STEPHEN COVEY

Não é fácil abrir um negócio em um país com frequentes crises econômicas como o Brasil. Mas os obstáculos devem alimentar o espírito guerreiro do empreendedor, fazendo de cada batalha uma lição. Essa é, ao menos, a opinião do americano Stephen Covey, 66, especialista em gestão empresarial e um dos chamados ""gurus da administração moderna". Em entrevista à Folha, ele recomenda cautela ao vislumbrar uma oportunidade: a má administração financeira ou a escolha de um sócio inadequado pode matar qualquer boa idéia. E adverte: não há espaço para mentes burocráticas no mundo do empreendedorismo. A seguir, os principais trechos.

Folha - Em um mundo globalizado, como uma crise na Argentina, por exemplo, pode afetar a constituição de um pequeno negócio no Brasil? Abrir uma empresa, hoje, pode ser uma boa idéia?
Stephen Covey - Hoje há chances que não existiam. Para uma mente burocrática, um problema é um grande obstáculo. Para uma mente empreendedora, é uma oportunidade, uma necessidade a ser atendida.

Folha - Qual a vantagem de se criar um pequeno negócio em um ambiente de crise, em vez de procurar um emprego em uma grande companhia? O que motiva as pessoas, hoje, a abrir uma empresa?
Covey - Independência e liberdade atraem pessoas criativas, que não pensam como burocratas, que não se preocupam com regras. A aventura do risco é a chance de ganhar muito dinheiro.

Folha - Você aconselharia alguém infeliz em um emprego a começar um negócio próprio? Em que condições?
Covey - Se os olhos estão abertos, se pesquisou, se tem um bom parceiro, se quiser lidar com risco e trabalhar duro. Se achar que um fracasso é um aprendizado, se um problema pode ser uma oportunidade. Burocratas não devem abrir uma empresa, é melhor que trabalhem para uma companhia. Não conseguem lidar com ambiguidade, com mudanças o tempo todo. Para ser empreendedor, tem de ser feliz em situações desse tipo.

Folha - Ao abrir uma empresa, é preciso trabalhar mais que como empregado?
Covey - Sim, é verdade, e é por isso que muitas pessoas não são empreendedoras.

Folha - Por que os empreendedores falham?
Covey - São duas as principais razões. Primeiro, não compõem uma equipe adequada: tentam clonar seus parceiros, ou seja, procuram neles pessoas à sua própria imagem e semelhança. É um erro. Segundo: má administração do fluxo de caixa. São consumidos pela excitação, pela visão inicial do negócio, pelo excelente produto que imaginam ter. Muitas vezes, não contam com um bom administrador financeiro e, se o têm, não lhe dão ouvidos.

Folha - Quais são os passos mais impor- tantes para conduzir um negócio com sucesso?
Covey - Você tem de estar preparado para pagar o preço de um trabalho duro, de pensar sempre criativamente, de montar um time, de não se deixar seduzir pela excitação, pelo deslumbramento.

Folha - Qual a diferença de abrir uma empresa nos Estados Unidos ou em países considerados em desenvolvimento, como o Brasil?
Covey - O empreendedor pode se desencorajar ao se deparar com problemas. As oportunidades são muitas, mas os problemas também.

Folha - É mais difícil abrir um pequeno negócio no Brasil que nos Estados Unidos?
Covey - Sim. Falo do governo e da maturidade do mercado. Você não sabe se pode confiar nas regras da lei.

Folha - O apoio da família é importante?
Covey - Claro, porque o empreendedor não tem horários regulares. Nos Estados Unidos, cerca de 90% dos negócios criados vão à falência em dois anos.

Folha - Mas o verdadeiro empreendedor nunca desiste, certo? Ele quebra a cara uma vez e tenta de novo.
Covey - Certo. Para ele, um fracasso é uma experiência de aprendizado para o esforço seguinte.

Folha - Um pequeno negócio precisa de líderes ou de bons administradores?
Covey - Os dois são necessários, não funcionam separadamente. Administração significa controle. Liderança pressupõe fazer as pessoas expressarem seu melhor talento.

Folha - O que o senhor recomenda para um empreendedor que não tem capital suficiente para montar um time?
Covey - Seja cuidadoso e tente encontrar um sócio que ajude a financiar o negócio. Entre com as idéias e com a força de trabalho; o sócio, com o dinheiro.


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