou o governo a não adiar as eleições. "Qualquer adiamento não será para nós aceitável", afirmou.
Embora a violência tenha ontem decrescido, um balanço da Associated Press indica que ao menos 44 pessoas morreram. Foram saqueadas 176 agências bancárias, destruídos 34 postos de gasolina, incendiados 74 vagões e 19 estações ferroviárias.


Com agências internacionais


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