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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003


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ATRÁS DO DINHEIRO

Pagamento do 13º agrava crise nas empresas; ferramentas de recapitalização devem ser combinadas

Fim de ano eleva procura por capital

Fernando Moraes/Folha Imagem
Giuliano Borlenghi, 29, está tentando conseguir capital do BNDES: "Com bancos comerciais você tem de dar o que tem e o que não tem como garantia", critica



BRUNO LIMA
PAULA LAGO

FREE-LANCE PARA A FOLHA
Num ano em que não foi possível contar com o aquecimento da economia para aumentar os lucros -situação agravada agora, com a necessidade de ter caixa para pagar 13º salário e férias de funcionários-, achar formas alternativas de atrair recursos virou a maior meta dos empreendedores.
Segundo estudo do Proced (Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento), da Fundação Instituto de Administração, que analisou a recuperação de 223 empresas de pequeno porte de todo o país, 73% delas já buscaram recapitalização em algum momento desde a sua fundação (veja o quadro ao lado).
"Em média, seis soluções foram utilizadas pelos dirigentes para sair da crise. Uma só medida nunca resolve", afirma o professor de administração e coordenador do Proced Adelino De Bortoli Neto.
"As soluções passavam pelos campos financeiro, comercial e administrativo. Nossos estudos mostram que 80% das pequenas empresas estão com esse tripé comprometido", completa.
Marcelo Safadi, diretor-financeiro da Eccelera (gestão de capital de desenvolvimento), lembra que há formas de capitalização adequadas para cada momento (veja relação de opções na pág. 3).
"O empreendedor ou vai contrair dívidas ou vai buscar participação societária. Sendo que, quanto mais certo o retorno, mais o empresário deve pender para o empréstimo", explica Safadi.

Endividado
Mas se as dívidas já estão se acumulando, fazer um novo empréstimo não é a melhor saída. "Esse empresário não deve ter caixa, e esse dinheiro e a ação dos juros só vão postergar o problema para o próximo ano, que também não tem boas perspectivas", analisa Carlos Pessoa Filho, gerente de serviços aos empreendedores do Instituto Empreender Endeavor.
Nessa situação, o mais indicado para o empreendedor é buscar o reequilíbrio financeiro e identificar onde está o problema.
"Ele não pode imobilizar dinheiro em estoque e deve tentar fechar contratos de longo prazo, que assegurem receita futura", exemplifica Pessoa Filho.
"Precisa também controlar o produto mais de perto e, só depois de ajustado o funcionamento interno do negócio, partir para soluções externas, como linhas de crédito de bancos", finaliza.
Saber o custo do empréstimo é determinante para decidir como atrair capital. "Se o banco se interessar pelo negócio e conceder o empréstimo, o empresário precisa saber se a renda obtida vai compensar o custo do dinheiro até o final da amortização", diz Marco Aurélio Militelli, consultor de estratégia empresarial.
Mesmo porque, com as altas taxas de juros e o elevado volume de exigências, conseguir recursos de bancos não é fácil. De acordo com dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dos cerca de 13 milhões de micro e pequenos empreendimentos (incluindo os negócios informais) existentes no país, somente 5% -650 mil- têm acesso aos bancos e ao sistema formal de crédito. O Brasil tem hoje cerca de 5,6 milhões de empresas em geral formalizadas.
Foi aos bancos que Henrique Mello, 59, diretor de operações da RSVP, agência de propaganda, recorreu tanto para investir na expansão do negócio como para obter recursos para bancar o 13º salário da equipe neste final de ano.
"Há seis meses não conseguíamos acesso a crédito nos bancos nem para comprar um computador. Lentamente a situação mudou, mas eles ainda nos devem linhas de crédito específicas para capital de giro", afirma Mello.
Já Ligia Fortti, 40, proprietária da clínica de estética e salão Horuss, optou por abrir franquias para expandir e, com isso, atrair capital. "Estamos selecionando os candidatos com muito cuidado. Traçamos um perfil e seremos rigorosos nisso, ou tudo o que planejamos pode se perder", diz.
"Quando abri a empresa, tive de vender carro para conseguir dinheiro, peguei empréstimos com bancos também. Mas era um outro cenário econômico, hoje não é uma solução viável", emenda.


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