|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PIRATAS DO BRASIL
Concorrência com os falsificados leva à tática da redução no valor da etiqueta
Empresas apelam para preço menor
DA REPORTAGEM LOCAL
Bolsas de grife, tênis importados, cigarros, CDs, programas de
computador. A lista de produtos
falsificados não pára de crescer.
Restrita, a princípio, apenas à cópia de itens fabricados por multinacionais e grandes indústrias
brasileiras, a pirataria ampliou
consideravelmente seus limites:
hoje, não são poucas as pequenas
e médias firmas que têm seus produtos concorrendo lado a lado
com similares -muitas vezes, reproduções tão idênticas que chegam a confundir o consumidor.
Algumas companhias não resistem e são engolidas pela força de
mercado dessas imitações, que,
apesar da baixa qualidade, são
mais baratas e circulam nos pontos-de-venda informais do país.
Outras recorrem à Justiça, em
processos que podem levar dez
anos até que o dono do original
receba indenização.
Há, ainda, as que criam táticas
de marketing para competir de
igual para igual nessa guerra de
contrabando e falsificação. É o caso da Copag. Em 1999, com a entrada de produtos ilegais -falsificações e itens subfaturados de outros países-, a fábrica de baralhos perdeu cerca de 15% do mercado em apenas três meses.
Recorreu ao sistema de busca e
apreensão, contratou advogados,
mas não conseguiu retomar o patamar de vendas pré-crise. "Inibimos a ação dos distribuidores,
mas não a coibimos", lembra
Robson Tatimoto, 32, diretor
operacional da empresa.
Em 2002, a firma partiu para o
contra-ataque. "As cópias eram
idênticas. Os consumidores não
conseguiam perceber a diferença
e compravam o falsificado por ser
mais barato", explica Tatimoto.
A solução, segundo o executivo,
foi tratá-lo como concorrente.
Adicionou, então, alguns itens
de segurança à embalagem: selo
holográfico, aviso de autenticidade em cores chamativas e fitilho
metalizado. Acrescentou também
uma carta-garantia, que permite
ao usuário trocar a peça em caso
de defeito de fabricação.
"Começamos a receber centenas de reclamações por semana.
Os imitadores copiaram até a garantia", comenta Tatimoto. Em
vez de apenas informar que se tratava de exemplares falsificados, a
empresa passou a enviar um baralho legítimo como parte do programa de fidelização da clientela.
Criou também um produto popular, que custa R$ 1, comercializado por ambulantes (o mais vendido sai por R$ 10). Agora que
conseguiu recuperar terreno,
conta o executivo, a fábrica planeja expandir as exportações.
"A redução de preços é uma estratégia que tem sido adotada para conter a ação de falsificadores",
indica o secretário-executivo do
Conselho Nacional de Combate à
Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, ligado ao
Ministério da Justiça, Márcio de
Menezes e Gonçalves.
No gosto do povo
Empresas de todos os tipos já
descobriram que confeccionar
itens mais baratos pode restringir
a ação dos falsificadores e proporcionar a fidelização dos clientes.
Exemplo disso é a iniciativa do
Clube Atlético Paranaense. O time de futebol elaborou versões
populares da camisa oficial. Conhecidas como "vintão" e "trintão", em referência aos preços,
são alternativas ao exemplar de
R$ 120 e às falsificações.
A Corel lançou um programa de
combate à pirataria e um de seus
primeiros passos foi baixar o valor de um dos softwares mais vendidos, de R$ 1.200 para R$ 499.
"Fizemos uma pesquisa com os
usuários do programa e verificamos que boa parte comprava o
[exemplar] pirata por causa do
preço", afirma o gerente-geral da
Corel do Brasil, Pedro Fontes.
O empresário Márcio Dias, dono de uma copiadora, comemora
a iniciativa. Comprou quatro licenças de uso do programa de
computador. "Tinha apenas duas
[licenças]. A redução do preço fez
com que ampliássemos as atividades", declara Dias.
(RB)
Texto Anterior: Preço determina preferência por falsa mercadoria Próximo Texto: Situação oferece oportunidades Índice
|