São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002


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Euforia com nova atividade, ansiedade para obter lucro e tempo mal utilizado afogam o dia-a-dia

Pressão cria empresário "workaholic"

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
Amarilis Vilela, dona de confecção, trabalha até mesmo nos feriados


DA REPORTAGEM LOCAL

"Não tenho tempo para nada." Se você é dono do seu próprio negócio e já incorporou essa frase ao repertório diário, cuide-se.
Muitos novos empresários imaginam que não ter patrão vai ser a saída para fugir da sobrecarga de trabalho, mas acabam encontrando justamente o contrário: viram "workaholics" (viciados em trabalho) e passam a negligenciar a vida pessoal, a família e a saúde.
A euforia da nova empreitada, somada à ausência de retorno financeiro (fator comum nos primeiros dois anos do negócio) e à falta de familiaridade com as tarefas a serem cumpridas, leva muitos empreendedores a "mergulhar" na rotina profissional, sacrificando outras esferas da vida. Mas é preciso ter limites.
"O negócio próprio é uma alternativa ao desemprego no mercado formal, mas não oferece a mesma segurança de um salário certo e benefícios. Ou seja, existe uma forte pressão para que tudo dê certo", comenta Odair Furtado, 51, professor de psicologia social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Gerenciamento
Jornadas superiores a dez horas diárias, finais de semana e feriados ocupados por atividades profissionais e pouca atenção aos horários das refeições e do sono são alguns dos hábitos facilmente incorporados pelos "workaholics" do negócio próprio.
"No momento inicial do empreendimento, é comum que os donos extrapolem seus limites. Mas a energia acaba", observa Guilherme Luiz de Oliveira Pereira, 51, consultor de gestão empresarial do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo).
Para evitar consequências desastrosas -que vão do comprometimento da saúde à falência do negócio, passando por problemas familiares-, o especialista explica que é essencial planejar melhor o uso do tempo de trabalho.
"Deve-se desenvolver a habilidade de identificar o que é importante, urgente ou mero desperdício de tempo", diz. "Dedicar as manhãs às tarefas que trazem resultados, como fechar pedidos ou se reunir com clientes, é outro padrão que implica melhoras imediatas no aproveitamento."
Os especialistas lembram que quem tem resistência a delegar tarefas enfrenta mais dificuldades por acumular sobrecargas. "Um bom empresário é aquele que dirige a empresa sem centralizar tudo. Assim sobra tempo para outras coisas, como acompanhar o desenvolvimento dos filhos", afirma Odair Furtado.
(TATIANA DINIZ)



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