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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003


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Como na série exibida na TV paga e premiada nos EUA, famílias vivem no mesmo prédio do negócio

Empresa segue estilo "A Sete Palmos"

Divulgação
Na ficção, a família Fisher reside no mesmo imóvel onde administra empresa funerária; na vida real, o modelo se repete em vários setores


TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O antigo provérbio já dizia que os olhos do dono engordam o gado. Hoje, ter o negócio anexo à moradia ainda é opção utilizada por empresários de diversos setores. Na prática, as iniciativas familiares são as que mais adotam o modelo, e a redução de custos atrelada à possibilidade de estar sempre atento ao empreendimento é a razão mais frequente.
Esse formato de "negócio-moradia" é o cenário explorado pelo seriado norte-americano "A Sete Palmos" ("Six Feet Under"), que estreou na programação do canal pago Warner Channel no último domingo. Hoje, às 21h30, será exibido o segundo episódio da série.
A trama narra os altos e baixos dos Fisher, proprietários de uma funerária em Los Angeles. Pai, mãe e três filhos moram na mesma casa em que corpos são preparados e velados para o sepultamento. Nos Estados Unidos, "A Sete Palmos" vem arrebatando audiência -conquistou prêmios como Globo de Ouro, Emmy, SAG Award e Grammy.

"Funerário da gema"
A 230 km da capital paulista, no município de Botucatu, a família Panhozzi adota, há quatro gerações, modo de vida similar ao apresentado na ficção. "Sou funerário da gema", diz o diretor funerário Lourival Panhozzi, 43, que é também presidente da Abredife (Associação Brasileira das Empresas e Diretores Funerários).
No andar térreo da casa em que cresceu, administra a funerária Coração de Jesus, que era de seu pai. Os filhos foram criados no mesmo lugar e hoje Panhozzi tem em casa uma neta de quatro anos.
"As crianças não têm medo das urnas. Minha neta entra e sai do showroom sem problemas", conta. Por outro lado, na juventude os filhos se habituaram a levar uma vida compatível com o negócio da família. "Não temos festas nem música alta em casa", diz.
Panhozzi afirma ter trazido em 1993 a tanatopraxia ao país, técnica de preparação de corpos com auxílio de máquinas e de produtos químicos, que dá aos cadáveres um "aspecto de serenidade". As sessões acontecem no andar abaixo da residência da família.
"É exatamente como a série da televisão mostra. Na verdade, muitos preconceitos existem contra a atividade. Isso está sendo vencido", ressalta o empresário.
Para quem atua no ramo funerário, ter a empresa instalada ao lado da moradia é uma saída prática para um dos pré-requisitos do negócio: a prontidão 24 horas.
Por isso Valter Nickel, 50, dono da Empresa Funerária Grechi, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo), resolveu se mudar há dois anos para a casa em que funciona uma de suas duas lojas. "Temos de atender dia e noite."
Nickel conta que a família dele encara a funerária com naturalidade. "Quando meus filhos eram pequenos, até brincavam de se esconder nas urnas e desafiavam os amigos medrosos a entrar nelas."

Economia x inconveniência
Unificar contas de luz, água e gás da empresa e da residência e não ter de pagar um aluguel a mais são alguns pontos positivos citados por empreendedores que usam o modelo da família Fisher.
Por outro lado, estar permanentemente ligado ao negócio é o principal inconveniente. "Há cliente que passa o dia todo precisando de uma peça, mas só vem depois que eu já fechei as portas", conta R.S., 70, que preferiu não se identificar. Há 46 anos ele gerencia sua loja de ferragens no andar térreo do sobrado onde mora.
Sócia de uma confecção que está no mesmo terreno que a sua casa, E.B., 63, sugere atenção ao vaivém dos empregados. "É preciso impor limites, pois chamam para resolver qualquer problema."


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