São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004


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Modelos combinam produção e preservação de recursos naturais e eliminam relação hierárquica

Gestão é ambientalmente engajada

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto nas empresas tradicionais expressões como "responsabilidade ambiental" e "auto-sustentabilidade" só se popularizaram nos últimos anos, as comunidades indígenas possuem uma orientação inata para tais questões, dizem os especialistas.
Por essa razão, o modelo de gestão dos empreendimentos nascidos nesses cenários podem ser considerado arrojados. "Eles vão ensinar aos brancos", diz a pesquisadora Carmen Junqueira.
"Nas aldeias, produção e preservação andam juntas", completa Paulo Spyer, coordenador de PDA (Projetos Demonstrativos) do Ministério do Meio Ambiente.
Os recursos do PDA, direcionados ao apoio a iniciativas que visam a geração de renda comunitária, têm sido cada vez mais solicitados pelas associações indígenas para o financiamento de seus projetos. "A demanda aumentou muito", diz Spyer.
Tanto que um novo programa, já aprovado pelo governo federal, será lançado neste ano pelo ministério. Financiado com recursos repassados pelo Fome Zero, o Programa de Gestão Ambiental em Terras Indígenas terá como um dos focos o fomento às iniciativas de geração de renda com ênfase em gestão ambiental.

Mata renovada
"Os animais estão voltando. Agora a gente vê tucano, vê pássaros que não via há muito tempo", descreve Vando dos Santos Karai, coordenador do Projeto Jejy, que mantém canteiros de palmeiras no litoral de São Paulo.
Nas aldeias cricatis do sul do Maranhão, as mudas de abacaxi, açaí e maracujá também trouxeram mais que retorno financeiro. "As frutas atraem os bichos, e a mata está se recompondo", revela o chefe do posto local da Funai, Lourenço Milhomem.
Além do comprometimento com a preservação da natureza, a maneira de gerir os recursos humanos adotada pelos índios também é de dar inveja a muitas "organizações brancas".
E, se no mundo caraíba primeiro emprego é tema polêmico, no "negócio de índio" sempre cabe aos jovens o "posto" de multiplicador do saber. São eles os designados às capacitações técnicas e à retransmissão do que foi aprendido ao restante da comunidade.
"Outro ponto é não existir separação de patrões e empregados", diz Junqueira. "Aqui, trabalho significa ganho para todos", completa Karai.


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