São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002


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Vocação empresarial e chances de negócios podem surgir durante viagem

Qualidade de vida é motivo de mudança

Cristiana Castello Branco/Folha Imagem
Rosa e Sérgio Cesarino vão se mudar com a família de São Paulo para abrir consultoria em Curitiba


FLÁVIA MARREIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Começa assim: a família viaja de férias, passa dez dias fora da rotina e decide que quer os outros 355 dias do ano iguaizinhos. Mudam-se, então, de mala e cuia e montam um negócio na cidade.
Antes de ganhar dinheiro, quem aposta num projeto como esse, na maioria dos casos, busca qualidade de vida. É o que dizem os forasteiros que instalaram suas empresas em outras cidades e consultores ouvidos pela Folha.
O fenômeno ainda não tem números sólidos, mas alguns indicativos podem ser apresentados. Segundo Marcos Brasil, articulador do Balcão Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em Fortaleza (CE), na alta estação são atendidos, por dia, de 35 a 40 turistas interessados em montar negócio no Ceará. "Qualidade de vida é do que eles mais falam, querem fugir da violência."
A principal área de interesse são negócios ligados ao turismo. "Eles têm essa percepção, mas a gente orienta para que percebam outras oportunidades da cidade."

"Estrangeiros"
O presidente da Associação de Restaurantes, Bares e Entretenimento de Fortaleza (Abrasel-CE), Erisvaldo Melo Lima, prepara um censo para, entre outros aspectos, saber quantos "de fora" montaram negócios na área no Estado. "Essa presença é boa. Muitos vêm com mais conhecimentos, contribuem para o setor", afirma.
A recepção, no entanto, nem sempre é tão calorosa. Além das dificuldades de qualquer negócio, quem encara montá-lo em outra cidade deve saber que pode haver resistência ao novo empreendimento. Culturais, inclusive.
Em Florianópolis (SC), onde, de janeiro para cá, 288 paulistas, entre empresas e pessoas, procuraram o SIA (Sistema Integrado de Atendimento) do Sebrae-SC para obter informações sobre a abertura de empresas, Telma Simon, 38, consultora de atendimento, diz perceber certa resistência dos ilhéus (habitantes da cidade) aos novos moradores. "Quem é daqui acha que os de fora vão mudar a cidade, descaracterizar a ilha."
Já Eliziana Vieira, 38, moradora local e dona de uma franquia da Casa do Pão de Queijo, não reclama de receber diariamente visitas de turistas buscando saber informações sobre o mercado. "Quero mais é que eles venham e façam a ilha crescer", afirma Vieira.

Preparando terreno
Mesmo que ganhar dinheiro não seja o principal motivador, montar um negócio sem sustentação pode transformar a vida na cidade nova em um inferno.
Não foi o caso do casal de sócios paulistanos Élcio Nagano, 39, e Míriam Kina, que montaram em Fortaleza o restaurante japonês Kingyo, um dos mais procurados do gênero na capital do Ceará.
Kina tinha um restaurante por quilo, e ele era engenheiro de uma empresa na capital paulista. Venderam apartamento e carro e foram para Fortaleza seis anos depois de conhecer a cidade como turistas. "Queríamos montar o restaurante dos sonhos na cidade dos sonhos", relata Nagano.
Após a primeira viagem, passaram a acompanhar notícias sobre o mercado local. "Nós planejamos tudo para a mudança." Pesaram na decisão os filhos pequenos e o cansaço da vida em São Paulo.
Nagano não diz o valor investido, mas conta que passou o primeiro ano do restaurante pagando as dívidas contraídas. Agora os negócios estão equilibrados e ele não tem desvantagens a apontar. "Era isso o que a gente queria."


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