São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005


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PIRATAS DO BRASIL

Concorrência com os falsificados leva à tática da redução no valor da etiqueta

Empresas apelam para preço menor

DA REPORTAGEM LOCAL

Bolsas de grife, tênis importados, cigarros, CDs, programas de computador. A lista de produtos falsificados não pára de crescer. Restrita, a princípio, apenas à cópia de itens fabricados por multinacionais e grandes indústrias brasileiras, a pirataria ampliou consideravelmente seus limites: hoje, não são poucas as pequenas e médias firmas que têm seus produtos concorrendo lado a lado com similares -muitas vezes, reproduções tão idênticas que chegam a confundir o consumidor.
Algumas companhias não resistem e são engolidas pela força de mercado dessas imitações, que, apesar da baixa qualidade, são mais baratas e circulam nos pontos-de-venda informais do país. Outras recorrem à Justiça, em processos que podem levar dez anos até que o dono do original receba indenização.
Há, ainda, as que criam táticas de marketing para competir de igual para igual nessa guerra de contrabando e falsificação. É o caso da Copag. Em 1999, com a entrada de produtos ilegais -falsificações e itens subfaturados de outros países-, a fábrica de baralhos perdeu cerca de 15% do mercado em apenas três meses.
Recorreu ao sistema de busca e apreensão, contratou advogados, mas não conseguiu retomar o patamar de vendas pré-crise. "Inibimos a ação dos distribuidores, mas não a coibimos", lembra Robson Tatimoto, 32, diretor operacional da empresa.
Em 2002, a firma partiu para o contra-ataque. "As cópias eram idênticas. Os consumidores não conseguiam perceber a diferença e compravam o falsificado por ser mais barato", explica Tatimoto. A solução, segundo o executivo, foi tratá-lo como concorrente.
Adicionou, então, alguns itens de segurança à embalagem: selo holográfico, aviso de autenticidade em cores chamativas e fitilho metalizado. Acrescentou também uma carta-garantia, que permite ao usuário trocar a peça em caso de defeito de fabricação.
"Começamos a receber centenas de reclamações por semana. Os imitadores copiaram até a garantia", comenta Tatimoto. Em vez de apenas informar que se tratava de exemplares falsificados, a empresa passou a enviar um baralho legítimo como parte do programa de fidelização da clientela.
Criou também um produto popular, que custa R$ 1, comercializado por ambulantes (o mais vendido sai por R$ 10). Agora que conseguiu recuperar terreno, conta o executivo, a fábrica planeja expandir as exportações.
"A redução de preços é uma estratégia que tem sido adotada para conter a ação de falsificadores", indica o secretário-executivo do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, ligado ao Ministério da Justiça, Márcio de Menezes e Gonçalves.

No gosto do povo
Empresas de todos os tipos já descobriram que confeccionar itens mais baratos pode restringir a ação dos falsificadores e proporcionar a fidelização dos clientes. Exemplo disso é a iniciativa do Clube Atlético Paranaense. O time de futebol elaborou versões populares da camisa oficial. Conhecidas como "vintão" e "trintão", em referência aos preços, são alternativas ao exemplar de R$ 120 e às falsificações.
A Corel lançou um programa de combate à pirataria e um de seus primeiros passos foi baixar o valor de um dos softwares mais vendidos, de R$ 1.200 para R$ 499. "Fizemos uma pesquisa com os usuários do programa e verificamos que boa parte comprava o [exemplar] pirata por causa do preço", afirma o gerente-geral da Corel do Brasil, Pedro Fontes.
O empresário Márcio Dias, dono de uma copiadora, comemora a iniciativa. Comprou quatro licenças de uso do programa de computador. "Tinha apenas duas [licenças]. A redução do preço fez com que ampliássemos as atividades", declara Dias. (RB)


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