São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004


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COMÉRCIO SAGRADO

Especialistas apontam aumento na compra de produtos ligados à fé, e não a instituições

Busca por religiosidade aquece nicho

PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS

Um movimento da população em busca de religiosidade, sem a necessidade de ter de se ligar a uma doutrina específica, somado ao característico sincretismo brasileiro, potencializou os negócios ligados a esse nicho.
"As pessoas buscam objetos com alguma conotação religiosa. Esse fenômeno é visto como uma espécie de intensificação de uma espiritualidade que não está necessariamente vinculada a igrejas", diz Sílvia Fernandes, socióloga do Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais).
Apesar de não existirem estatísticas que comprovem o fato, a percepção do mercado leva a essa direção. A revista "Família Cristã", voltada ao público católico, por exemplo, tem registrado crescimento mensal entre 3% e 4% desde dezembro de 2003, afirma a diretora, Ivonete Kürten, 40. A tiragem saltou de 56 mil exemplares em abril de 2003 para os atuais 70 mil. "Hoje há uma procura imensa por artigos religiosos para satisfazer uma necessidade pessoal", avalia.
Nesse mercado, as alternativas são variadas: distribuir, produzir ou vender produtos diversos, como CDs, imagens, jóias e livros.
"O nicho existe, e a percepção de que as religiões crescem é fato. Como em qualquer negócio, é preciso conhecer o público-alvo, e, talvez até mais que nos outros, respeitá-lo", diz João Abdalla, consultor de marketing da unidade de orientação empresarial do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa).
E lembra: "Tudo pode melindrar esse cliente. Palavras têm de ser escolhidas a dedo. Apesar disso, deve ser visto como um nicho qualquer, que requer visão comercial e atitude profissional".

Campeões de venda
No que diz respeito aos católicos, fitinhas, imagens e terços são os campeões de venda. Fornecedor das fitinhas de Aparecida (SP) no shopping do Santuário Nacional, André Augusto, 27, distribui semanalmente 60 mil unidades.
Só de imagens de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Maria Celeste Bechara vende 1.500 por mês. Dona de estande no santuário desde a inauguração, há sete anos, ela diz conseguir manter as finanças em dia só até janeiro.
"Depois, as vendas só reiniciam em maio. Para vender bem, precisamos receber 80 mil pessoas aos domingos e de 30 mil a 40 mil aos sábados, para compensar a baixa atividade nos dias de semana."
Nas religiões evangélicas, a música é o destaque. Tanto que Francisco José dos Santos, 50, proprietário da Livraria da Fé, mudou de ramo: trocou a palavra escrita pela cantada e hoje comercializa só CDs. Ele conta que, há dez anos, montou o negócio com R$ 1.500. "Pagava R$ 250 de aluguel e renovava o estoque à medida que vendia." Hoje ele diz vender mil CDs por mês e pagar R$ 7.700 de aluguel.
Ciente de que saber lidar com o cliente é a chave do negócio, Jairo Fridlin, 41, proprietário da Editora e Livraria Sêfer, ampliou sua atuação. Ele, que há 11 anos atende a comunidade judaica, passou a oferecer também acessórios ligados à religião. Recentemente, começou a vender pela internet. "Hoje 50% da clientela é de católicos, evangélicos ou pessoas de outras crenças que querem conhecer a religião ou presentear judeus."
Os freqüentadores da loja de móveis Daibutsudo, que vende oratórios e acessórios budistas, também mudaram. "Há dez anos, a clientela era de japoneses, mas houve uma renovação: os brasileiros já somam 40%", diz o projetista de móveis Gilson Carvalho.


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