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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003


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SELEÇÃO DE FRANQUIAS

Dinâmica de grupo, análise de currículo e testes psicológicos reprovam quem não tem perfil ideal

Franquia recruta com técnica de RH

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O franchising foi buscar inspiração nas seleções de emprego e adotou técnicas típicas de recursos humanos para escolher franqueados. Análise de currículo, entrevista, teste psicológico e até dinâmica de grupo fazem agora parte dos processo seletivos.
Mesmo sobrevivendo a todas essas etapas, o candidato ainda corre o risco de participar do treinamento de franqueados e, no final, ser eliminado. "É mais difícil do que vestibular", diz o consultor André Giglio, da Francap, que revela já ter usado testes de desenhos e até grafologia em seleções.
Nas franquias de vestuário Hering Store e PUC, a seleção dura de três a quatro meses e inclui curso dado pela ABF (Associação Brasileira de Franchising). Já no restaurante Café Cancún, quem não tem curso superior é eliminado na primeira fase do processo.
Para ser aprovado pela Shell, o interessado em abrir um posto de gasolina precisa enfrentar uma "entrevista cruzada". Em uma dinâmica de grupo, cada um assume o papel da empresa e faz perguntas a outros candidatos. A idéia é a de que, ao perguntar, cada um revela muito de si.
De acordo com franqueadores e consultores especializados, aumentou a oferta de interessados em franquias, mas está mais difícil vender, já que é grande o número de candidatos sem capital e sem perfil para o negócio. A dificuldade estaria em expandir de maneira responsável, com parceiros bem escolhidos. O movimento, aliado à intenção de profissionalizar a escolha, explicaria os recrutamentos mais rigorosos.
A doceria Amor aos Pedaços, por exemplo, que diz receber 15 cadastros de interessados por dia, abriu em 2003 somente duas unidades franqueadas. "Está mais difícil fechar negócios", declara a gerente de expansão da empresa, Ana Cristina Centrone. Segundo ela, na rede, a seleção dura de dois a três meses, e a gerente de RH participa sempre da decisão final.
Dados da consultoria Rizzo Franchise mostram que de cada 800 interessados apenas 1 está dentro do perfil desejado. "Aumentando o universo de recrutados, melhora-se a qualidade da seleção. É puro RH", diz o consultor Marcus Rizzo. A internet seria a principal fonte de cadastros.

Perfil
Entre as características mais valorizadas pelas redes, está a disponibilidade para cuidar do negócio. A ex-gerente de treinamento de informática Eliane Falcade Consorte, 42, por exemplo, descobriu há dois meses -bem no meio de um longo processo de seleção- que estava grávida do segundo filho. Foi orientada pelos selecionadores a desistir.
"Eu estava na fase de fazer contatos com franqueados. Já tinha feito quatro reuniões, assistido a palestras e preenchido fichas", diz. A promessa é a de retomar a seleção após o parto. "Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo."
Já Lucia Pimentel, 50, designer de interiores, vendeu há dez dias a franquia de lavanderia adquirida há um ano e meio. Diz que não teve prejuízos, mas que a experiência foi suficiente para descobrir que seu "negócio" não é ser franqueada. "Não tenho reclamações do franqueador, mas acho que não tenho o perfil. Gosto de criar e de fazer minhas coisas. Ter uma franquia é como ter um patrão."
Para ela, a seleção poderia ter identificado essas características, mas, caso fosse reprovada, provavelmente procuraria outra franquia. "Cismei que tinha de ser uma franquia. Quando ponho algo na cabeça, não tem jeito."
Em geral, as redes usam os testes e as dinâmicas inclusive para eliminar candidatos "muito" empreendedores: seriam pessoas mais resistentes a seguir padrões.



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