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Um mito do jazz de cara nova

Por LARRY ROHTER

Em sua carreira musical o saxofonista de jazz David Murray sempre foi onívoro, fato que ajuda a explicar porque, depois de tocar em mais de 150 álbuns, ele finalmente voltou sua atenção ao repertório de Nat King Cole.

Mas o gosto de Murray pode ser excêntrico, razão pela qual seu projeto mais recente foca uma fase relativamente obscura da carreira de Cole: dois álbuns que o cantor e pianista gravou em espanhol, em 1958 e 1962.

O resultado disso é o novo CD "David Murray Cuban Ensemble Plays Nat King Cole en Español", em que Murray, 56 anos, reuniu um grupo de músicos cubanos jovens para tocar suas versões retrabalhadas de sucessos antigos e muito batidos como "Quizás, Quizás" e "Cachito".

Murray, que é negro, disse que as razões que o levaram a empreender o projeto foram pessoais e musicais.

O fato de ter visto uma foto de Nat King Cole na parede do estúdio Egrem quando esteve em Havana, há alguns anos, reacendeu suas memórias de ver Cole na televisão quando ainda era criança.

"Meus pais eram pessoas muito religiosas e não gostavam especialmente de nada que fosse jazz", ele contou. "Mas gostavam de Nat King Cole, porque ele era um exemplo positivo para os negros."

Murray nasceu e foi criado em Oakland, Califórnia, mas hoje divide seu tempo entre França e Portugal. Ele disse que também quis ajudar sua mulher, Valerie Malot, e os filhos deles a explorarem seu legado cultural.

Malot, que é também a empresária e co-produtora de Murray, tem ascendência francesa, espanhola e cubana, e o CD é dedicado à mãe dela, Maria Olga Duque Torres.

"Já fizemos muitas coisas em que eu fui tentar buscar minhas raízes na África", falou Murray. "Mas temos dois filhos. Talvez ela também esteja procurando por suas próprias raízes."

Os dois álbuns de Nat King Cole em que o projeto é baseado foram gravados em Havana e, depois de Fidel Castro tomar o poder, em 1959, em Los Angeles e na Cidade do México, baseados em um repertório de músicas principalmente cubanas e mexicanas.

Em uma de suas primeiras viagens a Cuba, Murray conheceu o saxofonista Román Filiu O'Reilly, hoje com 39 anos, que rapidamente concluiu que "estávamos bebendo do mesmo poço".

Assim, quando Murray decidiu seguir adiante com o projeto de Nat King Cole, o saxofone foi oferecido a Filiu.

"O jeito de tocar de David é solto, livre e sempre surpreendente, mas ele não perde a essência da música cubana. Mesmo que possa soar dissonante às vezes, tem sua beleza", disse Filiu.

Murray, que no início de sua carreira tocou em bandas de R&B da região de San Francisco, também possui um lado pop que vem à tona de vez em quando. Mais recentemente, vem trabalhando com a cantora neo-soul Macy Gray.

"Ele é um músico muito rematado que sabe tudo o que há para se saber sobre arranjos", disse Gray. "Além disso, é uma dessas pessoas que parece viver e respirar música."

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