São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007


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FRAUDE À VISTA

Ação de empresas golpistas cresceu 92% no ano passado

Prejuízos chegam a R$ 60 milhões; neste ano, volume de fraudes duplicou

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Jandy Gonçalves Filho, que diz ter sofrido quatro tentativas de golpe


CÁSSIO AOQUI
EDITOR-ASSISTENTE DE NEGÓCIOS

A julgar pelas estatísticas de algumas das maiores entidades que divulgam informações de proteção ao crédito -Serasa, Associação Comercial de São Paulo e Equifax-, não há dúvidas: 2006 foi o ano das fraudes.
Levantamento da Serasa -obtido com exclusividade pela Folha- demonstra que as perdas provocadas por empresas fraudadoras chegaram a R$ 60 milhões nesse período.
A entidade identificou um aumento de 92% nos casos de tentativas de golpe detectadas por seus sistemas antifraudes, em comparação com 2005.
Os números são sustentados pela ACSP (Associação Comercial de São Paulo), que concentra informações sobre transações na capital paulista: em 2006, os prejuízos ao mercado atingiram R$ 37 milhões.
E, neste ano, segundo a ACSP, os prejuízos atingiram, só no primeiro trimestre, o montante recorde de R$ 18 milhões, mais do que o dobro das perdas contabilizadas no mesmo período do ano passado.
Para a Equifax, o balanço não foi diferente. A instituição registrou, em 2006, aumento de 7% no número de companhias golpistas -foram 1.155 em 2006 contra 1.079 em 2005.
"Trata-se de quadrilhas organizadas, que aplicam o golpe com vários lojistas simultaneamente", descreve o diretor da Serasa Laércio de Oliveira.
"Adquirem firmas, fazem grandes compras e desaparecem sem pagar os débitos", acrescenta o economista da ACSP Marcel Solimeo.
"O empresário, no impulso de fechar um negócio, esquece as precauções", destaca o diretor da Equifax Paulo Macedo.
Em geral, o golpe acontece no B2B (business-to-business, expressão em inglês para transações entre empresas), notadamente nos comércios de confecções, de gêneros alimentícios e de material de construção, cujos produtos apresentam alta liquidez (leia ao lado).

Crime sem castigo
Foi no comando de um depósito de material para construção que o empresário Renato (nome fictício) passou por uma situação constrangedora: teve de fechar a loja, que pertencia a seu pai, depois de um golpe.
"Recebi um pedido grande de uma suposta gráfica, de cerca de R$ 20 mil. Acontece que o cheque era clonado", relata o empresário, que jamais conseguiu reaver a quantia perdida.
Na avaliação de especialistas, essa situação é vivenciada por inúmeras outras firmas por "apresentarem graves carências nos controles internos".
"Tais firmas tendem a ser negligentes em relação a seus controles", diz Marcelo Conti, diretor da empresa de auditoria RSM Boucinhas & Campos.
Mas há quem navegue contra a maré. A Atende Atacados (distribuidora de alimentos), por exemplo, criou uma área de crédito e cobrança a fim de diminuir sua vulnerabilidade a golpistas que atacam o setor.
Graças a investimentos como a contratação de serviços de alerta de entidades de proteção ao crédito, desde que o departamento foi criado, há um ano, nenhuma fraude foi sofrida.
"Houve, contudo, quatro tentativas de "araras" que adquiriram testas-de-ferro para tentar comprar financiado e depois desaparecer", ressalta o gerente Jandy Gonçalves Filho, 42.


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