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SOCIEDADE LIMITADA
Só 30% das empresas familiares chegam à 2ª geração
Parentes são obstáculo à parte na firma
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se a convivência harmoniosa
com um sócio já é, muitas vezes,
bem difícil, imagine a situação em
que se é obrigado a tolerar diariamente, além de seu parceiro habitual, um parente dele.
Foi essa a história vivenciada
pelo engenheiro eletricista Miguel
Neto. Ao se aposentar, procurou
um ex-colega de trabalho e propôs sociedade em sua empresa
de projetos e instalações elétricas.
"O negócio foi bem durante dois
anos, até o que o filho dele formou-se e começou a insistir para
entrar na sociedade", conta Neto.
Como a firma existia antes de o
engenheiro entrar como sócio,
não teve o que argumentar.
"A família do meu sócio já trabalhava na empresa e não havia
muito espaço para diálogo", afirma Neto, que desfez a parceria.
Embora sócio e parente não pareçam uma boa combinação, essa
é a realidade de grande parte das
firmas brasileiras, segundo Marco
Aurélio Bedê, do Sebrae-SP.
"Podemos considerar que quase a
totalidade das empresas do país é
de controle familiar", diz.
De acordo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), 90% dos
quatro milhões de empreendimentos no Brasil são familiares.
De cada 100 empresas familiares,
apenas 30 chegam à segunda geração da família dos fundadores.
Para Bedê, a maior dificuldade
nesse tipo de empreendimento é
separar o pessoal do profissional.
"O ambiente familiar leva a um
certo relaxamento e isso interfere
nos resultados do negócio. É preciso ficar atento e se autocorrigir."
Na opinião de Domingos Ricca,
consultor especializado em sucessão familiar, o principal problema
é a incapacidade dos herdeiros
para assumir a gestão do negócio
ou ainda para profissionalizá-la.
"Isso sem contar as desavenças
e brigas pelo poder entre os sócios
membros da família", acrescenta.
Já para o diretor-presidente da
RCS Consultores, Raul Corrêa da
Silva, os riscos começam quando
os gestores atingem a faixa dos
55 anos e começam a colocar os
filhos na direção da empresa.
"[Os filhos] podem ser sócios
com profissionalismo, desde que
tenham vocação de verdade", diz.
Mudança forçada
A competitividade fez com que
Priscilla Mello, uma das herdeiras
da Calçados Samello, instituísse o
processo de profissionalização
com a contratação de um CEO
para tocar o negócio. "O fundamental é a atitude que a família
assume diante da gestão", conta a
empresária, que, de quebra, criou
a Mello Associados, consultoria
especializada em sucessão.
No caso do comerciante P.A.,
47, dono de cinco lojas, foram as
desavenças familiares que quase
acabaram com o negócio. "Meu
pai comandava todas as lojas. Foi
difícil mostrar para meus irmãos
que perderíamos força se dividíssemos a herança", explica.
Luiz Kignel, consultor especialista no assunto, esclarece que os
problemas de sucessão não estão
relacionados ao porte da firma.
"A dificuldade é a complexidade
da família. Nossa ajuda tem que
ser mais psicológica do que jurídica", conta. "Numa empresa normal, a parceria é feita pelo capital
ou por afinidade técnica; já numa
família, ela é imposta. Relações familiares não são profissionais."
Para Kignel, é importante se
prevenir e organizar o patrimônio
para que ele tenha vida longa.
"O dono da empresa precisa ver
se os filhos querem e podem estar
juntos, como sócios. Tudo isso
deve constar do planejamento."
(LEONARDO CALVANO)
Com Francine De Lorenzo
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