São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004


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LIÇÃO DE CASA

Apesar de serem "dissidentes", jovens citam empreendedorismo como maior herança

Filhos de "gigantes" saem pela tangente

DA REPORTAGEM LOCAL

Após décadas de trabalho árduo, os pais, finalmente, viram-se diante de uma empresa sólida, capaz de proporcionar um futuro tranqüilo aos filhos e aos netos. A seqüência óbvia seria que a história acabasse com os herdeiros assumindo o império consolidado. Mas o "script" nem sempre é esse.
Dono da agência de publicidade Emigê, André Marchesin Gonçalves, 33, traz na memória os saltos que dava, quando criança, sobre sacas de café empilhadas num grande galpão.
O cenário era a antiga fábrica do Café do Ponto, erguida por seu avô Alexandre Gonçalves, 86. Imigrante português, o patriarca começou o negócio vendendo grãos de café torrado na feira.
"Meu avô sempre foi cauteloso com a participação de familiares na empresa. Quando meu pai decidiu entrar no Café do Ponto, teve de comprar sua parte e virar sócio", conta o publicitário.
Foi o pai dele, Luiz Roberto Gonçalves, 60, quem consolidou a marca e construiu a atual fábrica em Barueri (32 km a oeste de São Paulo). Depois da venda da empresa para a multinacional Sara Lee, em 1999, continuou à frente das operações até se aposentar.
Como as portas da empresa jamais estiveram "escancaradas" aos parentes, André estudou publicidade e estagiou em agências. Há oito anos, ele e a irmã pegaram seus computadores pessoais e levaram para uma sala num sobrado do avô. Era o início da Emigê.
"Não usei o dinheiro do meu pai, mas aproveitei amizades e contatos dele para captar clientes. E a maior herança foi o apoio que sempre tivemos para tentar. Minha cultura empreendedora foi adquirida em casa", reconhece.

Pura coincidência
Flávia Goldfarb, 28, proprietária da butique FG, define como "coincidência" o fato de ser filha de Márcio Goldfarb, o homem que criou a rede de lojas Marisa. "Se meu pai fosse dentista, eu seria estilista do mesmo jeito", diz.
Flávia nunca trabalhou na firma paterna. Nem para praticar o que aprendeu no curso de administração da FGV-Eaesp. Preferiu estudar moda em Nova York e fazer estágio na grife DKNY, da badalada estilista Donna Karan. "Ninguém sabia de quem eu era filha."
De volta ao Brasil, lançou, em 2002, a FG, cuja proposta difere radicalmente da fórmula da Marisa. "Tudo é personalizado. Fabrico poucas peças de cada modelo, conheço os clientes pessoalmente e entrego em casa. Sou centralizadora, gosto que tudo passe por mim. Seria impossível [agir assim] na Marisa, que é gigantesca."
Apesar da pouca identificação com a rede, a empresária se diz uma "filha coruja". "Meu pai é o máximo, um gênio", ressalta.
O pai também não poupa elogios à filha. "A formação dela, aliada a qualidades como criatividade, bom senso e perseverança, garante seu sucesso."

Garoto precoce
Guilherme Pierotti, 25, também nunca trabalhou nos negócios do pai -o empresário Francisco Pierotti, que foi dono do banco Fator e hoje tem shopping centers no Rio de Janeiro. Pelo contrário: sempre acalentou o sonho de emplacar uma iniciativa própria.
Aos 19 anos, lançou o site Bondfaro, que garimpa preços para compras virtuais, e conseguiu sobreviver à crise que varreu do mapa boa parte das "pontocom". A proposta, segundo conta, se tornou lucrativa em 18 meses.


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